Como pilotos soviéticos resgataram o marechal iugoslavo Josip Broz dos nazistas

História
BORIS EGOROV
Pilotos britânicos e norte-americanos atrasaram missão de resgate devido ao mau tempo. Mas o major soviético Aleksandr Chornikov sentiu que adiar a tarefa não era uma opção.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Bálcãs foram fonte de problemas contínuos para o Terceiro Reich. Após o fracasso da Wehrmacht na Iugoslávia em abril de 1941, surgiram todos os tipos de oposição ao nazismo, culminando em lutas ferozes contra os invasores.

A mais poderosa dessas forças era o chamado Exército de Libertação Nacional da Iugoslávia, subordinado ao Partido Comunista do país. De pequenas unidades partidárias, o grupo já incluía na primavera de 1944 grandes divisões e corpos com 300 mil pessoas.

Esse exército estava retendo mais de trinta divisões da Wehrmacht e SS nos Bálcãs, o que teria sido útil na Frente Oriental. Os nazistas tentaram repetidamente destruir o Exército Partidário e acima de tudo seu comandante, o marechal Josip Broz Tito, mas sem sucesso.

Em maio de 1944, eles fizeram outra tentativa e estiveram mais perto de seu objetivo do que nunca. Foi então que o Exército Vermelho veio em auxílio do marechal.

‘Movimento do Cavaleiro’

Às 5 horas da manhã de 25 de maio, bombardeiros alemães apareceram sobre a cidade de Drvar, no oeste da Bósnia e Herzegovina, onde ficava o quartel do Exército de Libertação Nacional. Depois de um ataque aéreo maciço, planadores entregues por aviões de transporte começaram a pousar nos entornos da cidade, de onde soldados do 500º Batalhão SS de Paraquedistas foram imediatamente descarregados.

Para a operação apelidada de ‘movimento do cavaleiro’, cujo objetivo principal era a captura ou morte do marechal Tito, os alemães reuniram mais de 17 mil pessoas. Além de paraquedistas, regimentos de rifles motorizados, batalhões de reconhecimento, tanques e sapadores, um regimento da divisão de forças especiais  ‘Brandenburg’ e unidades croatas foram transferidas para a área de operações de combate.

Do lado oposto estavam unidades do 1º e 6º Corpo Proletário dos Partidários Iugoslavos, do Batalhão de Guarda do Marechal e cadetes da Escola de Treinamento de Oficiais, totalizando 12 mil homens. Apesar da resistência ferrenha, o inimigo logo ocupou a cidade.

“Os alemães estavam me procurando”, lembrou Tito. “Naquela época, um alfaiate de Drvar me costurou um uniforme de marechal. Os paraquedistas não conseguiram nada além desse uniforme, rasgado por fragmentos de bombas... Todos os moradores de Drvar sabiam onde eu estava. Todos os paraquedistas tinham uma foto minha. Eles iam até uma ou outra pessoa da cidade, mostravam a foto, perguntavam: “Tito, Tito, onde está Tito?” Mas ninguém disse nada a eles. Nem mesmo as crianças…”

O próprio marechal, juntamente com sua comitiva e a missão militar soviética, estava, naquele momento, em sua casa não muito distante da cidade. Quando o inimigo também chegou, eles recuaram para os Alpes Dináricos sob a cobertura de suas tropas.

Uma tarefa assustadora

Os alemães nunca desistiram da perseguição, apertando ainda mais o círculo em torno de Tito e seus apoiadores. O general soviético Nikolai Korneev, que estava com o grupo, insistiu para o marechal a evacuar para a base aérea aliada em Bari, no sul da Itália. Mas ele dizia que deveria permanecer em território iugoslavo e acabou concordando apenas com a opção de ser transferido imediatamente de Bari à ilha de Vis, no mar Adriático, na costa croata.

Além da aviação britânica e norte-americana, os esquadrões da Força Aérea do Exército Vermelho também estavam estacionados em Bari: 12 C-47s de transporte e 12 caças de escolta Yak-9D de longo alcance. Quando a situação com Tito chegou a seus ouvidos, Stálin instruiu seus pilotos a tomarem a parte mais ativa no resgate do senhor da guerra.

Apesar das comunicações instáveis, o quartel-general do Exército Iugoslavo foi capaz de informar que estava esperando para evacuar em uma cabeça-de-praia na montanha perto da cidade de Kupres. Os aliados ocidentais atrasaram a missão de resgate por causa do mau tempo, mas o major soviético Aleksandr Chornikov sentiu que tempo precioso estava se esgotando e era preciso tomar uma ação imediata..

Na noite de 4 de junho, um C-47 soviético decolou em direção à Iugoslávia. As coordenadas foram fornecidas pelo navegador Pável Iakimov da tripulação de Chornikov.

O major já era um piloto experiente, havia passado algum tempo nos Bálcãs e estudado as rotas aéreas locais. No entanto, mesmo para ele, a tarefa era extremamente difícil.

“Sob condições de trovoada e chuva, tivemos que atravessar o Mar Adriático em baixa altitude, primeiro, para não nos desviarmos da rota estabelecida e, segundo, para não entrar em nuvens de trovoada”, lembrou o marechal-chefe da aviação Aleksandr Golovanov. “Tendo chegado à ilha de Korčula e contornando o istmo, onde havia uma base naval alemã coberta por um grande número de artilharia antiaérea, a tripulação começou a ganhar altitude, tomando o caminho para Kupres, na área onde havia o montanha mais alta, que servia como um marco confiável. Assim que chegaram à montanha e identificaram sua posição, a tripulação procurou por luzes e sinais de alerta. As nuvens impediram uma boa visão da área. A tripulação sobrevoou o terreno desconhecido por mais de meia hora até encontrar.”

O minúsculo local, preparado pelos partidários nas montanhas, era completamente coberto de rochas e cortado por riachos. O pouso deveria ser concluído na primeira tentativa e sem margem para erro. Chornikov completou a missão, pousando pouco antes de um precipício.

A tripulação do avião soviético teve que repetir a difícil manobra mais uma vez. 

Depois que o marechal e os oficiais do Estado-Maior foram levados para Bari, os pilotos retornaram para buscar o restante. Os aliados ocidentais, ao saberem do voo de Chornikov, também fizeram vários voos para as montanhas.

Após a evacuação dos líderes, as unidades iugoslavas que a guardavam foram romper o cerco (o que conseguiram com sucesso) e, pela manhã, tropas alemãs apareceram no local.

Aleksandr Chornikov, seu copiloto Boris Kalinkin e o navegador Pavel Iakimov receberam o título de Heróis da União Soviética por esta façanha. A Iugoslávia, por sua vez, também premiou cada um deles com sua mais alta condecoração militar – Ordem do Herói Nacional.

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