Oficialmente, o primeiro dia da semana no Brasil, EUA, Canadá, Japão, Israel e vários outros países é domingo, e não segunda-feira. Costumava ser assim na Rússia e no Império Russo – uma ideia baseada na Bíblia –, mas mudou ao longo do tempo.
No livro “Gênesis” do Antigo Testamento, a descrição de como o mundo se formou lista os sucessivos dias da criação, do primeiro ao sexto. São justamente esses nomes (dia um, dia dois, etc.) usados em hebraico para os dias da semana. “Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera” (Gn 2:3).
A língua está de prova
Sábado em hebraico, ao invés de “dia sete”, é chamado de Shabat (derivado da palavra “descansar”) e encerra a semana. Assim, nas tradições judaicas, assim como nas cristãs, a semana tradicionalmente começava no domingo – e assim era na Rússia até a Revolução de 1917.
Os nomes dos dias da semana em russo são prova disso. Quarta-feira em russo é ‘sreda’, que significa “meio” em russo. Obviamente, a quarta-feira cai no meio da semana apenas se esta começar no domingo.
Além disso, nas línguas eslavas, a segunda-feira é chamada de ‘ponedelnik’, que significa “aquele que vem depois de nedelya”, sendo ‘nedelya’ a forma como o primeiro dia da semana era chamado, bem como a semana inteira. ‘Nedelya’ pode ser traduzido do russo como “não fazer”, já que domingo era o dia de missa e os camponeses russos normalmente não trabalhavam.
Em sua cruzada contra a Igreja e a religião ortodoxa, os bolcheviques assinaram um de seus primeiros decretos, em fevereiro de 1918, substituindo o calendário juliano pelo gregoriano. A ideia era distinguir o calendário da Igreja (a Igreja Ortodoxa Russa usava e ainda utiliza o calendário juliano) do secular e “oficial” – e também faria a Rússia acompanhar as datas com “quase todos os povos cultos”, como afirmava o decreto. No entanto, o domingo ainda era o primeiro dia da semana nos primeiros anos da URSS.
Semanas de 5 a 7 dias
Em 1º de outubro de 1929, as semanas foram reformuladas na Rússia: novas semanas de cinco dias foram introduzidas. Nas chamadas ‘semanas de produção contínua’, as pessoas trabalhavam quatro dias e, no quinto, descansavam. Assim transcorria ao longo de um ciclo de um ano inteiro, que consistia em 72 semanas de cinco dias. Para que as folgas dos funcionários não coincidissem, eles eram divididos em cinco grupos marcados no calendário em amarelo, rosa, verde, vermelho e roxo. Com esse sistema, as fábricas e outros empreendimentos podiam operar sem interrupções ao longo do ano todo, pois não havia folgas ou férias coletivas para todos os trabalhadores ao mesmo tempo.
O calendário de cinco dias também era uma ferramenta ideológica, desfigurando os feriados do calendário cristão – o que era útil para a propaganda antirreligiosa bolchevique. Mas o novo calendário não era popular entre o povo. Muitas vezes, marido e mulher eram de grupos de cores diferentes e nunca tinham dias de folga comuns. Em 1931, foi introduzida uma semana de seis dias com folgas fixas para todos.
Foi apenas em 1940 que a URSS voltou a ter uma semana de sete dias. “Transfiram o trabalho em todas as empresas e instituições estatais, cooperativas e públicas de uma semana de seis dias para uma semana de sete dias, contando o sétimo dia da semana – domingo – como dia de descanso”, lia-se no decreto. Assim, a partir de 1940, a segunda-feira tornou-se oficialmente o primeiro dia da semana na URSS.
Com o tempo, alguns Estados de viés socialista também fizeram da segunda-feira o primeiro dia da semana – por exemplo, a DDR em 1970. Em 1978, a ONU recomendou que a a semana iniciasse na segunda-feira na maioria dos países. Em 1988 foi estabelecido, conforme a ISO 8601, um padrão internacional para troca e comunicação de dados relacionados a data e hora.
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