A luta contra uma epidemia de cólera em Stalingrado durante a Segunda Guerra Mundial

História
BORIS EGOROV
Um dos principais confrontos da guerra foi travado não só na frente de batalha, mas também nos laboratórios subterrâneos da cidade soviética.

No verão de 1942, o Exército Vermelho se retirava para a cidade de Stalingrado (atualmente, Volgogrado). Nesse momento crítico, os soviéticos tinham mais um inimigo, além das tropas alemãs: a epidemia de cólera que ameaçava cobrir toda a cidade, densamente povoada.

Os primeiros surtos da doença foram registrados na região controlada pelo inimigo, e o comando soviético não excluía que a doença poderia se tornar um aliado na luta contra as tropas alemãs.

A cólera, porém, não respeitava a linha de frente e logo, junto com refugiados e tropas em retirada, foi levada para Stalingrado. Em 18 de julho, os primeiros casos da doença foram confirmados em vários bairros da cidade.

Por ordem do Comissário do Povo (equivalente a ministro) da Saúde, Gueórgi Miterev, uma das principais microbiologistas do país, Zinaída Ermolieva, foi enviada para a cidade. Ela ficou responsável por organizar o trabalho dos médicos locais para prevenir a epidemia.

“Os hospitais recebiam milhares de feridos todos os dias. Navios partiam da cidade superlotada com tropas e população evacuada para Ástrakhan e Sarátov. Assim, a epidemia podia se espalhar por muitas outras cidades do país", escreveu Ermolieva em seu livro "O Exército Invisível”.

A comissão de emergência de Stalingrado decidiu começar imediatamente a vacinação da população com o bacteriófago da cólera, que infecta as células da doença. Ermolieva pediu que Moscou enviasse um grande lote para a cidade, mas o trem com o medicamento foi bombardeado por um avião alemão.

Medidas de emergênecia

A única saída era produzir o medicamento em Stalingrado. Os médicos construíram um laboratório na cave de um dos edifícios e estabeleceram uma linha de produção contínua do bacteriófago.

“Todos os que ficaram na cidade participaram dessa luta contra um exército invisível a olho nu. Cada médico da Cruz Vermelha tinha dez apartamentos sob supervisão. Passávamos por eles todos os dias e perguntávamos se havia algum paciente que precisava ser hospitalizado imediatamente. Outros cloravam poços e ajudavam a evacuar a população. Era impossível sair da cidade sem um certificado de vacinação. Nem mesmo nas padarias o pão não era distribuído sem esse certificado”, escreve Ermolieva.

O comando soviético mobilizou todos os trabalhadores médicos que não estavam envolvidos na construção de fortificações defensivas. Essa decisão permitiu examinar 15 mil pessoas e vacinar até 50 mil pessoas por dia.

Assim, os soviéticos conseguiram evitar uma catástrofe epidemiológica que seria capaz de minar as forças das tropas soviéticas que defendiam a cidade antes da chegada das tropas da Wehrmacht.

Em breve, porém, os médicos novamente tiveram que lutar contra a propagação dessa perigosa infecção entre os soldados capturados do 6º Exército do Marechal de Campo Friedrich Paulus.

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