Sergo Béria: construiu foguetes no exílio
O braço direito de Stálin e o chefe do NKVD, Lavrênti Béria, tinha apenas um filho: Sergo, que conquistou uma carreira brilhante como engenheiro militar.
No início da Segunda Guerra Mundial, o jovem de 20 anos fez um curso intensivo de três meses no laboratório de engenharia de rádio do NKVD e juntou-se ao Exército com o posto de tenente técnico. Em 1941, foi enviado a uma operação especial secreta no Irã, serviu no Grupo de Forças do Norte do Cáucaso em 1942 e, mais tarde, em uma missão especial, participou das conferências de Teerã e Ialta entre os chefes da coalizão anti-Hitler. Após o fim da guerra, Sergo se formou na Academia Militar de Comunicações de Leningrado. Enquanto se preparava para pegar o diploma, ele projetou o primeiro míssil soviético de cruzeiro aéreo KS-1 Kometa e se tornou um dos principais engenheiros militares do país. Suas dissertações de mestrado e doutorado foram baseadas em seus próprios projetos, pelos quais também recebeu a Ordem de Lênin e o Prêmio Stálin.
Mas tudo mudou drasticamente após a prisão e execução de seu pai em 1953. Sergo foi colocado em confinamento solitário por um ano e privado de todas as classificações, prêmios e posições acadêmicas. Uma comissão o considerou culpado de plágio, suas dissertações foram classificadas como retrabalhos de estudos de outros pesquisadores e engenheiros. Em 1954, junto com sua mãe, foi enviado para “exílio administrativo” nos Urais, onde recebeu um apartamento de três quartos e o direito de trabalhar em seus projetos de foguetes. Filho e mãe também mudaram o sobrenome para Gegetchkori, convencidos de que “com Béria, as pessoas nos destruir”.
“Gegetchkori era o nome de solteira de sua mãe. Ele sempre o usava ao se apresentar. Nem uma vez sequer mencionava que seu pai era Lavrênti Béria”, disse seu colega Rel Matafonov, nos anos 1950. Sergo começou sua carreira do zero, como engenheiro comum, ganhando destaque novamente ao longo dos anos. Em 1964, solicitou transferência para Kiev, na Ucrânia, onde continuou a subir na carreira. De 1990 a 1999, Sergo trabalhou como projetista-chefe no Instituto de Pesquisa de Kiev. Mais tarde, deixou de esconder o fato de ser filho de Béria e até escreveu suas memórias, nas quais tentou desesperadamente reabilitar seu pai, a quem amava muito. Ele acreditava firmemente que Béria havia sido bode expiatório pelos crimes da elite do Partido e que todas as ações de seu pai tinham sido do interesse do Estado.
Leonid Khruschov: rebelou-se contra Stálin e morreu em batalha
O homem que encerrou o culto à personalidade de Stálin teve seis filhos, mas foi o mais velho deles, Leonid, quem ganhou maior destaque.
O filho do futuro secretário-geral da União Soviética começou sua vida profissional em uma fábrica. Mas, em 1939, quando eclodiu a Guerra Soviética-Finlandesa, ele se alistou voluntariamente no Exército Vermelho e solicitou transferência para a frente como piloto de bombardeiro. Durante o breve conflito, Leonid realizou 30 missões.
Um ano depois, em junho de 1941, a Alemanha invadiu a União Soviética, dando início à chamada Grande Guerra Patriótica. Leonid foi novamente à frente, mas sofreu um acidente no início de julho e ficou gravemente ferido. Em 1942, com a perna ainda machucada, foi mais uma vez despachado para a frente, desta vez como piloto de caça. Segundo as memórias de sua irmã Rada, Leonid teria sido mandado de volta à frente como punição por ter acidentalmente – e supostamente – baleado um marinheiro em 1942 enquanto estava bêbado em uma festa (a neta de Leonid, Nina Khruschova, acredita que o incidente foi inventado e alega não haver provas). De qualquer forma, o filho de Khruschov continuou voando; em 1943, ele não retornou de uma incursão e foi declarado desaparecido em ação.
Segundo a versão oficial dos acontecimentos, o avião de Leonid foi abatido enquanto dava cobertura à aeronave de um amigo contra um alemão Focke-Wulf. Mas há também uma teoria da conspiração, inventada – como agora se acredita – pelos stalinistas para desacreditar Nikita Khruschov, embora fosse muito popular na época.
