Você ainda acha que a Praça Vermelha tem este nome porque os edifícios ali são vermelhos? Sinto muito, mas você ficará desapontado agora! Até mesmo a teoria de que ela se chama "vermelha" ("krásnaia", em russo) porque a palavra seria derivada de "bela" ("krassívaia") no russo antigo está errada!
A Praça Vermelha na época de Ivan, o Terrível.
А.М. VasnetsovA fortaleza de Moscou, que acabou sendo chamada de Kremlin, foi fundada na colina de Borovítski. A leste dela, onde a Praça Vermelha está situada agora, havia uma enorme campina. À medida que fortaleza e a cidade se tornavam mais proeminentes e ricas, um “posad” - ou seja, um burgo – formou-se perto das muralhas da fortaleza.
As pessoas viviam no “posad” porque, em caso de guerra, podiam se esconder atrás das muralhas da fortaleza. Mas o “posad” precisava de uma praça do mercado. Próxima ao Kremlin e ao rio Moscou (que facilitava o transporte de mercadorias), a Praça Vermelha surgiu como um mercado, quando foi batizada de “torg”, ou seja, "mercado" em russo.
Praça Vermelha na segunda metade do século 17.
А.М. VasnetsovA praça existe desde, pelo menos, o ano de 1434. Os historiadores debatem se ela foi em algum momento “criada” ou se transformou-se naturalmente em mercado e ponto de reuniões públicas. Mas há motivos para acreditar que a mudança tenha se dado naturalmente.
Um dos indícios para isto é que o local também era trivialmente chamado de “pojár”, ou seja, “conflagração”, “fogo”, “incêndio”. Isto não acontecia devido a verdadeiros incêndios, porque, antes dos séculos 16 e 17, o local era composto principalmente de bancos de praça e barracas de vendedores, e não por grandes edifícios que pudessem "queimar". Mas “pojár” também tem a acepção de um terreno deixado baldio após uma queimada, e poderia significar também o constante zumbido e a agitação da movimentada praça do mercado – ou seja, em boa metáfora em português, a praça “pegava fogo”.
No início do século 16, a praça se tornou o principal local de notícias, fofocas e política em Moscou. Se alguém quisesse saber o que estava acontecendo na cidade, era só dar um pulinho ali.
Fosso Alevizov.
Fiódor AkekseevEm 1508, foi introduzida uma grande inovação na Praça Vermelha: o fosso Alevizov, criado por Aloisio Nuovo, um arquiteto italiano encarregado por Ivan, o Grande para trabalhar em Moscou. O fosso tinha mais de 30 metros de largura, 206 metros de comprimento e entre 12 e 13 metros de profundidade, e transformou o Kremlin em uma ilha, com os rios Neglinnaia e Moscou defendendo os lados restantes do triângulo formado pela fortaleza do Kremlin.
Uma parte do fosso, próxima ao portão Voskressênski, acabou se tornando mais tarde uma cova de animais. Ali, o tsar guardava tigres e leões que tinha ganhado de presente de reis mais a leste do Kremlin. Perto do fosso também havia um recinto para o elefante do tsar.
Em 1561, a Catedral de São Basílio foi erguida na Praça Vermelha para comemorar a vitória de Moscou sobre o Canato de Kazan. A partir de então, a catedral dominou a composição arquitetônica da praça e tornou-se seu principal símbolo.
Palácio das Facetas
Ludvig14/WikipediaEntão de onde veio o nome “Praça Vermelha”?
O nome “Praça Vermelha” passa a figurar em meados do século 17 em documentos civis durante o reinado do tsar Aleksêi, também conhecido como Aleixo da Rússia, pai de Pedro, o Grande. Em 1658, ele ordenou a mudança de nomes de algumas ruas e praças de Moscou. Mas, em 1659, a praça ainda era conhecida como “pojár” em documentos oficiais. Foi só em 1661 que o nome “Praça Vermelha” passou a prevalecer.
Acredita-se que o título seja proveniente da Entrada Vermelha (em russo, “Krásnoe kriltsô”), uma escada que leva ao Palácio das Facetas, a principal recepção e sala de banquetes dos tsares moscovitas.
O vermelho era a cor tradicional do poder do tsar: seus aposentos tinham paredes vermelhas e a Entrada Vermelha era o lugar onde as ordens do tsar eram anunciadas ao povo. O tsar surgia na Entrada Vermelha em grandes eventos públicos e religiosos. Assim, a praça em frente a esta entrada também ficou conhecida como “vermelha”.
Portões Voskressênski.
Jorge Láscar/WikipediaMas, então, a praça ainda era um mercado gigantesco, dividido em muitos corredores de produtos: desde tortas, mel, roupas, objetos de metal, louças, carne... Podia-se comprar de tudo por lá!
O problema era que, com uma quantidade crescente de lojas e barracas, os incêndios, aí sim, tornaram-se frequentes e arrasadores. Por isso, na década de 1640, foi construído o primeiro Gostíni Dvor , ou seja, um mercado coberto de pedra.
Menos propenso a pegar fogo, ele se tornou um local para armazenar mercadorias e vendê-las. No final do século 17, não havia mais prédios de madeira na Praça Vermelha. A praça também ganhou os belos portões Voskressênski.
Em 1698, Pedro, o Grande, finalmente proibiu todo o comércio fixo da praça.
Bonde na Praça Vermelha.
Domínio públicoA praça retangular
A Praça Vermelha continuou no centro da vida política de Moscou. O “Lôbnoe mêsto”, um pilar de pedra próximo da Catedral de São Basílio, era onde as ordens mais importantes do governo passaram a ser anunciadas.
As execuções dos criminosos mais famosos também foram realizadas próximo a este ponto da Praça Vermelha. Pouco mudou até o início do século 19, quando o fosso Alevizov foi preenchido, a praça foi pavimentada com paralelepípedos e novas barracas de madeira foram construídas.
Praça Vermelha na atualidade.
Legion MediaEm 1875, os edifícios obsoletos perto do portão Voskressênski foram demolidos para construir um novo Museu Estatal de História (1875-1883). O imponente edifício vermelho em estilo arquitetônico pseudo-russo combinava bem com as paredes do Kremlin e a Catedral de São Basílio e serviu como a "quarta parede" para a Praça Vermelha, finalmente transformada em um retângulo.
No início do século 20, a Praça Vermelha tinha iluminação elétrica, uma nova loja de departamentos GUM e uma linha de bonde. Quando os bolcheviques chegaram ao poder, eles derrubaram o portão Voskressênski para abrir caminho para os tanques durante os desfiles militares, construíram o Mausoléu de Lênin e organizaram um cemitério para a elite soviética, bem ali onde ficava o fosso Alevizov, em frente ao shopping de luxo que ocupa o GUM na atualidade.
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