Como a Rússia anexou o Extremo Oriente?

História
BORIS EGOROV
Região podia ter se tornado colônia americana, francesa ou britânica, mas russos foram os primeiros a conquistá-la. Para tanto, travou batalhas com nativos, além de chineses e japoneses.

No início do século 17, o Estado russo já controlava a Sibéria e passou a explorar e conquistar o Extremo Oriente. Diversos destacamentos de cossacos avançaram para a costa do Oceano Pacífico, estabelecendo fortalezas ao longo do caminho chamadas de "ostrog", colocando as tribos nativas sob o império e impondo a elas um imposto chamado "yasak".

O estabelecimento do poder tsarista nem sempre foi pacífico. Os habitantes da Península de Tchukotka, chamados de tchúktchi, se recusaram a seguir a nova ordem. Mais de mil soldados russos participaram das batalhas contra os tchúktchi. À época, os tchúktchi descreveram os russos da seguinte maneira: "roupas de ferro, bigodes como as das morsas, olhos de ferro redondos, lanças longas e comportamento agressivo, sempre querem lutar."

Os tchúktchi foram incisivos contra as tropas russas. Na batalha de Egatch, em 1730, foi morto o coronel cossaco Afanássi Chestakov; na batalha de Orlov, em 1747, foi derrotado o destacamento do major Dmítri Pavlútski e o próprio comandante foi morto. Apenas a imperatriz Catarina, a Grande conseguiu apaziguar os ânimos dos tchúkthi, que em troca de independência nos assuntos internos jurou obediência.

Apesar da resistência dos tchúktchi e dos conflitos com os povos da Península de Kamchátka, os russos avançaram com êxito para o norte do Extremo Oriente. No final do século 18, os russos passaram a colonizar o Alasca. A situação no sul era muito mais complicada e, na bacia do rio Amur, os russos enfrentavam a oposição do poderoso império Qing.

A chegada de “bárbaros distantes” à terra dos Daurs, que pagavam impostos a Pequim foi considerada uma invasão à zona de interesses da China. Em 1685, o "ostrog" russo de Albazin, no rio Amur, foi sitiado por um exército Qing de cinco mil militares. Apenas 500 russos conseguiram resistir ao ataque. Somente quando ficou claro que não receberiam ajuda do governo, os defensores concordaram com uma rendição honrosa e entregaram a fortaleza.

Os chineses e os manchus demoliram as fortificações, mas não conseguiam manter o controle sobre os territórios. No entanto, o confronto com a China consumia os limitados recursos que o Estado russo tinha no Extremo Oriente. Em 1689, as partes assinaram o Tratado de Paz de Nerchinsk, segundo o qual os russos foram forçados a ceder a fortaleza de Albazin e uma parte dos territórios tomados ao Império Qing, impedindo assim seu avanço para o Oceano Pacífico ao longo do rio Amur.

Durante os 150 anos seguintes, o governo russo não mostrou interesse na região de Amur. A então capital russa São Petersburgo estava convencida de que a região era controlada pelos chineses, enquanto, na verdade, o Império Qing não havia feito nada para colonizá-la. Além disso, o governo achava, erroneamente, que a região de Amur era inadequada para a navegação.

O surgimento de novos jogadores levou a Rússia a intensificar sua atividade no Extremo Oriente. Navios britânicos, franceses e norte-americanos passaram a navegar pelo Mar de Okhotsk. Entre os anos de 1820 e 1830, esquadrões inteiros de baleeiros estrangeiros começaram a aparecer perto das costas desertas da Rússia. Eles frequentemente atacavam assentamentos costeiros e saqueavam os moradores locais [...] A Rússia enfrentava uma ameaça real — senão a perda total da região, pelo menos um aumento significativo nos danos causados por marinheiros estrangeiros à população e às propriedades do Estado no litoral e nas águas do oceano Pacífico”, escreveu o almirante Guennádi Nevelskoi.

O governador-geral da Sibéria Oriental, Nikolai Muraviov, percebeu o perigo da captura da região de Amur por uma potência europeia ou pelos americanos. “A margem esquerda do Amur não pertence a ninguém [...] Os britânicos precisam apenas descobrir isso e ocuparão Sacalina e Amur sem dúvida. Isso acontecerá rapidamente, sem qualquer aviso prévio. A Rússia, consequentemente, pode perder toda a Sibéria, já que a Sibéria é propriedade de quem controla o litoral e Amur", escreveu Muraviov.

Entre 1849 e 1850, Muraviov organizou diversas expedições para a região de Amur sob o comando do capitão Nevelskoi. Como resultado, o capitão descobriu que a Sacalina não era uma península, mas uma ilha, que a foz do Amur era navegável, e que não havia nenhum controle dos chineses sobre a região. Na foz do rio, ele fundou o posto Nikolaev (hoje, a cidade de Nikolaevsk-na-Amure), e distribuiu cartas entre as tribos locais em várias línguas, destinadas a marinheiros estrangeiros, que proclamavam “toda a região de Amur até a fronteira coreana e a ilha Sacalina como terras russas".

O governo russo, ainda temendo uma reação da China, quis rebaixar Nevelskoi à categoria de marinheiros pela insolência, mas Muraviov o defendeu perante o tsar Nicolau I. Como resultado, o tsar disse: "O ato de Nevelskoi é valente, nobre e patriótico. Onde a bandeira russa foi içada, ela não deve ser baixada."

A Rússia passou a aumentar constantemente sua presença militar na região de Amur. No final das contas, a China, enfraquecida pelas Guerras do Ópio contra as potências ocidentais, reconheceu a região de Amur e a vasta região de Ussuri como russas, assinando o Tratado de Pequim de 1860. Para que o governo Qing concordasse com o tratado, o embaixador russo na China, Nikolai Ignatiev, realizou negociações com os franceses e britânicos, cujas tropas já haviam entrado na capital chinesa, e os persuadiu a não submeter a cidade à devastação.

Dessa maneira foram definidas as fronteiras do Extremo Oriente russo, que existem até hoje, com pequenas modificações. Apenas a questão da ilha de Sacalina e das Ilhas Curilas, que passaram ao domínio de Moscou após a guerra soviético-japonesa de 1945, permanece sem solução até hoje.

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