No final do século 19, as mulheres russas buscavam avidamente ingressar no ensino superior. Mas isto era impossível em sua terra natal e, por isto, muitas delas tinham que ir a outros países para estudar. Além disto, aumentava constantemente o número de escolas rurais, e os professores homens já não eram suficientes para preencher essas vagas. O imperador Aleksandr II era contrário a que as mulheres tivessem ensino superior. Mas todos tentavam convencê-lo da necessidade de se criar uma instituição de ensino superior feminina.
Os cursos superiores femininos abriram em São Petersburgo em 2 de outubro de 1878. Seu primeiro diretor foi o professor universitário e sobrinho do decabrista Konstantin Bestujev-Riumin, em homenagem ao qual os cursos passaram a ser chamados de “Bestujev” e suas estudantes e formandas, “bestujevki”.
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O surgimento dos cursos deve em muito à ativista Nadêjda Stasovaia, que encabeçava o movimento feminino na Rússia e conseguiu com que até mulheres da nobreza pudessem se sustentar. Ainda em 1870, ela conseguiu inaugurar as primeiras conferências mistas públicas para mulheres e homens em Petersburgo, os chamados “Cursos de Vladímir”.
Os cursos eram pagos e não havia provas para ingressar. Para entrar, era preciso ter no mínimo 21 anos de idade e ter terminado o ginásio. Se a concorrência fosse muito grande, escolhia-se a felizarda pelas notas nos boletins. A “bestujevki” que vinham das províncias alugavam quartos, muitas vezes compartilhados, para economizar.
A primeira formanda dos cursos que passou ela mesma a lecionar ali foi Nadiêjda Guernet (na foto, ela está em uma aula de geometria). Guernet também foi a segunda mulher da Rússia a se tornar matemática, recebendo o título de doutora. A primeira foi Sofia Kovaliovskaia, que, para conseguir ingressar no curso superior, teve que fingir um casamento e estudar no exterior.
A estudante Elizaveta Diakonova foi uma das primeiras feministas russas e se recordava que muitas das moças ali eram muito ativas socialmente e tinham um estado de espírito livre e revolucionário. Mas nem todas tinham motivos ideológicos – algumas só refletiam esta imagem para se casar.
As “bestujevki” se interessavam não apenas por ciências e política, mas também por artes, e elas tinham até mesmo seu próprio círculo teatral.
Em 1886, o governo decidiu repensar a questão do ensino superior feminino e, por alguns anos, deixou de aceitar novas inscrições nos cursos. Mas eles recomeçaram logo em seguida. // Na foto, seminário do professor Guers.
Em 1903, formaram-se nos cursos as primeiras químicas mulheres. Naquele mesmo ano, Maria Curie e o marido recebiam o Prêmio Nobel por sua pesquisa sobre radiação. Em 1911, Nikolai 2° permitiu que as formandas da faculdade recebessem diplomas universitários equivalentes aos dos homens. O acontecimento foi um verdadeiro divisor de águas.
Em 40 de existência dos cursos, quase 10 mil mulheres receberam educação ali. Após a Revolução, os “Cursos de Bestujev” foram reformulados como parte da Universidade de Petrogrado, com a qual acabaram se fundindo.
Na Inglaterra, uma instituição de ensino superior especial para mulheres surgiu pouco antes dos “Cursos de Bestujev”. Em 1873, baseado em Cambridge, foi inaugurado o Girton College, onde havia cerca de 5 estudantes mulheres e, em 1879, uma instituição semelhante surgiu em Oxford.
Nos EUA, as mulheres passaram a ter o direito de cursar o ensino superior em 1853, na França, em 1863, e na Universidade de Zurique, por exemplo, elas começaram a ingressar como alunas ouvintes ainda na década de 1840. Na Alemanha, apenas em 1896 as mulheres puderam fazer provas para o certificado de “maturidade”, e mais tarde permitiram que elas frequentassem as aulas na universidade. Apenas na República de Weimar, em 1913, as mulheres passaram a ter o direito de estudar em instituições de ensino superior.
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