10 ibero-americanos que receberam o Prêmio Lênin da Paz

Russia Beyond (Foto: Bettmann; Tony Vaccaro/Getty Images)
Escritores, sindicalistas e ativistas pela paz de países como Brasil, Argentina, Chile, Cuba, Espanha, Portugal e Nicarágua receberam esta condecoração criada pela URSS.

No final do período stalinista, a liderança soviética decidiu conceder o Prêmio da Paz a estrangeiros que haviam feito uma contribuição significativa para uma maior compreensão mútua e harmonia no mundo. Ao longo das suas várias décadas de existência, este prêmio da paz foi atribuído a 18 cidadãos espanhóis e latino-americanos.

O chamado Prêmio Internacional para Fortalecimento da Paz entre os Povos era um dos mais prestigiosos da União Soviética. Criado em 1949, começou sendo chamado de Prêmio Stálin da Paz até 1955. No entanto, após a desestalinização, foi renomeado em homenagem ao líder revolucionário soviético Vladimir Lênin – tornando-se o Prêmio Lênin da Paz.

O título era concedido anualmente a cinco a dez cidadãos de qualquer país do mundo, “independentemente de suas diferenças políticas, religiosas e raciais, por seus serviços destacados na luta contra os belicistas e pelo fortalecimento da paz”.

O vencedor era escolhido por uma comissão especial e recebia uma medalha, um diploma e um prêmio em dinheiro (cerca de 25 mil dólares pelo câmbio da época).

María Rosa Oliver, Argentina, 1958

Annemarie Heinrich

María Rosa Oliver (María Rosa Lucía Oliver Romero) foi uma escritora, ensaísta e ativista argentina.

Ela foi uma das fundadoras da Revista Sur junto com sua amiga Victoria Ocampo, fazendo parte do Comitê Editorial. Com ela, fundou também em 1936 a União Argentina de Mulheres (UAM), para promoção do voto feminino. Em 1938, assumiu a presidência da UAM.

Viajou com sua família para a Europa em 1921 e para os Estados Unidos em 1942, lutando com a causa aliada contra o nazismo.

Trabalhou no Conselho Mundial da Paz entre 1948 e 1962. Em Washington, como assessora cultural do Gabinete de Coordenação de Assuntos Interamericanos, a convite do governo Roosevelt, ajudou exilados da Guerra Civil Espanhola. Recebeu o Prêmio Lênin da Paz em 1958.

Também viajou para a China e Cuba; era amiga de Che Guevara, com quem se correspondia.

Fidel Castro, Cuba, 1961

Uma das figuras políticas mais conhecidas do mundo, Fidel Castro recebeu o Prêmio Lênin “por seus extraordinários serviços na luta para fortalecer e preservar a paz entre os povos”, justificaram os organizadores da premiação. 

O prêmio foi entregue ao presidente cubano logo após o triunfo da Revolução e durante o ano em que os cubanos conseguiram repelir a invasão da Baía dos Porcos.

Fidel Castro faleceu em 25 de novembro de 2016.

Pablo Picasso, Espanha, 1962

O artista espanhol Pablo Picasso foi protagonista e criador de várias correntes que revolucionaram as artes plásticas do século 20, do cubismo à escultura neofigurativa, cerâmica artesanal ou cenografia para balés.

Entre suas obras mais famosas estão Les Demoiselles d'Avignon (1907) e Guernica (1937), um retrato do bombardeio alemão à cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola. Picasso via o comunismo como um ideal de paz, a chave para um mundo livre do fascismo.

Em 25 de setembro de 1936, o Governo da Segunda República Espanhola o nomeou diretor do Museu do Prado. O pintor aceitou, embora nunca tenha assumido o cargo.

Picasso participou em 1948 do Congresso de Intelectuais pela Paz, realizado na Polônia, e recebeu o Prêmio Lênin da Paz em 1950.

Em 15 de março de 1953, apenas dez dias depois da morte de Stálin, os traços de Picasso, encomendados pelo poeta Louis Aragon, apareceram dentro da reverenciada publicação Les Lettres Françaises, retratando o georgiano mais temido.

Nos seus últimos anos, criou variações sobre as obras de artistas anteriores como Diego Velázquez, Gustave Courbet, Eugène Delacroix ou Édouard Manet, sendo a mais famosa uma série de pinturas baseadas em As Meninas de Velázquez.

Olga Poblete, Chile, 1962

Olga Poblete foi uma proeminente professora, feminista, líder social e política chilena. Ela participou do Movimento Mundial pela Paz, combatia o colonialismo e lutava para que todas as mulheres conquistassem o direito ao voto.

