Como se formou a URSS?

História
GUEÓRGUI MANÁEV
Seguindo os planos de Lênin, a URSS poderia ter membros em todo o mundo. Mas, no final das contas, foi o plano de Stálin que prevaleceu...

"O quê? Os bolcheviques começaram a recriar o Império Russo que literalmente destruíram?” Esta deve ter sido a pergunta de muita gente mundo afora quando, em 1922, a URSS foi oficialmente declarada um "único Estado unido" que compreende 4 repúblicas (Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e as Repúblicas Socialistas Soviéticas da Transcaucásia).

No entanto, a criação da URSS como a conhecemos não foi momentânea e nem tão simples.

Como a União Soviética foi planejada?

Depois de 1918, a maioria das partes que antes compunham o Império Russo tornaram-se Repúblicas Socialistas Soviéticas. A ideia inicial de Iôssif Stálin era simplesmente fundir todas as outras repúblicas em uma República Federativa Socialista Soviética com governo centralizado e uma única legislação.

É interessante notar que, em 1922, Stálin era um Comissário do Povo (equivalente a ministro) das Nacionalidades da República Russa. E foi ele que, junto com Lênin, em 3 de novembro de 1917, assinou a “Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia”, que instituía: “O direito dos povos da Rússia à livre autodeterminação, mesmo para o ponto da separação e da formação de um Estado independente”.

Agora, Stálin buscava exatamente o oposto.

Lênin se opôs veementemente à ideia de um Estado centralizado, dizendo que ele seria antidemocrático. Ele sugeriu que as repúblicas independentes se unissem com direitos iguais, mantendo seus respectivos governos. Há fontes que relatam que Lênin estava assim, na realidade, planejando uma URSS ainda maior, que teria muitos países na Europa e na Ásia.

Com qual objetivo foi formada a URSS?

“Os bolcheviques queriam unir os antigos governorados do império em um único Estado para ter uma posição melhor contra o que julgava ser o hostil ambiente capitalista”, explica o historiador Aleksandr Orlóv.

Mas a União necessária já existia antes da formalização da URSS. Isso porque, em 1920, foram assinados tratados de unidade entre a Rússia e a Ucrânia; em 1921, entre a Rússia e a Bielorrússia; e, depois, com as repúblicas do Cáucaso. De acordo com os tratados, a República Socialista Federativa Russa ganhou o direito de representar todas as outras repúblicas internacionalmente e assinar documentos diplomáticos em seu nome.

Além disso, os sete Comissariados do Povo (ministérios) mais importantes – Defesa, Economia Nacional, Comércio Exterior, Finanças, Trabalho, Ferrovias, Correios e Telégrafos – eram centralizados. Isto significa que eram os Comissariados do Povo Russo que governavam as respectivas esferas não apenas na Rússia, mas em outras repúblicas socialistas, também.

Oficialmente, a URSS se formou em 30 de dezembro de 1922, quando o Tratado sobre a Criação da URSS (assinado entre a República Socialista Soviética da Rússia, a da Transcaucásia, a da Ucrânia e a da Bielorrússia) foi aprovado pelo Primeiro Congresso da União Soviética.

Lênin queria criar a URSS como base para a futura unidade de todos os países socialistas em uma República Soviética Socialista Mundial. Pelo menos é o que afirmava a Constituição da URSS (31 de janeiro de 1924). Mas, no final das contas, o plano de Stálin de tornar a URSS um Estado autoritário centralizado prevaleceu.

Como a URSS se tornou um Estado autoritário?

Em 1925, o Partido Comunista da República Socialista Federativa Soviética da Rússia tornou-se o Partido Comunista da Pan-União (Bolchevique) - e Stálin, seu Secretário-Geral. Já em 1927, por exemplo, o 15º Congresso do Partido Comunista da Pan-União aprovou o plano de Coletivização. Isso significa que o partido no poder finalizava e dirigia as decisões do governo.

Assim era o “controle do Partido” - basicamente, todas as decisões dos órgãos estatais da URSS eram controladas e aprovadas pelo Partido Comunista. O Partido governava tudo. Mas é preciso ter em mente que os líderes soviéticos eram chamados de Secretários-Gerais do Comitê Central do Partido Comunista da URSS. Assim, no final das contas, ainda havia uma única pessoa no topo de tudo: o secretário-geral. E essa pessoa, a partir de 1922-1923, foi Iôssif Stálin.

Muitos antigos territórios do Império Russo não se tornaram partes da URSS imediatamente em 1922, mas "se uniram" a ela mais tarde. Como a maioria dessas repúblicas não tinha governos independentes - eram repúblicas socialistas controladas por um Comitê Central do Partido Comunista da União - sua “decisão” de ingressar na URSS foi, na realidade, apenas uma formalidade.

Tornaram-se repúblicas da União Soviética, em 1925, as Repúblicas Socialistas Soviéticas do Uzbequistão e do Turcomenistão; em 1929, a do Tadjiquistão; em 1936, as do Cazaquistão, do Quirguistão, da Geórgia, do Azerbaijão e da Armênia; em 1940, da Letônia, da Lituânia, da Estônia e da Moldávia. Somadas às anteriores, em 1940, existiam 17 repúblicas dentro da URSS.

E todas essas 17 repúblicas eram, na realidade, governadas a partir do centro - de Moscou, onde o Comitê Central e seu Secretário-Geral ficavam. Na verdade, o projeto de Stálin prevaleceu e as Repúblicas Socialistas Soviéticas não se tornaram Estados socialistas independentes, e sim repúblicas-satélites dentro da URSS.

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