A malfadada tentativa sueca de tomar os Estados Bálticos da Rússia

Navios navegando na baía. Aleksei Bogoliubov, década de 1860.

Navios navegando na baía. Aleksei Bogoliubov, década de 1860.

Domínio público
Esta foi a maior vitória naval da Suécia contra os russos, mas nem assim eles conseguiram voltar a fazer parte das grandes potências.

Durante quase todo o século 17, a Suécia foi considerada uma das grandes potências do mundo. Seu exército e sua marinha eram os mais fortes da Europa e tiveram vitórias brilhantes em inúmeras guerras e vastos territórios às margens do Mar Báltico — que, devido a isso, foi apelidado de "lago sueco".

Gustaf II Adolf antes da Batalha de Lützen. Nils Forsberg, 1632.

A situação mudou completamente com a Guerra do Norte, entre 1700 e 1721. Nela, os suecos se opuseram à coalizão da Rússia, Dinamarca, Comunidade das Duas Nações (que abrangia teritórios da Polônia, Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia, Estônia e parte ocidental da atual Rússia) e Saxônia. O período inicial do conflito foi bem sucedido para a Suécia, mas, após a derrota na Batalha de Poltava, em 8 de julho de 1709, o país enfrentou uma série de derrotas em terra e no mar. A Suécia foi forçada a assinar um tratado de paz, conhecido como Tratado de Nystad, segundo o qual os russos receberam os territórios da Livônia (centro e norte da Letônia), Estônia, Íngria e sudeste da Finlândia — onde fica hoje São Petersburgo.

Vitória em Poltava. Aleksander Evstafievitch Kotzebue, 1862.

O governo sueco viu a derrota na guerra como uma dificuldade temporária e estava confiante de que poderia reaver as terras perdidas. Em 1734, em uma reunião do Comitê Secreto do Riksdag — responsável pela política externa e defesa sueca — decidiu-se fazer todo o necessário para devolver à Rússia suas antigas fronteiras.

 Recrutamento de sargentos. Gustaf Cederström, 1879.

Em 8 de agosto de 1741, o Reino da Suécia declarou guerra à Rússia. A motivação era o assassinato, dois anos antes, do mensangeiro diplomático sueco Malcolm Sinclair, que trabalhava ativamente na conclusão da aliança militar, por oficiais russos. Os documentos de Sinclair mostraram claramente que suecos estavam se preparando para uma guerra contra a Rússia. A imperatriz da Rússia, Anna Ioannovna (também conhecida como Ana da Rússia), impôs uma proibição sobre o fornecimento de pão para seu vizinho do norte: esta foi a segunda razão para o início das hostilidades.

 Malcolm Sinclair. Johan Henrik Scheffel, 1728.

Estocolmo acreditava que a guerra com a Rússia seria rápida e bem-sucedida. Naquela época, o jovem Ivan VI estava no trono russo e havia uma luta entre grupos da corte pelo poder no país. No entanto, o talento do comandante russo Peter Lassi destruiu os planos suecos. Em agosto de 1741, ele derrotou o inimigo na Batalha de Wilmanstrand e, exatamente um ano depois, cercou as principais forças do exército sueco, obrigando-as a se renderem em Helsingfors (atualmente, Helsinque). “A partir de agora, quase todo o território da Finlândia fica sob o controle dos russos. A derrota da Suécia na guerra é uma questão de tempo”, escreveu o barão Ivan Tcherkassov ao vice-chanceler russo, Aleksêi Bestújev-Riúmin.

Peter Lassi, século 18.

Uma nova tentativa de reaver o status de grande potência e as terras perdidas da Suécia foi realizada em 1788 por Gustavo III. Os suecos iniciaram as hostilidades durante a guerra russo-turca de 1787-1791, quando a maior parte do exército e da marinha russa estava envolvida nas batalhas no sul. A fim de obter um pretexto para declarar guerra, um grupo de soldados suecos vestido com uniformes russos atacou a fronteira sueca em Puumala.

Rei Gustavo III e soldado. Episódio da Guerra Russa, 1789.

O exército sueco obteve várias vitórias na Finlândia, mas avançava para o interior russo com cautela. As operações militares no Báltico prosseguiram até a Batalha de Viborg, em 3 de julho de 1790, quando a frota sueca foi bloqueada na Baía de Viborg. Após perder quase 20 navios e cerca de 5 mil soldados e marinheiros, os suecos conseguiram escapar da armadilha, mas tiveram que esquecer os planos de tomar a capital russa.

Batalha naval em Viborg. I. K. Aivazóvski, 1846.

A Rússia estava à beira da vitória quando a frota sueca conseguiu realizar algo incrível no Estreito de Rochensalm, em 10 de julho de 1790. Mais de 500 navios de ambos os lados participaram da maior batalha naval da história do Mar Báltico. A frota russa teve 35 navios destruídos, 7.000 pessoas mortas e feridas, e outros 22 navios capturados pelos suecos — que, por sua vez, perderam apenas cinco navios de pequeno porte.

Batalha naval de Svänsksund, 8 de julho de 1790.

“Foi uma surra terrível para o inimigo, e os últimos momentos da batalha foram horríveis”, escreveu o comandante da frota sueca, Gustavo III, a sua esposa, Sophia Magdalena da Dinamarca. “Caiu a noite e só havia incêndios e gritos por todos os lados. Se continuarmos agir da mesma forma, obrigaremos gentilmente Catarina [a imperatriz Catarina II da Rússia] a nos perdoar por nossos erros e desejar a paz". No final das contas, nenhuma das partes obteve vantagem decisiva na guerra, e o tratado de paz na cidade de Verel (Värälä) foi concluído em 14 de agosto do mesmo ano, nos termos do status quo.

 Gustavo III. Alexander Roslin, 1772.

Após essa tentativa fracassada, a Suécia não tentou mais renegociar os termos do Tratado de Nystad por meio de força. 

 Combatente ferido na neve. Helena Schjerfbeck, 1880.

Menos de 20 anos depois, em 1808, com o apoio de Napoleão Bonaparte, a Rússia lançou uma guerra contra o vizinho do norte que levou à perda de toda a Finlândia pela Suécia.

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