As 5 épocas mais TERRÍVEIS na história da Rússia

História
GUEÓRGUI MANÁEV
Entre os vários acontecimentos desastrosos e difíceis da história, houve períodos prolongados de eventos verdadeiramente terríveis que afetaram a maioria do povo russo e tiveram impacto negativo duradouros. Relembra aqui cinco deles.
  1. Invasão mongol: terras russas destruídas pelo Império mais forte do mundo

No início do século 13, Genghis Khan, o governante todo-poderoso do Império Mongol, enviou seus filhos para conquistar as terras do Norte. Em 1223, os mongóis se encontraram pela primeira vez com o exército de príncipes russos na Batalha de Kalka e os esmagaram. Em 1236, após a morte de Genghis Khan, seu neto Batu Khan liderou um ataque devastador nas terras russas que se estendeu por 5 anos de terror.

A tática dos mongóis era totalmente inesperada para os russos: devastação. Eles não lutavam por glória e bravura, simplesmente destruíam o povo para que não pudessem se revoltar contra eles – vindos de todas as direções em pequenos regimentos, queimavam vilas e cidades, saqueavam os campos e roubavam rebanhos de gado. Embora os guerreiros russos fossem provavelmente maiores em número do que o Exército mongol, eles não conseguiram se unir com eficácia e foram derrotados.

A invasão mongol esmagou ducados e cidades russas. A cultura da Rus’ pré-mongol foi quase que completamente destruída. Kiev, Rostov, Galitch, Tchernigov, Riazan e outros centros da Rus’ foram arrasados. Antes da chegada dos mongóis, havia cerca de 1.000 fortalezas e cidades – após a invasão, sobraram apenas 300. Kiev, então controlada pelos mongóis, perdeu seu significado como a principal cidade russa na época, e a vida política do país foi reiniciada em Vladímir-Suzdal, que sofreu menos danos. As terras russas levaram mais de cem anos para se recuperar da invasão.

  1. Tempo de Dificuldades: crise dinástica, inverno vulcânico, invasão polonesa e caos total

Este período conturbado não foi causado por um ataque ou ameaça externa, mas uma combinação de infortúnio, guerra e política ruim que levou ao Tempo de Dificuldades. Esse período durou 15 anos, de 1598 a 1613, mas suas consequências se prolongaram até a década de 1640. A principal razão para o Tempo das Dificuldades foi o fim da dinastia de Rurik – o filho de Ivan, o Terrível, Fiódor (1557-1598) não teve filhos, e o último filho de Ivan, o Terrível, Dmítri de Uglitch (1582-1591) morreu (ou foi morto) em circunstâncias misteriosas. Nenhum herdeiro legítimo ao trono foi deixado, e Boris Godunov, irmão da esposa do tsar Fiódor, assumiu o trono.

Durante os últimos anos de Ivan, o Terrível, e o reinado de Fiódor, a servidão se tornou sistêmica, amarrando os camponeses à terra e aumentando a miséria social. Mas a servidão não salvou os russos da Grande Fome de 1601-1603. A fome provavelmente ocorreu por causa da erupção do vulcão Huaynaputina, no Peru, que causou um inverno vulcânico. O ciclo agrícola foi interrompido, e a Rússia acabou sendo especialmente atingida; os russos tinham estoques insuficientes de alimentos: a Guerra da Livônia (1558-1583), que Moscou perdeu, esvaziara os cofres do Estado.

Um grande número de camponeses fugiu dos senhores e passou a roubar e saquear nas estradas e nas florestas. Só em Moscou, mais de 127.000 morreram de fome. As revoltas camponesas começaram a brotar. Em 1605, Godunov morreu, e o poder na Rússia foi assumido pelo falso Dmítri 1º (? -1606), um farsante que se passou por Dmítri de Uglitch. Esse usurpador foi, em pouco tempo, assassinado e, naquele momento, o Tempo das Dificuldades estava em pleno fluxo.

Uma guerra camponesa assolou todo o país, um tsar amplamente ilegítimo Vassíli Chuiski estava no trono, outro Dmítri impostor apareceu... No meio de tudo isso, a Comunidade Polaco-Lituana invadiu a Rússia e tomou Moscou. Foi apenas entre 1612 e 1613, após uma década de turbulência e caos, que o povo russo formou uma guarda nacional que expulsou os poloneses do Kremlin de Moscou. Kuzma Minin e o príncipe Dmítri Pojarski, os líderes dessa guarda, ajudaram a restaurar a monarquia na Rússia. E, assim, a dinastia Romanov se instalou no trono russo.

O Tempo das Dificuldades custou à Rússia cerca de um quarto de sua população. A terra arável diminuiu drasticamente, e pior ainda – a nova geração de camponeses que havia nascido durante aqueles anos difíceis não sabia como cultivar a terra corretamente. Em meados do século 17, a população russa ainda não havia retornado aos níveis do século 16, quando outro desastre aconteceu...

  1. Peste de 1653-1654: o Sol se apaga e a morte assola a Rússia

Em 1653, uma polêmica reforma da igreja, conhecida como Raskol, foi iniciada pelo Patriarca Nikon e seguida por alguns eventos “apocalípticos”: em 1654, uma epidemia de peste atingiu a Rússia central. Como era a primeira vez que os russos enfrentavam uma epidemia em massa, eles não estavam preparados. O tsar Aleksêi Mikhailovitch, os líderes militares de alto escalão e membros do Exército sobreviveram por puro acaso – todos estavam em guerra com a Comunidade Polaco-Lituana, e a família do tsar foi evacuada às pressas de Moscou.