Nasceu em Tacna em 1908 e sua mãe, Luisa Poblete, ganhava a vida como costureira. Estudou em escolas e faculdades públicas. Formou-se como professora de história e geografia em 1928 no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Em 1945, obteve uma bolsa de estudos para se especializar em pedagogia na Columbia University, nos EUA.

Foi pioneira na criação de uma cátedra universitária sobre o Extremo Oriente e África, e destacou-se na formação de professores. Escreveu textos sobre o ensino da história, particularmente da época contemporânea. Sua vida foi marcada pela Segunda Guerra, corrida armamentista, Guerra Fria e processos de libertação nacional da ordem colonial.

Participou ativamente do Movimento pela Emancipação da Mulher no Chile (Memch). Embora não fosse filiada a nenhum partido político, apoiou a Frente Popular (1936-1941) e colaborou com o governo do presidente Salvador Allende (1970-1973).

Foi ativa na formação do Movimento Mundial e Nacional em Defesa da Paz, bem como nos grupos anticoloniais e de cooperação internacional do século 20. 

Ganhou o Prêmio Lênin da Paz em 1962.

Oscar Niemeyer, Brasil, 1963

Nascido em 15 de dezembro de 1907 no Rio de Janeiro, formou-se na Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ em 1934, e na sequência trabalhou com Lucio Costa.

Juntos realizaram as obras do Ministério da Educação do Rio (1936), ao lado do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Em 1939 construíram o pavilhão brasileiro para a Feira Mundial de Nova York e, em 1943, a residência Peixoto.

Em 1941, o prefeito de Belo Horizonte o encarregou de construir alguns edifícios na cidade – e assim surgiu seu magnífico conjunto em que pintura e escultura se integram à arquitetura urbana. Um desses prédios é a polêmica igreja de São Francisco, com uma concepção tão radical que levou 16 anos para ser consagrada. 

Em 1947 representou o Brasil na construção do prédio das Nações Unidas em Nova York. Na década de 1950, o presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, o nomeou conselheiro da Novacap, a companhia criada para fundar a nova capital do país, Brasília. Niemeyer foi autor de diversos edifícios, entre os quais se destacam o Supremo Tribunal Federal, o Palácio da Alvorada, e a famosa Catedral Metropolitana, além do centro nevrálgico da cidade de Brasília, a Praça dos Três Poderes, amplo espaço cercado pelos edifícios do Parlamento.

De 1960 em diante trabalhou na Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Argélia e França, entre outros países. Ganhou inúmeros prêmios, incluindo o Prêmio Lênin da Paz (1963), o Prêmio Pritzker (1988) e o Prêmio Príncipe das Astúrias das Artes (1989).

Niemeyer morreu em 5 de dezembro de 2012, no Rio de Janeiro, aos 104 anos, em decorrência de uma infecção respiratória.

Dolores Ibárruri, Espanha, 1964

Popularmente conhecida como ‘Pasionaria’, Dolores Ibárruri foi uma política comunista espanhola e secretária-geral do Partido Comunista da Espanha (PCE) que participou ativamente dos movimentos trabalhistas do início do século 20, da Segunda República Espanhola, da ditadura de Franco e da Transição e a Democracia Espanhola. A sua luta política juntou-se à luta pelos direitos femininos para mostrar que as mulheres, independentemente de sua condição, eram seres livres para escolher o seu próprio destino.

Foi durante a Guerra Civil Espanhola que sua voz ganhou destaque. Sua presença constante na frente e a força de suas palavras, ao vivo ou no rádio, a transformaram em um ícone comunista internacional, praticamente no nível de Lênin ou Stálin. É seu o famoso grito de resistência ‘Não passarão!’, pronunciado durante um discurso e que tirou de um cartaz feito para os republicanos pelo pintor de Algeciras Ramón Puyol.

Após a Guerra Civil veio o exílio na URSS. A perda de seu filho Rubén, oficial do Exército soviético em Stalingrado, a conduziu para uma espécie de isolamento voluntário.

No final de sua vida, participou da manifestação das Mães da Praça de Maio, na Argentina. A ‘Pasionaria’ nunca abandonou suas atividades e morreu em 1989, aos 94 anos.

Álvaro Cunhal, Portugal, 1989

Álvaro Barreirinhas Cunhal foi um dos políticos portugueses do século 20 de maior destaque. Ingressou no Partido Comunista Português (PCP) em 1931 e foi seu secretário-geral entre 1961 e 1992. 

Destacou-se por conseguir a influência do PCP no movimento democrático de luta contra o regime de António Salazar, do qual foi uma de suas principais vítimas. Na época, foi preso e torturado, vivendo na clandestinidade durante muitos anos.