Afirmava-se que Leonid teria bandeado para o lado alemão; na sequência, foi sequestrado a pedido de Stálin e morto a tiros, e o caso acabou sendo posteriormente silenciado. A história jamais foi confirmada, embora o “alvo” não fosse aleatório:
“Leonid cresceu teimoso. Acho que isso causou um conflito com o pai, porque este queria torná-lo comunista, mas ele não tinha intenção de se tornar um”, afirma Nina, bisneta de Nikita Khruschov. Em suas palavras, Leonid se comportava como um playboy de Moscou, considerava-se acima dos demais e era hiperativo. Hoje, ele seria considerado um “viciado em adrenalina”, diz Nina.
Galina Brejneva: fugiu com artista de circo e morreu em hospital psiquiátrico
Quando jovem, a filha de Brejnev sonhava em se tornar atriz, mas seu pai a enviou para estudar filologia na universidade. Isso, porém, não “curou” seu desejo artístico, e Galina encontrou outra saída para sua natureza expressiva.
Em 1951, ela se apaixonou pelo artista de circo Evguêni Milaiev (que tinha 41 anos, apenas quatro anos mais jovem que o próprio Leonid Brejnev; Galina tinha 22). Depois de abandonar a universidade, ela conseguiu um emprego como figurinista no mesmo circo, e, juntos, eles fugiram. Embora uma filha tenha nascido em decorrência dessa união, o casamento acabou quando Milaiev teve um caso com uma colega também artista. O segundo casamento de Galina Brejneva foi com o filho do famoso ilusionista Emil Kio: Igor Kio, de 18 anos. Mas, depois de apenas dez dias, o casal se divorciou por insistência do influente pai de Galina.
Quando Brejnev assumiu as rédeas do poder, sua filha se tornou um ímã para a alta sociedade boêmia. Ela acabou encontrando o “par perfeito” no tenente-coronel de Assuntos Internos Iúri Tchurbanov, mas passava o tempo todo em saraus, onde se tornou viciada em álcool.
A vida de Galina virou um pesadelo após a morte do pai em 1982. A alta sociedade lhe deu as costas, seu marido foi preso, e a família Brejnev virou alvo de processos anticorrupção. O alcoolismo também se tornou público. No final, sua filha a internou em uma clínica psiquiátrica, onde morreu de derrame.
Natália Khaiutina (Iejova): tentou se enforcar e reabilitar o pai
Durante os expurgos stalinistas de 1937 e 1938, quase 700.000 pessoas foram condenadas à morte (de acordo com documentos de arquivo), e tudo em nome do então chefe do NKVD, Nikolai Iejov. O chamado “anão sangrento” (pois tinha somente 1,50 m de altura) não possuía filhos, mas adotou uma filha, Natália.
Há vários boatos sobre sua origem, incluindo a hipótese de ser filha ilegítima da última esposa de Iejov, ou de ser filha ilegítima do próprio Iejov, ou mesmo filha de uma família de diplomatas soviéticos executada pelo NKVD de Iejov.
Seja qual for a verdade, a garota foi adotada aos 11 meses e se tornou a principal diversão de Iejov. “Ele era um pai fantástico. Lembro-me de como ele fez patins com duas lâminas para mim com as próprias mãos e me ensinou a jogar tênis e gorodki(uma espécie de taco]. Ele passava muito tempo comigo”, lembrou Natália.
Quando, em 1938, Iejov foi preso, ele implorou: “Não toquem na minha menina!” Sua mãe adotiva já havia morrido por suicídio e, portanto, Natália foi enviada a um orfanato especial para “inimigos do povo” em um vagão vigiado. Ainda durante a jornada, disseram à garota para esquecer o nome anterior, mas Natalia adorava o pai e aproveitava qualquer oportunidade para falar sobre quem ela era. No entanto, o estresse acabou se tornando insuportável, e ela decidiu se enforcar – só que a corda não resistiu. “O meu corpo estava todo arranhado, meu vestido ficou rasgado, e aquela corda continuava pendurada no meu pescoço”, contou.
Mais tarde, Khaiutina se mudou voluntariamente para uma vila perto de Magadan (8.000 km a leste de Moscou), onde seu pai havia exilado muitas de suas vítimas – a ideia era estar mais perto delas. Em 1999, tomou medidas legais para reabilitar seu pai, mas o tribunal rejeitou o caso. Em Magadan, compôs poemas e músicas, e raramente saía de casa. Cada batida na porta a fazia estremecer: “Ainda acho que um dia eles baterão na porta e se vingarão de mim por quem era meu pai”.
Natália Khaiutina faleceu em 2016.
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