A cidade ficou deserta; a maioria da população fugiu ou morreu durante a peste. Os moscovitas em fuga levaram a praga para outras cidades e vilas na Rússia central. Os historiadores acreditam que até 800 mil pessoas podem ter morrido em 1653 e 1654.

Além disso, em 12 de agosto de 1654, um eclipse solar, claramente visível, foi considerado o presságio mais sombrio da época. Até o Patriarca Nikon e o próprio tsar estavam aterrorizados. Após o fim da praga, os russos ainda sofreram suas consequências, como fome e economia em frangalhos. Por outro lado, ganharam experiência no combate e prevenção de doenças em massa.

  1. Três Revoluções, Primeira Guerra Mundial e Guerra Civil: o extermínio do Império Russo

Nem mesmo as duras reformas do imperador Pedro, o Grande, que viraram a vida dos russos de cabeça para baixo, ou a Grande Guerra Patriótica de 1812, que empregou a energia de quase toda a nação para derrotar o Grande Exército de Napoleão, chegaram perto do desastre que aconteceu na Rússia sob o reinado de Nikolai 2º, provavelmente o tsar mais azarento de toda a dinastia Romanov.

Quando o reinado de Nikolai começou com a tragédia de Khodínka (pisoteamento em massa durante a coroação), muitos viram isso como um sinal ruim. Mas a política inescrutável de Nikolai levou a Rússia a guerrear com o Japão em 1905, desencadeando a Primeira Revolução Russa, de 1905, que por sua vez alterou o regime no Império – surgiu então a Duma de Estado, o primeiro Parlamento da Rússia. No entanto, o tsar logo tornou todas as decisões do novo órgão sem efeito desde que fossem ratificadas por ele, o que tornava a Duma inútil.

Após os acontecimentos em 1905, a atividade revolucionária não cessou mais na Rússia. Vladímir Lênin, Iossef Stálin e muitos outros futuros bolcheviques decidiram derrubar o governo tsarista, que tolamente insistia em sua política militarista. A Primeira Guerra Mundial, para a qual o Exército Imperial Russo estava totalmente despreparado, deu início à Revolução de fevereiro de 1917, seguida pela Revolução de outubro de 1917, culminando com os bolcheviques no poder. A estrutura do Estado teve de ser reconstruída quase do zero e com poucos recursos humanos.

Com a população dividida entre os regimes bolchevique e monarquista, a Rússia caiu no caos da Guerra Civil (1917-1923), que tirou a vida de cerca de 11 milhões e fez com que outros dois milhões fugissem do país. Na época, o produto interno bruto caiu cinco vezes. A situação foi agravada por doenças infecciosas em massa: em 1918-1920, cerca de 25 milhões de pessoas contraíram febre tifoide, houve surtos de cólera e disenteria, e o país também foi afetado pela pandemia da gripe espanhola em 1918, além de outra Grande Fome em 1921-1922. Parece um inferno total, e assim foi. É impossível estimar o número exato de russos que morreram ao longo desse período.

O pior é que o país ficou cheio de crianças órfãs e sem-teto – um solo fértil para a criminalização monstruosa da população que se seguiu nas décadas de 1920 e 1930.

  1. Regime de Stálin e Segunda Guerra Mundial: a época mais mortal da história da Rússia

As calamidades do regime stalinista foram em grande parte uma continuação da ascensão dos bolcheviques ao poder. Depois de um curto período de relativa calma, de 1924 a 1929, o governo de Stálin começou a “apertar as porcas” com a coletivização em massa do setor agrícola (1928-1940), o que significava transformar fazendas camponesas individuais e propriedades rurais em fazendas coletivas controladas pelo Estado. Os camponeses inicialmente se opuseram à política, porque representava a destruição do modo de cultivo testado por séculos de produção. Houve milhares de pequenas e grandes revoltas camponesas, mas o governo empregou métodos repressivos desumanos. Agitadores “comuns” foram deportados e enviados para campos de trabalho, e seus líderes acabaram sendo executados. Os historiadores estimam que a coletivização tirou a vida de cerca de 10 milhões de pessoas.

A coletivização levou a outra fome em massa, em 1932 e 1933, que afetou não somente a Rússia, mas também o Cazaquistão, a Ucrânia e o Cáucaso do Norte, e resultou na morte de cerca de 11 milhões de pessoas.

Com a industrialização da economia e da produção soviéticas, impulsionada por “planos quinquenais”, em pleno andamento, veio uma nova onda de repressões contra camponeses e trabalhadores. O Gulag, famigerado sistema de campos de trabalhos forçados, foi criado em 1930. Até 40 milhões de pessoas foram executadas, presas e traumatizadas pela repressão de uma forma ou de outra. A face da nação russa mudou para sempre após a década de 1930. E então veio a Segunda Guerra Mundial.

Infelizmente, sem as políticas de coletivização e industrialização de Stálin, a URSS teria poucas chances de resistir ao ataque do Exército nazista, mas também é evidente que a Segunda Guerra Mundial teve outro custo monstruoso – mais de 26 milhões de mortos, e mudanças drásticas na vida de todos. Por isso, muitos dizem ser um milagre que, depois de todos os desastres que o país sofreu na primeira metade do século 20, os russos tenham conseguido persistir e construir o Estado em que vivem hoje.

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