Como eram as primeiras faculdades para mulheres na Rússia? (FOTOS)

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
País foi um dos pioneiros ao permitir que pessoas do sexo feminino tivessem instituições de ensino superior. Há 144 anos, os famosos ‘Cursos de Bestujev’ abriram suas portas, permitindo pela primeira vez que cientistas, professoras rurais e até revolucionárias obtivessem formação superior no país.

No final do século 19, as mulheres russas buscavam avidamente ingressar no ensino superior. Mas isto era impossível em sua terra natal e, por isto, muitas delas tinham que ir a outros países para estudar. Além disto, aumentava constantemente o número de escolas rurais, e os professores homens já não eram suficientes para preencher essas vagas. O imperador Aleksandr II era contrário a que as mulheres tivessem ensino superior. Mas todos tentavam convencê-lo da necessidade de se criar uma instituição de ensino superior feminina.

Os cursos superiores femininos abriram em São Petersburgo em 2 de outubro de 1878. Seu primeiro diretor foi o professor universitário e sobrinho do decabrista Konstantin Bestujev-Riumin, em homenagem ao qual os cursos passaram a ser chamados de “Bestujev” e suas estudantes e formandas, “bestujevki”.

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O surgimento dos cursos deve em muito à ativista Nadêjda Stasovaia, que encabeçava o movimento feminino na Rússia e conseguiu com que até mulheres da nobreza pudessem se sustentar. Ainda em 1870, ela conseguiu inaugurar as primeiras conferências mistas públicas para mulheres e homens em Petersburgo, os chamados “Cursos de Vladímir”.

Os cursos eram pagos e não havia provas para ingressar. Para entrar, era preciso ter no mínimo 21 anos de idade e ter terminado o ginásio. Se a concorrência fosse muito grande, escolhia-se a felizarda pelas notas nos boletins. A “bestujevki” que vinham das províncias alugavam quartos, muitas vezes compartilhados, para economizar.

A primeira formanda dos cursos que passou ela mesma a lecionar ali foi Nadiêjda Guernet (na foto, ela está em uma aula de geometria). Guernet também foi a segunda mulher da Rússia a se tornar matemática, recebendo o título de doutora. A primeira foi Sofia Kovaliovskaia, que, para conseguir ingressar no curso superior, teve que fingir um casamento e estudar no exterior.

A estudante Elizaveta Diakonova foi uma das primeiras feministas russas e se recordava que muitas das moças ali eram muito ativas socialmente e tinham um estado de espírito livre e revolucionário. Mas nem todas tinham motivos ideológicos – algumas só refletiam esta imagem para se casar.

As “bestujevki” se interessavam não apenas por ciências e política, mas também por artes, e elas tinham até mesmo seu próprio círculo teatral.

Em 1886, o governo decidiu repensar a questão do ensino superior feminino e, por alguns anos, deixou de aceitar novas inscrições nos cursos. Mas eles recomeçaram logo em seguida. // Na foto, seminário do professor Guers.

Em 1903, formaram-se nos cursos as primeiras químicas mulheres. Naquele mesmo ano, Maria Curie e o marido recebiam o Prêmio Nobel por sua pesquisa sobre radiação. Em 1911, Nikolai 2° permitiu que as formandas da faculdade recebessem diplomas universitários equivalentes aos dos homens. O acontecimento foi um verdadeiro divisor de águas.

Em 40 de existência dos cursos, quase 10 mil mulheres receberam educação ali. Após a Revolução, os “Cursos de Bestujev” foram reformulados como parte da Universidade de Petrogrado, com a qual acabaram se fundindo.

Na Inglaterra, uma instituição de ensino superior especial para mulheres surgiu pouco antes dos “Cursos de Bestujev”. Em 1873, baseado em Cambridge, foi inaugurado o Girton College, onde havia cerca de 5 estudantes mulheres e, em 1879, uma instituição semelhante surgiu em Oxford.

Nos EUA, as mulheres passaram a ter o direito de cursar o ensino superior em 1853, na França, em 1863, e na Universidade de Zurique, por exemplo, elas começaram a ingressar como alunas ouvintes ainda na década de 1840. Na Alemanha, apenas em 1896 as mulheres puderam fazer provas para o certificado de “maturidade”, e mais tarde permitiram que elas frequentassem as aulas na universidade. Apenas na República de Weimar, em 1913, as mulheres passaram a ter o direito de estudar em instituições de ensino superior.

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