Diante da Operação Barbarossa - o codinome da invasão nazista à URSS, o destino dos trabalhadores políticos do Exército Vermelho (comissários militares, instrutores/supervisores políticos etc.) já estava selado. De acordo com as “Diretrizes para o Tratamento de Comissários Políticos” (também conhecidas como “Ordem do Comissário”), emitidas pelo Alto Comando da Wehrmacht em 6 de junho de 1941, eles deveriam ser eliminados primeiro.
Heinrich Himmler visitando campo com prisioneiros de guerra soviéticos em 1942
Domínio público“Na luta contra o bolchevismo, não se pode contar com a observância do inimigo dos princípios da humanidade ou do direito internacional”, proclamavam as diretrizes. “Os comissários políticos são os iniciadores dos métodos asiáticos bárbaros de guerra. Portanto, deve-se lidar com eles de imediato e com toda a crueldade ... Os comissários não são reconhecidos como soldados; nenhuma proteção jurídica internacional se aplica a eles.”
Hollywood frequentemente retrata os comissários soviéticos como cães stalinistas impiedosos e covardes que se escondiam atrás dos soldados da linha de frente enquanto apontavam uma arma em suas costas. Na verdade, os trabalhadores políticos do Exército Vermelho estavam geralmente entre os lutadores mais ferrenhos e corajosos. Esses indivíduos eram responsáveis pelo moral das tropas e pelo treinamento de combate, e costumavam ser os primeiros a montar um ataque, carregando todos os outros com eles. É por isso que eles eram um inimigo tão perigoso e poderoso aos olhos dos alemães.
Prisioneiros de guerra soviéticos
Domínio públicoQuando capturados, os trabalhadores políticos eram separados de outros soldados e, após interrogatório (às vezes, isso nem ocorria), eram executados no próprio local. Verificações adicionais eram realizadas nos campos de prisioneiros de guerra para garantir que nenhum deles escapasse. “Entre os prisioneiros de guerra havia cobras e patifes que, por uma ponta de cigarro, um prato de sopa de couve-nabo e um pedaço de pão, entregavam instrutores políticos, comissários e judeus; sem esses traidores, a Gestapo jamais teria sido capaz de identificá-los”, lembrou Mikhail Temkin, que passou por dez desses campos de concentração.
“O que mais me impressionava nos instrutores políticos e membros do Partido Comunista era sua dignidade inerente e sinais inconfundíveis de educação”, escreveu o militar alemão Heinrich Metelman em seu livro de memórias “Através do Inferno por Hitler”. “Eu nunca, ou praticamente nunca, os vi em estado de desespero. Eles nunca choravam ou reclamavam, nunca pediam nada. Quando chegava a hora da execução e as execuções estavam em curso, eles iam para o cadafalso de cabeça erguida”, descreveu Metelman.
Os soldados judeus foram as primeiras vítimas do Holocausto em solo soviético. Prisões e execuções começaram em 22 de junho de 1941, bem no início da invasão, poucos dias antes das primeiras ações para exterminar a população civil judia.
Cientes do que os aguardava no cativeiro, muitas vezes cometiam suicídio. Em meados de julho de 1941, por exemplo, a 375ª Divisão de Rádio foi cercada pelos alemães. “Não havia nada a fazer a não ser se render”, relembrou Igor Melko. “Então, Iacha (Liport) disse: ‘Eu não posso ir para lá’. Esticando-se todo, ele tirou o quepe de campo e subiu na ponte e avançou direto em direção ao fogo da metralhadora.”
Judeus antes da execução
TASSComo os trabalhadores políticos, os prisioneiros judeus eram separados dos outros soldados e imediatamente exterminados. Em campos estacionários e de trânsito para prisioneiros de guerra, Einsatzgruppen (“grupos de implantação”, ou esquadrões da morte paramilitares dos serviços de segurança) trabalhavam para identificar “elementos racialmente inferiores” por meio de exames médicos; muitos também acabavam dedurados por seus camaradas de armas.
