Como os bolcheviques usavam porta-aviões em rios? (FOTOS)

68ª esquadra no rio Amur.

68ª esquadra no rio Amur.

Arquivo
Gigantes, porém lentos, esses aparatos desempenharam um papel importante na guerra contra os "inimigos da revolução" e no conflito armado com tropas em 1929.

Hoje, os porta-aviões são considerados, com justiça, um símbolo de poder e dominância no mar. Embora esses barcos gigantes tenham mostrado todo seu potencial apenas durante a Segunda Guerra Mundial, eles já existiam na Primeira Guerra. A maioria dos modelos pioneiros de porta-aviões foi construída em 1929.

Apesar de os primeiros porta-aviões não serem suficientemente grandes para servir como pista de decolagem, eles podiam transportar diversos hidroaviões e servir como oficina de manutenção.

Porta-aviões

No início do século 20, o Império Russo foi um dos líderes mundiais na produção de navios desse tipo. Sete porta-hidroaviões russos lutaram contra os turcos e os alemães nos mares Negro e Báltico. Infelizmente, porém, todos eles foram perdidos após a saída do país da Primeira Guerra, em 1918.

Os bolcheviques, que chegaram ao poder na Rússia em 1917, herdaram e mantiveram a tradição de construir porta-aviões. Essas embarcações, porém, eram usadas principalmente não no mar, mas em rios e lagos.

"Kommuna"

Esquema de porta-aviões

Durante a Guerra Civil russa, as operações militares navais foram raras insignificantes. A maior parte das batalhas então se dava entre bolcheviques (“vermelhos”) e o movimento dos “brancos”, chamados de "inimigos da revolução", e ocorriam em terra. Foi por isso que a liderança soviética decidiu construir porta-aviões capazes de operar em rios profundos da Sibéria, dos montes Urais e da região do rio Volga.

Em agosto de 1918, os bolcheviques construíram o primeiro porta-aviões fluvial do mundo, que recebeu o nome "Kommuna". Esse navio, construído especialmente para o rio Volga, foi criado na base do batelão lameiro "França", de 140 metros de comprimento e 19 metros de largura.

Esse porta-aviões transportava um esquadrão de seis hidroaviões M-9 e três caças Nieuport. A principal força de ataque eram os hidroaviões, que eram baixados para a superfície da água com a ajuda de plataformas de madeira especiais.

O "Kommuna" era acompanhado por um rebocador, um navio de vapor que transportava os pilotos, munições e combustível, além de vários navios de escolta. O navio era armado com metralhadoras e duas armas anti-aéreas de calibre de 37 mm e se movia de maneira extremamente lenta: podia atingir uma velocidade de apenas 11 km/h. Mesmo assim, ele desempenhou um papel muito importante nos conflitos. Seus aviões bombardearam infraestruturas e tropas inimigas e realizavam missões de reconhecimento.

Porta-aviões

Durante a batalha pela cidade de Tsarítsin (atualmente, Volgogrado), em 1918, os hidroaviões burcavam, localizar uma bateria de artilharia do movimento branco que estava muito bem camuflada. Com o reconhecimento aéreo comum, os vermelhos não conseguiam achar a base, e decidiram usar os hidroaviões do "Kommuna". O piloto Serguêi Kozlov escreveu sobre o episódio:

"Em 25 de agosto, um dos pilotos do batalhão no hidroavião M-9 recebeu a ordem de localizar a bateria a baixa altitude. O avião passou várias vezes sobre a ravina, mas sem sucesso. O piloto decidiu descer ainda mais. Foi um momento tenso. Os integrantes do exército branco perderam a paciência, começaram a atirar no avião e, assim, revelaram sua posição. As asas do avião foram atingidas em vários pontos. Um projétil atingiu o volante. Dois dedos da mão direita do piloto foram gravemente feridos, e o copiloto Maksimenko, sentado ao seu lado, cobriu a ferida com um lenço. Só após determinar todas as coordenadas da bateria, a tripulação voltou à flotilha e relatou a descoberta. As posições inimigas foram destruídas pelo fogo de artilharia", escreveu Kozlov.

A curta era dos porta-aviões fluviais

Pilotos do 68º esquadrão fluvial em frente a aviões MR-1.

Depois do "Kommuna", os soviéticos construíram novos porta-aviões mais funcionais: o "Poseidon" e o "Svoboda", que também foram feitos com base em batelões lameiros. As cabines dos pilotos ficavam localizadas não em navios separados, mas naqueles mesmos porta-aviões.

Além da baixa velocidade, outro defeito comum dos primeiros porta-aviões soviéticos era a impossibilidade de construir hangares para os aviões. O primeiro navio com dois hangares no convés foi o porta-aviões "Smiert" ("morte", em russo).

Hidroavião do exército branco.

Em março de 1919, os soviéticos construíram o porta-aviões "Pripiat". O navio foi criado com base no navio a vapor para transporte de passageiros "Tatiana".

Durante a guerra soviético-polaca, a embarcação foi capturada pelas tropas polacas e utilizada para transporte militar, mas foi afundada em 25 de julho de 1920. Mais tarde, os bolcheviques retiraram o porta-aviões do rio e o transformaram em um navio de pessoal. Contudo, o navio logo foi novamente afundado pelos polacos. Em abril de 1921, os polacos retiraram o navio do fundo de novo, e o integraram a sua Marinha sob o nome de "Almirante Sierpinek".

Porta-avião

Em 17 de setembro de 1939, quando o Exército Vermelho entrou na Polônia Oriental, o navio foi novamente afundado e retirado do rio. Em setembro de 1941, ele foi afundado ainda outra vez no rio Dnieper pelas tropas soviéticas, que se retiravam de Kiev. Três anos mais tarde, o navio foi levado à superfície de novo. Mas, depois dessa enorme tortura de ser submergido e emergido tantas vezes, tornou-se impossível consertá-lo novamente e ele foi finalmente enviado para a sucata.

Hidroavião sendo carregado em porta-avião.

Os membros do exército branco também tentaram criar sua própria frota de porta-aviões. No verão de 1919, no rio Tchusôvaia, nos Urais, eles converteram uma barcaça de 84 metros num porta-aviões chamado "Danilikha", capaz de transportar quatro aeronaves. Contudo, o navio não teve a oportunidade de ser testado em combate real, e em julho do mesmo ano foi capturado e queimado pelos vermelhos.

Após o fim da Guerra Civil, os porta-aviões fluviais soviéticos participaram de apenas um conflito militar. No final de 1929, durante o conflito armado soviético-chinês no rio Songhua, o porta-aviões "Amur" serviu como base para o 68º Esquadrão Aéreo. Realizou diversas missões de reconhecimento e atacou posições inimigas. "Os pilotos da esquadra destruíram uma canhoneira, um navio a vapor armado, uma barcaça e artilharia inimiga", escreveu o comandante de destacamento, Eduard Lukht.

Com o rápido desenvolvimento da aviação e da construção naval na década de 1930, a URSS abandonou os gigantes fluviais. Os Estados Unidos, porém, apenas começavam a criar sua frota de porta-aviões fluviais. Durante a Segunda Guerra Mundial, diversos porta-aviões fluviais operaram nos Grandes Lagos para treinar pilotos navais.

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