O britânico que é obcecado pelo tsar Nikolai 2° e a família Romanov

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
Muitas pessoas ao redor do mundo estão interessadas no último tsar da Rússia. Mas poucas são tão apaixonadas quanto Paul Gilbert, que dedicou sua vida a estudar a última família imperial.

Toda uma iconóstase dedicada a Nikolai 2° fica sobre a mesa do escritório de Gilbert no Canadá. Ali, há vários ícones do tsar e de sua família, um busto e a reprodução de um retrato pintado por Valentin Serov.

LEIA TAMBÉM: Quanto sangue russo corria pelas veias dos Romanov?

Ao entrar em igrejas ortodoxas russas, Gilbert sempre encontrou uma paz interior que não experimentou em nenhum outro lugar. “Sinto-me entrando em uma máquina do tempo. A arquitetura, as tradições do Velho Mundo, os ícones, o cheiro do incenso associado às liturgias divinas e os coros angelicais nunca deixam de ter um efeito espiritual muito profundo em mim”, diz.

Neste mês de outubro, Gilbert partirá para sua terra natal, a Inglaterra, que ele deixou com os pais ainda pequeno. Ali, ele sediará uma grande conferência em celebração ao último tsar da Rússia, Nikolai 2°, seu 150º aniversário de seu nascimento e seu centenário de morte.

Tudo o que Gilbert faz, especialmente esta conferência, tem por objetivo não apenas honrar o tsar, mas também esclarecer o que segundo ele seriam boatos sobre o imperador criadospor historiadores ocidentais.

Um deles, de acordo com Gilbert, é o de que a morte de Nikolai 2°, em 1918, teria sido recebida com indiferença pelo povo russo. Diários que Gilbert pesquisou dizem que os serviços memoriais para o tsar assassinado foram mantidos em igrejas na Rússia, e que "pessoas de todos os níveis da sociedade choraram e oraram", como registrou então o príncipe Serguêi Golitsin.

Missão de esclarecer

Em 1994, Gilbert fundou o Royal Russia, organização tem por objetivo oferecer informações mais precisas sobre a família Romanov. Seu site oficial compartilha notícias, filmes antigos e fotos sobre as atuais restaurações de palácios, exposições, joias Fabergé imperiais etc.

Gilbert lançou diversos periódicos sobre a história imperial russa. Neles, ele busca dar voz a historiadores russos e apresentar pesquisas baseadas em novos documentos descobertos em arquivos russos desde a queda da União Soviética.

A editora de Gilbert também reproduz diários e memórias de Romanov, cartas e álbuns de fotografias.

No segundo semestre de 2018, será publicada a primeira monografia de Gilbert, “My Russia. Ekaterinburg” (“Minha Rússia. Iekaterimburgo”). Nela, o autor apresenta suas muitas visitas à cidade onde Nikolai 2° e sua família foram mortos a tiros em 1918.

Outro livro de Gilbert ainda será publicado em 2019, “Nicholas II in Post-Soviet Russia” (“Nikolai 2° na Rússia Pós-Soviética”).

Caso de amor com a Rússia

Apesar de não ter raízes russas, Gilbert se interessa por tudo o que tem a ver com o país desde a infância. Ele coleciona livros, fotografias e cartões postais antigos em homenagem à família Romanov.

Nos últimos 25 anos, ele se dedicou em tempo integral à pesquisa e escreveu sobre a história da dinastia Romanov. Ele viajou para a Rússia 29 vezes, começando em 1986, quando ainda era tabu falar sobre a família real devido à propaganda comunista.

O trabalho de Gilbert foi reconhecido pelos descendentes da dinastia Romanov. A Grã-duquesa Maria Vladimirovna, neta da prima de Nikolai 2°, chegou a condecorá-lo.

Em 1998, Gilbert foi convidado para um reenterro histórico em São Petersburgo dos restos mortais de Nikolai 2°, de sua esposa e de três de seus cinco filhos. Lá, Gilbert se conheceu representantes de outro ramo dos descendentes dos Romanov, os príncipes Nikolai e Dmítri Romanovitch.

‘Romanovfilos’

A vindoura conferência na cidade inglesa de Colchester reunirá cerca de 150 participantes de todos os cantos do Reino Unido, assim como da Europa (até mesmo do Vaticano), e de lugares tão distantes como o Canadá, os EUA e a Austrália.

“Eles vêm de todas as áreas e incluem historiadores, cristãos ortodoxos, membros do clero, monarquistas e simpatizantes de Nikolai 2°”, diz Gilbert.

Um século após o assassinato dos Romanov, o legado da família perdura e eles têm sido assunto de inúmeros livros, filmes, documentários, exposições e fóruns. O trágico episódio da história atrai muita atenção até os dias atuais. Segundo Gilbert, seu site teve mais de 5,6 milhões de acessos em 2017, e a página do Facebook tem mais de 160.000 seguidores de todo o mundo.

Quer receber as principais notícias sobre a Rússia em seu e-mail? 
Então assine nossa newsletter semanal ou diária.