Como funcionava a KGB?

Kira Lissitskaía (Foto: Moussa81, THEPALMER/Getty Images)
Desde sua criação e até o fim da União Soviética, a KGB foi uma força proeminente na política e na sociedade soviética. Suas operações secretas de inteligência e sabotagens em solo estrangeiro consolidaram o status de superpotência da União Soviética, mas sua atitude implacável, muitas vezes injusta, em relação aos dissidentes soviéticos manchou severamente a reputação do órgão dentro da URSS.

"Espada e escudo"

A história da KGB, (Komitêt Gosudárstvennoi Bezopásnosti; em português, Comitê da Segurança do Estado) se iniciou, sob essa sigla, em 1954, quando o líder da União Soviética à época, Nikita Khruschov, instaurou o órgão para substituir o NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos) de Ióssif Stálin, ferramenta essencial do bigodudo ditador para consolidar o poder e realizar os famigerados expurgos da URSS.

Buscando livrar-se dessa má fama, Khruschov constituiu a KGB para que ela servisse à liderança política soviética — apesar ser formalmente subordinada ao Conselho de Ministros, governo da URSS, menos poderoso que o Comitê Central do Partido Comunista (PCUS).

O principal objetivo da KGB proclamado oficialmente era “proteger o país socialista da invasão de inimigos externos e internos e proteger a fronteira estatal da URSS”.

Nikita Khruschov em 1952, um ano antes da morte de Stálin.

Na prática, porém, o comitê se tornou a “espada e o escudo” do PCUS e, na prática, dos mais altos funcionários da URSS. Seu objetivo real era a proteção do PCUS, garantir a estabilidade do sistema político da URSS, suprimir a oposição política e os dissidentes, coletar informações, supervisionar as atividades de contrainteligência e realizar operações clandestinas no exterior — algo bem similar ao órgão que a precedeu.

Direções e filiais

A KGB era composta por dez diretorias principais, cinco filiais especiais e diversos departamentos administrativos.

Cada uma das diretorias tinha sua própria especialidade. Várias delas administravam questões de segurança aparentemente não relacionadas entre si, mas que, juntas, formavam uma abordagem abrangente da segurança dentro e fora da URSS.

Estátua de Félix Dzerjínski em frente à KGB. Dzerjínski foi fundador da Tcheká e do OGPU, órgãos que foram sucedidos pelo NKVD e, posteriormente, pela KGB.

Por exemplo, a sétima diretoria principal era encarregada da vigilância. Agentes desse departamento seguiam diplomatas estrangeiros, simples turistas e altos funcionários estrangeiros na União Soviética. Resumindo, a sétima diretoria era os olhos e ouvidos da KGB dentro da URSS.

A KGB era conhecida por seus métodos altamente criativos para espionar os funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Moscou. Por exemplo, certa vez, os agentes soviéticos modificaram as máquinas de escrever usadas pelos funcionários da embaixada.

A Embaixada dos EUA em Moscou (acima) construída cheia de grampos. Abaixo, um dos mais de 40 microfones secretos encontrados no prédio.

“Dentro das máquinas de escrever havia uma peça de alumínio, os soviéticos desmontaram as máquinas de escrever e substituíram essa peça por outra, recheada de equipamento eletrônico que armazenava em um buffer todas as teclas pressionadas", contou Jim Gosler, ex-diretor do escritório de tecnologia da informação da CIA.

Na verdade, todo o edifício da embaixada dos EUA na capital soviética estava cheio de dispositivos de escuta secretos.

Uma réplica do guarda-chuva usado para matar o dissidente búlgaro Gueorgi Markov em exibição no Museu Internacional de Espionagem em Washington, DC.

Quando os russos construíram uma nova embaixada dos EUA em Moscou no final da década de 1970, a KGB encheu o prédio de grampos ainda na fase de construção.

“A única maneira de tornar esse prédio seguro era cortar os três andares superiores e reconstruí-los usando só mão-de-obra e materiais dos Estados Unidos”, explicou Ray Parrack, ex-chefe de tecnologia da CIA.

Outras diretorias serviam para supervisionar a contra-inteligência (segunda diretoria principal), o trabalho de criptografia e descriptografia (oitava diretoria principal), a segurança dos líderes do partido (nona diretoria principal) e a estabilidade política (quarta diretoria principal).

Documentos de identificação usados pelo espião John Anthony Walker, incluindo carteira de motorista, passaporte americano e identidade militar.

Na vanguarda da Guerra Fria contra o Ocidente estava a primeira diretoria principal, famosa por redes de espionagem e operações clandestinas de alto risco no exterior.

Na linha de frente

O primeiro diretor da CIA, Allen Dulles, descreveu a KGB como “algo além de uma organização de polícia secreta, além de uma organização de inteligência e contrainteligência. É um instrumento de subversão, manipulação e violência, de intervenção secreta nos assuntos de outros países.”

Os agentes da KGB realmente realizaram inúmeras operações no exterior que afetaram o curso da Guerra Fria. Por exemplo, o agente da KGB Bohdan Stashynsky é conhecido por matar dois nacionalistas ucranianos antissoviéticos escondidos na Alemanha Ocidental. Eles usaram uma arma pulverizadora de veneno que não deixou sinais de morte forçada nas vítimas.

Estátua de Félix Dzerjínski, fundador da Tcheká e do OGPU, órgãos que foram sucedidos pelo NKVD e, posteriormente, pela KGB.

Segundo diversas fontes, a KGB ajudou a polícia secreta búlgara a assassinar o escritor dissidente Geórgui Markov, que fugiu da Bulgária em 1978. Para tanto, eles usaram uma arma cheia de veneno disfarçada de guarda-chuva.

A KGB também esteve envolvida em operações de grande escala no exterior, incluindo, por exemplo, a operação secreta para organizar um ataque ao bem protegido Palácio Tajbeg, em Cabul, e matar o líder afegão Hafizullah Amin.

No auge da Guerra Fria, a KGB administrava redes de espionagem e de informantes nos quatro cantos do mundo. A KGB operava ativamente nos Estados Unidos, onde recrutava oficiais militares e agentes de inteligência. É impossível determinar o número certo de agentes estrangeiros da KGB, mas, segundo historiadores, durante a Guerra Fria a KGB teve mais de um milhão de informantes.

A era da KGB terminou com o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, em 1991. O órgão que protegeu os interesses do Partido Comunista por 37 anos foi dissolvido e substituído pelo FSB (Serviço Federal de Segurança), que, assim como a KGB com o NKVD, herdou muitas das funções de sua agência predecessora.

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