A história da mãe que viu seus 10 filhos retornarem da guerra – vivos e com saúde

História
BORIS EGOROV
Viúva e sem notícias dos filhos por anos, Evdokia Lisenko criou cinco filhas sozinha em meio a dificuldades da guerra. E mal poderia imaginar que teria a família toda de volta.

Os filhos de Evdokia Lisenko não estavam entre aqueles que aguardaram o fim da guerra em vários quartéis-generais de campo do Exército Vermelho – todos os 10 filhos dela enfrentaram as provações e dificuldades das linhas de frente na Segunda Guerra Mundial. E, por algum milagre, todos sobreviveram para contar a história.

Uma família soviética sem que um filho ou um pai tivesse sido perdido na Grande Guerra Patriótica era algo raro. Pelo contrário, era bastante comum que todos os homens da família morressem no campo de batalha, e suas mães e esposas teriam que viver com a terrível sensação de perda pelo resto de suas vidas.

A história dos cinco irmãos Sullivan, que afundaram junto com seu navio cruzador ligeiro ‘Juneau’ durante a batalha de Guadalcanal (na qual o filme ‘O Resgate do Soldado Ryan’ é parcialmente baseado) se tornou bem conhecida. Outras histórias desse tipo aconteceram na impiedosa Frente Oriental. O conflito mais sangrento da história da humanidade trouxe dor e perdas incalculáveis ​​a milhões de pessoas.

Um verdadeiro milagre

Apesar das probabilidades, houve exceções afortunadas à regra. Uma delas é a história dos dez filhos de Evdokia Danilovna Lisenko, que partiram da vila ucraniana de Brovakha rumo à frente e conseguiram voltar para casa com vida.

Nikolai foi o primeiro a retornar, depois de sobreviver milagrosamente a uma explosão que matou sete de seus camaradas. Em 1944, ele recebeu alta do hospital e foi enviado para casa para ficar com sua mãe.

Seu irmão Ivan lutou na Ucrânia, terminando no campo de concentração de Treblinka – mas conseguiu escapar. Continuou lutando e encerrou seu serviço na Romênia.

Dois outros irmãos tiveram um encontro acidental durante o conflito. Em agosto de 1944, nos arredores da cidade de Iasi, Mikhail viu Feodosi: “Pulei na trincheira onde ele estava e o abracei”, lembrou mais tarde. “Acontece que eu estava sendo enviado em uma missão de reconhecimento, enquanto ele tinha acabado de voltar de uma. Eu tinha que ir e não nos cansávamos de falar um com o outro. Nós dois choramos...”

Depois da luta na Hungria, os irmãos voltaram com deficiências: Mikhail foi gravemente ferido no peito, enquanto Feodosi perdeu uma perna.

Andrei e Pável foram enviados para campos de trabalho forçado na Alemanha, mas foram capazes de sobreviver e se aliaram aos batalhões de ataque do Exército Vermelho. O tenente sênior Vassíli foi ferido três vezes, mas sua bravura o rendeu uma medalha – a ordem da Estrela Vermelha. Em 1946, Piotr, que havia assumido o posto de oficial de comunicações, também voltou para casa.

Outros dois irmãos Lisenko conseguiram viajar de Berlim para o Extremo Oriente durante a guerra. Aleksandr, que serviu como sinaleiro, chegou à capital do Terceiro Reich. Já o motorista de tanque Stepan, foi enviado para a Manchúria para lutar contra os japoneses depois de ser ferido na Prússia Oriental. A guerra acabou quando ele chegou à Manchúria. Ele foi o último dos irmãos a retornar para casa, em 1947.

Uma mãe heroica

Esperando anos em vão por qualquer notícia da linha de frente – e tendo perdido o marido em 1933, Evdokia Danilovna criou sozinha cinco filhas. Ela também conseguiu sobreviver à ocupação alemã. Mas o destino a recompensou por suas dificuldades quando todos os seus filhos homens voltaram para casa.

Sua história logo se espalhou para além da aldeia e, em 1946, ela foi premiada com a Ordem da Mãe Heroica em Kiev.

Evdokia Lisenko morreu em 1967, aos 73 anos. Em 1984, sua memória foi imortalizada com uma estátua de bronze em Brovakha. Todos os seus filhos, exceto Vassíli, que também já havia morrido na época, estavam presentes na inauguração.

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