A saudação militar é, essencialmente, um sinal de intenções pacíficas – um militar está mostrando que a mão direita está aberta e sem qualquer arma. Mas por que a mão é levada até a cabeça? Existem várias explicações para isso. Uma delas é que, na época da cavalaria, os cavaleiros levantavam a viseira de seus capacetes para olhar para a pessoa que estavam saudando. Outra, mais plausível, é que se trada de um gesto rudimentar, realizado em vez de levantar o chapéu para mostrar respeito.
Quem ou o que está sendo saudado?
O mais importante é que, geralmente, a saudação não é feita a um indivíduo (seja oficial, sargento ou soldado), mas ao uniforme militar. A saudação militar é um gesto de reconhecimento mútuo e de pertencimento à mesma corporação, de respeito.
É por isso que a saudação militar é realizada apenas por pessoas em uniforme militar e em relação a outras pessoas em uniforme militar – exceto quando um chefe de Estado (e chefe das Forças Armadas), como o presidente, é saudado. No entanto, quando, por exemplo, o presidente Vladimir Putin, vestido com roupas civis, é saudado, ele não retribui a saudação, porque não está uniformizado e não usa quepe militar (ao contrário do presidente dos EUA, por exemplo).
No exército da Rússia Medieval, não era realizada qualquer saudação militar – havia poucos postos, nenhum uniforme comum e os militares de alta patente eram pessoas de alto escalão na hierarquia do Estado, que já se cumprimentaram com reverências.
O legado de Suvorov
Não há informações precisas sobre saudação militar na Rússia Imperial antes de 1765, quando o grande comandante militar russo Aleksandr Suvorov definiu as regras da saudação militar em seu trabalho teórico “Instituição Regimental”. Segundo Suvorov, o quepe (naquela época, um tricórnio), deveria ser retirado com a mão esquerda do soldado, seis passos antes de se aproximar de uma pessoa de nível sênior, e segurado na mão esquerda até que o sênior estivesse a seis passos de distância.
Porém, com o crescente número de militares e a diferença entre seus chapéus (capacetes, quepes etc.), surgiu a necessidade de uma saudação militar universal. Pouco a pouco, ao longo do século 19, a chamada “saudação polonesa”, ou “saudação de dois dedos”, passou a ser usada no Exército Imperial russo. Era realizada com os dedos médio e indicador estendidos e tocando-se, enquanto o dedo anelar e o dedo mindinho eram dobrados e tocados pelo polegar. As pontas dos dedos médio e indicador tocavam a ponta do chapéu.
Na Rússia, a saudação deveria ser realizada somente quando a cabeça estava coberta com chapéus militares.
Saudação de mão cheia
Depois de meados do século 19, a “saudação de dois dedos” foi substituída por uma de mão inteira. Assim é descrito no ‘Manual para jovens soldados e cossacos’, publicado em São Petersburgo em 1887: “Se um soldado encontra um comandante a quem deve saudar, ele deve colocar a mão direita no lado direito da borda inferior do chapéu quatro passos antes de chegar ao comandante, de modo que os dedos fiquem juntos, a palma da mão esteja ligeiramente exposta, e o cotovelo, na altura dos ombros; ao mesmo tempo, ele deve olhar para o comandante e segui-lo com os olhos. Quando o comandante der um passo após passar, sua mão pode ser abaixada”.
Os comandantes de alto escalão deveriam ser saudados enquanto permaneciam em posição de sentido. Esses comandantes e pessoas incluíam: todos os membros da família imperial, generais, almirantes, comandantes de guarnições, comandantes de regimentos, esquadrões, oficiais de Estado-Maior e também ao passar por estandartes e bandeiras do Estado. Quando estivessem carregassem um rifle ou um sabre nu, os soldados deveriam colocar a arma nos ombros. E nunca, em nenhuma circunstância, um soldado era obrigado a tirar a chapéu – nem mesmo na presença do tsar.
Saudação militar na URSS e na Federação Russa
As regras já mencionadas foram amplamente empregadas no Exército Vermelho. No caso de saudações militares realizadas em massa (por exemplo, por todo o regimento na presença de um general em um desfile), a norma era: saudação militar de mão inteira realizada pelo chefe da unidade militar, e todos os membros da unidade em posição de sentido, seus olhos mirando na direção do comandante de alta patente.
A Ordem Geral do serviço interno das Forças Armadas da URSS (1960) prescrevia que todos os militares se saudassem prestando continência militar. As patentes mais baixas saudavam as mais altas primeiro. Esquecer ou, pior, recusar-se a saudar era considerado uma ofensa e estava sujeito a punição. Além disso, alguns objetos também deviam ser saudados: o Mausoléu de Lenin, a Tumba do Soldado Desconhecido, valas comuns dos soldados que morreram defendendo a Pátria e todas as bandeiras militares, bem como procissões fúnebres acompanhadas por tropas.
Essas normas ainda são empregadas nas Forças Armadas da Federação Russa – com exceção de fazer a saudação ao Mausoléu de Lênin. Atualmente, somente duas pessoas devem ser saudadas pelos militares, mesmo que elas não estejam usando uniforme – o presidente da Federação Russa e o primeiro-ministro.
A velha tradição de prestar continência apenas quando se tem a cabeça coberta ainda existe. No entanto, o soldado realizar a saudação militar mesmo quando sua cabeça estiver coberta com um capuz, um boné de malha, um capacete etc. Nos casos em que a cabeça não está coberta (durante os exercícios de campo e treinamento), a saudação militar é feita apenas ficando em posição de sentido.
E no que diz respeito à saudação militar, todos devem retribuir? Para isso, ainda vale a máxima proposta por Mikhail Dragomirov (1830-1905), famoso general e teórico militar do Exército Imperial Russo: “Quando saudamos um sênior, expressamos nossa submissão a ele e cumprimos o dever de cortesia exigido por todos e não apenas pelas regras militares. Entretanto, a honra é uma questão recíproca e os oficiais que não retribuem a saudação que lhes é dada pelos escalões inferiores, fazem mal, pois mostram que são menos educados que os soldados Além disso, dão aos soldados um exemplo de não conformidade com os regulamentos. Não se pode incutir diligência, quando ele próprio não a cumpre”.