Às vezes, os judeus eram escolhidos “por pura intuição”, conta Naum Fishman, que milagrosamente sobreviveu ao cativeiro. “O comandante e o sargento-mor caminhariam lentamente ao longo da fileira, parando, observando cuidadosamente os rostos dos enfileirados. O oficial levantava o chicote, encostava-o no peito do prisioneiro e pronunciava a palavra ‘Você’. Os ‘judeus’ descobertos dessa forma eram imediatamente executados.”
“Uma morte brutal aguardava os judeus identificados entre os detidos”, disse Afroim Fraiman, um prisioneiro do campo de Peski, perto de Pskov. “Eles podiam ser mergulhados em água fria e depois deixados nus do lado de fora na geada até morrerem congelados. Outro judeu do Exército Vermelho, traído por um colaborador, foi amarrado a um carro e arrastado em círculos pelo chão. Os alemães assistiram a seu tormento e riram. A morte mais rápida para um prisioneiro judeu era se os guardas soltassem os cães e ele fosse ferido até a morte.”
De acordo com estimativas diversas, até 85 mil soldados soviéticos de etnia judaica foram parar no cativeiro. Apenas algumas centenas conseguiram sobreviver e retornar para casa.
Prisioneiros de guerra soviéticos no campo de Mauthausen
BundesarchivMesmo antes da invasão, os alemães estavam cientes que, de uma forma ou de outra, enfrentariam a resistência de guerrilheiros. Em 13 de maio de 1941, o Alto Comando da Wehrmacht emitiu o “Decreto sobre a Regulamentação da Conduta das Tropas no Distrito Barbarossa e Tratamento da Oposição”, que afirmava claramente: “Os guerrilheiros devem ser mortos sem piedade pelas tropas em batalha ou durante a perseguição”.
Nove divisões de segurança foram criadas para contraguerrilha.
No entanto, a escala da resistência partidária soviética chocou e desanimou os alemães. De pequenos ataques de sabotagem contra pequenas guarnições, os “vingadores do povo” rapidamente formaram destacamentos completos, capazes de libertar vastos territórios atrás das linhas inimigas (as chamadas terras partidárias), envolvendo-se até mesmo em confrontos contra unidades regulares da Wehrmacht em pé de igualdade.
Prisioneiros de guerra soviéticos antes da execução
Valéri Khristoforov/TASSA insensibilidade e ódio dos alemães pelos “assassinos desavergonhados e brutais” atingiu ponto de ebulição. Se os trabalhadores políticos e judeus ainda tinham alguma chance (embora pequena) de sobreviver, os guerrilheiros eram fuzilados sem misericórdia. Mesmo porque eles geralmente pagavam os alemães capturados na mesma moeda.
Uma forma ainda mais comum de executar os “bandidos da floresta” era por enforcamento público. Esta morte vergonhosa, acreditavam os nazistas, iria intimidar e alertar os habitantes dos territórios ocupados contra a ajuda ao movimento guerrilheiro, pois eles poderiam ser os próximos a ser enforcados. “Na rua Moskovskaia, onde agora fica a ‘Casa da Vida’, havia [um mercado]”, conta Valentina Poliak, moradora de Minsk. “Os alemães nos levaram da escola para lá e nos obrigaram a assistir aos guerrilheiros sendo enforcados. Esta imagem medonha se passa diante dos meus olhos até hoje. Eu tinha 12 anos.”
Execução do sabotador soviético Zoia Kosmodemianskaia
Global Look Press“Os alemães e colaboradores matavam qualquer partidário feito prisioneiro, espancavam-nos até a morte”, lembrou o “vingador do povo” Grigóri Isers. “Um dos partidários de nosso destacamento havia escapado do cativeiro. Ninguém confiava nele, suas armas não foram devolvidas e cada passo seu era cuidadosamente observado. Que ele havia estado nas garras dos alemães — e sobrevivido, parecia inacreditável para nós.”
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