Retornou a seu país cinco dias após a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974, após exílio em Paris. Foi então ministro sem pasta nos quatro primeiros governos provisórios, bem como eleito deputado em 1975.

Em 1989 foi recebido em Moscou por Mikhail Gorbatchov e agraciado com o Prêmio Lênin da Paz. Neste mesmo ano, caiu o Muro de Berlim.

Cunhal, líder histórico do Partido Comunista Português (PCP), morreu em Lisboa em 13 de junho de 2005, aos 91 anos, ainda mantendo grande influência no partido e sem renunciar aos ideais que lhe valeram a alcunha de “último estalinista do Ocidente”.

Hortensia Bussi, Chile, 1975-1976

Nascida em 22 de julho de 1914, Hortensia Bussi era professora de história e geografia e, após o golpe militar que custou a vida de seu marido Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, exilou-se no México.

Durante a ditadura de Augusto Pinochet, a viúva de Allende se comprometeu resolutamente com as forças políticas que a partir do exílio lutavam pela recuperação da democracia.

‘La Tencha’, como era conhecida, ganhou, entre outros títulos, o Prêmio Lênin da Paz. Ao recebê-lo, segundo a cooperativa.cl, pronunciou algumas palavras com emoção, agradecendo o apoio mundial à situação vivida pelos atingidos por um golpe militar.

Vilma Espín, Cuba, 1977-1978

Espín foi uma dirigente política da Revolução Cubana, da qual participou ativamente como membro do Movimento 26 de Julho. Engenheira química de formação, destacou-se na luta contra a ditadura de Batista.

Vilma Espín nasceu em 1930 em uma família rica de Santiago de Cuba. Tornou-se uma das primeiras mulheres da ilha a se formar engenheira química industrial na Universidade de Oriente, onde teve como professor o exilado espanhol Julio López Rendueles.

Depois do golpe de Estado de Fulgencio Batista, em 1952, ela se integrou ao movimento revolucionário, sobretudo depois do ataque ao quartel de Moncada por Fidel Castro, em 26 de julho de 1953.

Após a formatura, em 1954, foi para os Estados Unidos fazer uma pós-graduação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e, ao concluir o curso, viajou ao México para entrar em contato com Fidel e transferir suas ordens e mensagens para Cuba, no momento em que o desembarque do Granma estava sendo preparado. O trabalho logístico clandestino que realizou junto com Celia Sánchez, também figura-chave da revolução, foi decisivo para o sucesso da guerrilha.

Depois da vitória militar, Vilma Espín focou na tarefa de envolver as mulheres cubanas no projeto revolucionário e, em 23 de agosto de 1960, fundou a FMC, uma das organizações de massas mais importantes do país, à qual pertencem 90% mulheres com mais de 14 anos.

No âmbito da FMC, promoveu diversas iniciativas para facilitar a incorporação da mulher ao trabalho e lutar por sua plena libertação em uma sociedade marcada por padrões machistas. Espín foi colaboradora efetiva de Fidel e Raúl Castro e, durante anos, por méritos próprios, uma das figuras políticas de peso no governo local.

Com Raúl Castro teve quatro filhos: Alejandro, Deborah, Nilsa e Mariela, que é mais conhecida por seu trabalho na defesa dos direitos LGBTQIA+ em Cuba.

Faleceu no ano de 2007.

Miguel D'Escoto, Nicaragua, 1985-1986

Estadista veterano, político, líder comunitário e padre. Foi ministro das Relações Exteriores da Nicarágua por dez anos, após a vitoria da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Desde então tem sido um crítico do sistema de dominação imperialista e defensor do multilateralismo. Por seus méritos, foi escolhido para presidir o 63º Período de Sessões das Nações Unidas.

Inspirado na vida e obra de personalidades como Tolstói, Gandhi, Martin Luther King e Dorothy Day, d'Escoto defendeu o respeito ao direito internacional e estava firmemente comprometido com os princípios da não violência ativa, solidariedade e justiça social, que, juntamente com um profundo senso de ética, formaram a base de sua vida política.

Viajou muito, visitando a maioria das capitais do mundo, bem como muitas das regiões remotas e menos acessíveis da Terra, e dedicou grande parte de sua vida a ajudar os mais necessitados.

Promoveu a decisão adotada por seu governo em 1984 de apresentar perante o Tribunal Internacional de Justiça uma reclamação contra os Estados Unidos por apoiar atividades militares e paramilitares contra seu país; a Corte decidiu a favor da Nicarágua.

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