Na primavera de 1939, a situação na Europa era complicada. A política de apaziguamento sugerida pelo Reino Unido e pela França com o intuito de satisfazer o crescente apetite de Hitler e evitar a guerra fracassou completamente.
O primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain e seu homólogo francês, Eduard Daladier, permitiram que a Alemanha anexasse a Áustria e obrigaram a Tchecoslováquia a entregar a Hitler a região densamente povoada de Sudetas.
Quando Chamberlain voltou de Munique, onde assinou um acordo com Hitler, declarou que conseguiu garantir a paz. Mas, seis meses depois, em março de 1939, Hitler quebrou o acordo e mandou ocupar o resto da Tchecoslováquia. Ficou claro que era impossível apaziguar a Alemanha, e o Ocidente finalmente apelou a Moscou.
Insinuação de Stálin
Na véspera da ocupação alemã da Tchecoslováquia, Iôssif Stalin fez um discurso durante o Congresso do Partido Comunista em Moscou. "Estados agressores querem iniciar a guerra, violando os interesses de Estados não agressivos, particularmente a Inglaterra, a França e os Estados Unidos. Apoiamos as nações que se tornaram vítimas da agressão e lutam pela independência de suas pátrias", disse Stálin.
Era uma insinuação clara de que Moscou estava pronta a negociar com as democracias ocidentais, embora a União Soviética ainda as considerasse como nações capitalistas hostis.
Stálin entendeu que a URSS precisava muito de uma aliança com a Grã-Bretanha e a França para evitar o confronto com Hitler. A formação de uma coalizão de duas frentes parecia uma boa opção.
Disputas
Neville Chamberlain, que desempenhou papel crucial na definição da política das democracias ocidentais, odiava o comunismo e a mera ideia de uma cooperação com Stálin lhe era repugnante.
"Devo confessar a mais profunda desconfiança em relação à Rússia. Não acredito em sua capacidade de manter uma ofensiva eficaz, mesmo que quisesse. E desconfio dos seus motivos, que me parecem ter pouca ligação com as nossas ideias de liberdade", escreveu Chamberlain a um amigo em março de 1939.
A URSS não fazia fronteira com a Alemanha na primavera de 1939, e, no caso de guerra, o Exército Vermelho teria que passar pelo território da Polônia ou Romênia.
"Na verdade, a União Soviética teve disputas territoriais tanto com a Polônia quanto com a Romênia [sobre a Ucrânia Ocidental, a Bielorrússia Ocidental e a Moldávia]. Assim, ambos os Estados temiam que, uma vez que as forças soviéticas fossem autorizadas a entrar em seu território, nunca mais o deixariam", diz o historiador e diretor do Centro Internacional de História e Sociologia da Segunda Guerra Mundial, Olég Budnitski.
Então futuro premiê do Reino Unido, Winston Churchill fez um discurso no Senado, afirmando não haver “meios de manter uma frente oriental contra a agressão nazista sem a ajuda ativa da Rússia". Segundo pesquisa de opinião pública realizada em junho de 1939, 84% dos britânicos eram a favor de uma aliança militar anglo-francesa-soviética. Assim, Chamberlain e Daladier começaram, com relutância, as negociações com Stálin.
Negociações sub-representadas
Entre 15 de junho e 2 de agosto, representantes britânicos, franceses e soviéticos se reuniram em Moscou para determinar os termos políticos da possível convenção. Segundo o acordo preliminar, as três potências prometiam garantir apoio militar a todos os países que faziam fronteira com a Alemanha em caso de uma agressão proveniente de Hitler.
No entanto, quando começaram as negociações diretas entre as missões militares, tudo desmoronou rapidamente. A URSS estava representada nas negociações pelo marechal Kliment Vorochilov, ministro da Defesa soviético e membro do círculo de Stálin, enquanto a Grã-Bretanha e a França enviaram apenas oficiais militares de baixa hierarquia para Moscou: o almirante Reginald Drax e o general Aimé Doumenc, que não estavam autorizados a tomar quaisquer decisões sem a aprovação de seus governos.
Beco sem saída
"Os soviéticos ficaram chocados com essa atitude e não levaram as negociações a sério", explica Olég Budnitski. Além disso, as negociações foram interrompidas imediatamente após Vorochilov ter questionado se a Polônia e a Romênia deixariam o Exército Vermelho atravessar seus territórios para combater a Alemanha. Drax e Doumenc não tinham competência adequada para responder a essa importante pergunta.
"Stálin acreditava que esses países eram apenas fantoches, e que a Grã-Bretanha e a França poderiam forçá-los a concordar. No entanto, isso não era fácil, Londres e Paris não conseguiram convencer Varsóvia de que a URSS era melhor do que a Alemanha", diz Budnitski.
"A missão soviética considera que, sem uma resposta positiva a esta pergunta, todos os esforços para criar uma convenção militar estão condenados ao fracasso", afirmou então Vorochilov, convidando Drax e Doumenc a aproveitar o tempo em Moscou. As infrutíferas conversações foram oficialmente interrompidas em 21 de agosto de 1939.
Apenas dois dias depois, em 23 de agosto de 1939, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha nazista, Joachim von Ribbentrop, desembarcou em Moscou. Chocando a comunidade internacional, o alemão chegava para assinar o Tratado de Não Agressão da URSS com a Alemanha de Adolf Hitler, também conhecido como Pacto Môlotov–Ribbentrop, que incluía um protocolo secreto sobre a divisão da Polônia e dos Estados Bálticos.
Desta forma, Stálin optou por um acordo com Hitler, em vez da continuação de negociações que pareciam inúteis com Londres e Paris.
Entenda por que a URSS assinou o Tratado de Não Agressão aqui!