Estes três foram os usurpadores do trono mais famosos da história da Rússia

História
GUEÓRGUI MANÁEV
Algumas pessoas tentaram chegar ao trono russo se passando por filhos assassinados do tsar, que teriam se salvado milagrosamente. Um deles até conseguiu se tornar tsar - mas por um curto período de tempo.

O falso Dmítri 1°

Este homem foi a primeira pessoa na história da Rússia a ascender ao trono com a ajuda de uma rebelião popular - e com uma falsa identidade. Esta pessoa, cuja verdadeira identidade ainda é contestada, afirmou durante o Tempo de Dificuldades ser o tsarevitch Dmítri Ivanovitch (1582-1591), o filho mais novo de Ivan, o Terrível e Maria Nagaia, sua última esposa. Ele teria escapado de uma tentativa de assassinato em 1591, quando tinha apenas nove anos de idade. 

Dmítri revelou sua identidade durante o período em que esteve na Polônia e foi reconhecido pelo rei Sigismundo 3° Vasa como filho de Ivan, o Terrível. Talvez o rei polonês realmente não acreditasse, mas ele queria usar o impostor para atacar as terras russas. Reunindo vários milhares de soldados, Dimitri invadiu a Rússia devastada por tumultos e de repente encontrou diversos apoiadores, crentes de que ele fosse mesmo o filho do tsar.

O tsar Boris Godunov morreu repentinamente em Moscou. Prometendo grandes mudanças tanto aos nobres como aos camponeses, Dmítri entrou no Kremlin em junho de 1605 e foi ungido como tsar no mês seguinte. Ele trouxe de volta muitos boiardos do exílio, cancelou os impostos de algumas terras (mas os aumentou em outras) e confiscou terras da Igreja.

Em pouco tempo, os russos começaram a suspeitar que Dmítri era um impostor, porque o tsar não observava os jejuns eclesiásticos e violava os costumes russos com relação ao vestuário e à vida cotidiana. Um de seus comportamentos escandalosos era o consumo de presunto, o que era estritamente proibido. Vestia-se com roupas europeias, passava tempo com estrangeiros e se casou com Marina Mniszech, uma nobre católica polonesa. Dmítri rompeu com quase todos os costumes ortodoxos russos que um tsar deveria ter seguido.

No fim das contas, o falso Dmítri foi violentamente assassinado por uma multidão de nobres enfurecidos uma semana após seu casamento, em 17 de maio de 1606. A multidão foi liderada por Vassili Chuiski (1552-1612), que se tornaria o próximo tsar. O corpo de Dmítri foi jogado nas praças de Moscou para ser sujado e profanado pela multidão, e uma máscara de bobo da corte foi colocada em seu ventre destroçado.

O falso Dmítri 2°

Por incrível que pareça, houve mais Dmítris falsos na história da Rússia - foram quatro ao todo! Porém, apenas os dois primeiros conseguiram ser chamados de tsares: enquanto o falso Dmítri 1 foi de fato ungido para o tsarismo, o falso Dmítri 2° só foi tratado como um tsar em seu próprio tipo de tsarismo, que existiu por um breve período em território russo.

A identidade do falso Dmítri 2° é desconhecida até hoje. Como o corpo do falso Dmítri 1° foi seriamente mutilado durante seu assassinato, as pessoas acabaram alegando que ele havia sobrevivido e que ainda era o último filho de Ivan 4. Em 1607, o nobre e vigarista Mikhail Moltchanov (falecido em 1611), que participou do assassinato do filho e da esposa de Boris Godunov, encontrou um bielorrusso que se parecia com o falso Dmítri 1° e, usando um misto de ameaças e promessas, fez com que se "declarasse" o tsar milagrosamente sobrevivente.

Na verdade, nada se sabe sobre essa pessoa, exceto que ele conhecia os costumes ortodoxos russos e era fluente em polonês. Dentre pouco, a guarnição da cidade de Starodub (atualmente na região russa de Bryansk), onde o falso Dmítri 2° apareceu, o jurou como tsar, e seu Exército começou a crescer. No inverno de 1608, ele conquistou a cidade de Oriol.

Em 1608, o exército de Dmítri, com cerca de 30 mil homens, esmagou o do tsar Vassili Chuiski, mas não conseguiu tomar Moscou e montou um acampamento militar em Tuchinó, a noroeste da capital (atualmente um distrito de Moscou - algo que também rendeu a Dmítri 2° o apelido “O Ladrão de Tuchinó". Ali, Dmítri atuou como tsar, aceitando os juramentos de diferentes cidades russas. Em determinado momento, a maior parte do território russo estava sob seu controle, exceto pelas cidades maiores de Novgorod, Kazan, Smolensk e Níjni Novgorod, que permaneceram leais a Vassili. Nessa época, havia dois tsares, duas dumas de boiardos, bem como dois patriarcas e dois governos. Além disso, a administração do falso Dmítri 2° também cunhou suas próprias moedas.

Paralelamente, a Rússia foi invadida pelo Exército polonês, comandando por Sigismundo 3°. Dmítri e seu exército se transferiram para Kaluga e então tentaram atacar Moscou novamente. No entanto, em 1610, Vassili Chuiski foi deposto, e o governo provisório, chamado "Os Sete Boiardos", rendeu o controle de Moscou à guarnição polonesa.

Não foram os agentes poloneses que assassinaram o falso Dmítri 2°, em dezembro de 1610, mas o príncipe tártaro Piotr Urusov, seu chefe de segurança. Isso aconteceu na região de Kaluga, onde Dmitri foi enterrado como um homem comum. A localização do túmulo é incerta.

O falso Aleksei 1°

Embora houvesse também o terceiro e o quarto Dmítri 1° falsos (isso mesmo!), eles não tiveram tanto sucesso quanto os dois primeiros. Os russos simplesmente pararam de acreditar na possibilidade de o filho de Ivan ter sobrevivido. Por muito tempo, não houve possível membro da família do tsar que pudesse ser "suplantado", até a morte de Simeon Alekseievitch (1665-1669) e Aleksei Alekseievitch (1654-1670), filhos do tsar Aleksei Mikhailovitch (1629-1676 ). Há rumores de que os dois filhos do tsar teriam sido envenenados por boiardos que tentavam tomar o poder na Rússia. Além disso, as pessoas acreditavam que Aleksei, de 15 anos, o herdeiro do trono, havia milagrosamente escapado e fugido para a região do Volga.

Esses rumores foram usados ​​pelo comandante cossaco Stepan Razin (1630-1671), líder da revolta camponesa que estava ocorrendo na região do Volga. O falso Aleksei 1°, que provavelmente era um camponês desconhecido, apareceu no acampamento de Razin em agosto de 1670, quando o exército cossaco estava estacionado na região de Samara. No início, Razin foi hostil e até abusivo com o impostor. Entre outras coisas, teria chegado a "bater e arrastá-lo pelos cabelos", mas depois mudou de ideia e o apresentou ao público como o herdeiro milagrosamente sobrevivente. Razin disse a seu povo que tinha a missão de devolver o verdadeiro herdeiro a seu pai, o tsar Aleksei Mikhailovitch, em Moscou. O falso Aleksei foi levado em um navio, devidamente decorado com veludo vermelho "real", e recebeu o juramento de lealdade do povo russo. No entanto, não se sabe muito sobre o falso Aleksei 1°, exceto que acabou provavelmente capturado no início, em outubro de 1670, depois que o exército de Razin foi esmagado perto de Simbirsk (atual Ulianovsk). Aleksei foi executado em Moscou em junho de 1671, logo após matarem Razin.

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