A reputação do homem por trás da Revolução Russa de 1917 foi (e em parte ainda é) extraordinária para as grandes massas: Vladimir Lênin era chamado de “vójd” (“líder”), “astuto gênio” e, carinhosamente, “vovô”.
Quem teria pensado naquela época que sua imagem histórica idealizada tão distante de como seus parentes e amigos o viam? Hoje, pessoas como Lênin seriam classificadas como aproveitadoras e fanáticas por relações poligâmicas.
"Peço que envie um dinheirinho: o meu está terminando"
“Toda a família vivia apenas da pensão da mãe e o pouco que restava depois da morte do pai”, escreveu a irmã mais velha de Lênin, Anna Ulianova, em 1886.
A família de Lênin nunca foi rica. Pelo contrário, o pai de Lênin morreu cedo e a tarefa de criar a família com seis filhos recaiu sobre a mãe, Maria Ulianova.
A situação foi piorada pelo fato de que nenhum dos filhos da família Ulianov trabalhou até bem depois de atingirem a idade adulta. Todos eles escolheram o caminho revolucionário. E todos os filhos, exceto Vladímir (que emigrou), foram para trás das grades na Rússia.
Lênin também quase não tinha renda própria e sobreviveu com o dinheiro da mãe até os 40 anos. Desses, ele passou 17 anos no exílio no exterior, mudando-se ora para a Suíça, ora para Paris e ora para a Alemanha.
Na Suíça, ele ficou em um resort para tratar da saúde. "Estou neste resort já há alguns dias e me sento muito bem... A vida aqui é muito cara, então eu já ultrapassei meu orçamento... Se possível, envie-me mais uns cem rublos”, escreveu ele à mãe em julho de 1895.
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Três semanas depois, ele se mudou para Berlim, de onde enviou outra mensagem urgente: “Para meu horror, vejo que estou novamente passando por ‘dificuldades’ com as finanças: a 'tentação' de comprar livros etc. é tão grande que o dinheiro vai o diabo sabe para onde. Se possível, envie-me uns 50 a 100 rublos”. E a mãe sempre enviava dinheiro.
Vendeu a casa pelo filho
Claro que com uma aposentadoria Maria Ulianova não poderia prover todas as crianças sozinha (apesar de ela receber 100 rublos por mês, uma boa quantia na época).
Além disso, enquanto estava no exílio, o filho revolucionário e a mulher dele, a camarada Nadejda Krupskaia, nem economizavam nem em serviçais, que ordenavam algumas horas por dia com eles. O casal também comia frequentemente em restaurantes: a própria Krupskaia admitiu que a única coisa que sabia “cozinhar era mostarda”.
Como resultado, a mãe de Lênin vendeu a propriedade da família e a herdade comprada com a herança deixada pelo marido. A maior parte do dinheiro foi destinada a pagar a dívida da família.
Ela abriu uma conta bancária para colocar o restante e acredita-se que a família tenha vivido da porcentagem rendida pela poupança. O “fundo familiar” era assunto discutido em quase todas as cartas enviadas por Lênin à mãe.
Triângulo amoroso
Em geral, as mulheres tiveram papel principal na vida de Lênin, ao contrário dos homens, com quem as amizades dele não vingaram.
"Todos os camaradas dele sabiam que Lênin não era como os outros", diz o pesquisador especializado no líder revolucionário, Lev Danilkin. "Pode-se dizer até mesmo que ele não tinha amigos", resume.
Krupskaia foi a única companheira de Lênin, que esteve junto dele toda a vida. Eles se conheceram em uma reunião de marxistas disfarçada de reunião de chá com panquecas. A partir de então, Lênin aparecia para almoçar na casa dela aos domingos – sem deixar de ir visitar outras alunas.
Quando Krupskaia escolheu ir, por vontade própria, atrás de Lênin, que tinha sido exilado para a Sibéria, eles se casaram. Mas, a julgar pelas cartas dela, a intimidade entre eles morreu no exílio siberiano: “À noite, não sabíamos como matar o tempo. Não tínhamos vontade de ficar ali no quarto frio e sem conforto e íamos ao cinema e ao teatro”.
Estranhamente, a situação só fez Krupskaia se aproximar ainda mais dele. Lênin nunca reconheceu os desejos sexuais das mulheres (apesar de ter sido um dos autores da revolução sexual).
Certa vez, ele chegou a declarar que as mulheres não podiam aspirar à libertação sexual, já que elas não têm “conhecimento profundo e diversificado sobre o assunto”.
Isto, no entanto, não o impediu de ter uma amante em Paris: a “fervorosa bolchevique” Inessa Armand. No entanto, ele se recusou categoricamente a deixar Krupskaia, sua “esposa principal”.
As duas se tornaram amigas e logo começaram a morar juntas. Não abertamente, claro. Seus camaradas marxistas perceberam apenas que o trio havia adotado o pronome de tratamento informal - uma grande raridade para Lênin, que geralmente se dirigia a todos de maneira muito formal.
O líder dos bolcheviques viveu apenas três anos a mais que Inessa. Após sua morte, em 1924, Krupskaia pediu que os restos mortais de seu marido fossem enterrados ao lado das cinzas de Armand. O pedido foi repudiado.