Quantas pessoas morreram no Terror Vermelho russo?

“Nos porões da Tcheka”, de Ivan Vladímirov (1919).

“Nos porões da Tcheka”, de Ivan Vladímirov (1919).

Domínio público
A Guerra Civil russa foi marcada por batalhas brutais entre Vermelhos e Brancos. Assim, há um século, os bolcheviques fizeram uso do chamado ‘Terror Vermelho’ em busca da vitória.

1. O que foi o Terror Vermelho?

No contexto russo, o Terror Vermelho se refere às políticas repressivas bolcheviques quanto a seus oponentes políticos e os chamados "inimigos de classe". Ele foi anunciado em 5 de setembro de 1918, em uma resolução especial adotada pela liderança dos bolcheviques. Estipulou-se então que "todos os que tivessem qualquer relação com organizações, conspirações e motins dos Brancos deviam ser mortos a tiros".

Na faixa, lê-se: “Morte à burguesia e seus ajudantes. Vida longa ao Terror Vermelho”.

A campanha durou dois meses, mas o Terror Vermelho é usado normalmente como um termo geral para todas as repressões políticas do governo soviético durante a Guerra Civil na Rússia, de outubro de 1917, quando os bolcheviques derrubaram o Governo Provisório, até 1922, quando eles finalmente derrotaram os inimigos.

2. Por que o Terror Vermelho ocorreu?

Ressalta-se, por vezes, que, depois que os bolcheviques tomaram o poder, não governaram com mão de ferro. Eles libertaram seus oponentes, muitos dos quais se tornaram seus inimigos mortais.

Eles também colocara apenas sentenças leves para os que se envolveram em conspirações contra si. Mas tudo mudou quando a luta se intensificou.

O Terror Vermelho foi declarado pelos bolcheviques logo após uma tentativa de assassinato de seu líder, Vladímir Lênin, em 30 de agosto de 1918. Três tiros foram disparados contra ele e uma das balas o feriu gravemente, mas ele sobreviveu.

“Atentado contra a vida de Vladímir Lênin”, de Piotr Belousov (1957).

Houve uma série de assassinatos e atentados contra altos funcionários soviéticos. Apenas em julho de 1918, quando a Guerra Civil ganhava força, 4.110 oficiais soviéticos foram assassinados no país. Assim, os bolcheviques consideravam o Terror Vermelho como uma resposta legítima aos ataques dos inimigos.

3. Como tudo começou?

Logo após a tentativa falha de assassinato de Lênin, 512 representantes da burguesia e das classes altas que eram mantidos como reféns pelos bolcheviques (que usavam amplamente essa prática na época) foram mortos a tiros em Petrogrado. Na segunda metade de setembro daquele ano, mais 300 pessoas foram mortas.

Em Moscou, quase 80 pessoas foram executadas em público em 5 de setembro. Entre os mortos estavam dois ex-ministros dos negócios internos e o último presidente da câmara alta do parlamento imperial, Ivan Scheglovitov.

Ivan Scheglovitov.

"Eis o ministro do ex-tsar que vinha derramando o sangue de trabalhadores e camponeses toda sua vida", chegou a gritar um soldado do pelotão de fuzilamento antes de executá-lo.

Segundo historiadores, entre 1.600 e 8.000 pessoas foram mortas em todo o país durante aquele outono.

4. Todos os bolcheviques concordavam com o Terror Vermelho?

Nem toda a liderança bolchevique estava unida na questão do terror. Em outubro, diversos altos funcionários do partido, entre eles o ministro dos Negócios Internos, exigiram que se interrompesse a repressão. Assim, em novembro 6 foi declarada uma anistia.

Ao mesmo tempo, a onda de violência parecia apenas estar piorando enquanto a Guerra Civil engrenava, e muitos líderes bolcheviques eram partidários do Terror Vermelho.

"Temos que exterminar as classes inúteis. Você não precisa procurar provas de que uma pessoa acusada tenha agido contra os soviéticos. A primeira questão é a que classe a que ela pertence, quais são suas origens, qual sua criação, educação e profissão. Estas questões determinarão o destino do acusado. Este é o sentido e essência do Terror Vermelho ", dizia o influente político bolchevique Martin Latsis.

O próprio Lênin afirmou que as afirmações de Latsis eram "bobagens", acrescentando que a tarefa não era exterminar fisicamente toda a burguesia, mas eliminar as condições sociais que criaram tal classe.

5. Quantas pessoas foram mortas durante o Terror Vermelho?

As estimativas disponíveis diferem muito entre si. O historiador Serguêi Vôlkov afirma que, entre 1917 e 1922, os bolcheviques morreram quase dois milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, historiadores que conduzem pesquisas nos arquivos dos órgãos responsáveis pelas políticas de repressão dizem que o terror organizado matou 50.000 pessoas. Algumas pessoas acreditam que este valor seja, na verdade, o dobro, quando incluídas as vítimas das revoltas camponesas contra o governo soviético.

A morte de mais de 100.000 pessoas é um número chocante, mas constitui apenas uma pequena fração do número total de vítimas da Guerra Civil, que são estimadas entre 10 e 12 milhões de pessoas.

6. E o que foi o Terror Branco?

O Terror Branco foi, oficialmente, uma das principais razões para as repressões bolcheviques. Ele começou a ganhar impulso a partir de meados de 1918, quando as lutas antibolcheviques aumentaram drasticamente.

O número de vítimas das repressões dos Bbrancos é muito obscuro. É muito mais difícil de calcular este número porque, diferentemente do que ocorreu no caso dos Vermelhos, os Brancos não tinham uma única estrutura organizada, já que representavam um conglomerado de forças lutando contra os bolcheviques.

Cadáveres das vítimas do Terror Vermelho no inverno de 1918 em Evpatoria, Crimeia, jogados pelos bolcheviques no Mar Negro mas levados pela maré de volta à praia no verão do mesmo ano.

Os Brancos não fizeram campanhas oficiais anunciando o terror, como fizeram os Vermelhos. Por isto, as atrocidades cometidas pelos Brancos atraíram menos atenção.

Mas, de acordo com muitos historiadores, as táticas usadas por estes eram tão bárbaras quanto às daqueles.

Uma barca levando soviéticos libertados do cativeiro dos Brancos em outubro de 1918.

Como afirma o renomado historiador contemporâneos Iliá Ratkóvski, especializado em Terror Branco e Vermelho, pelo menos que 500.000 pessoas foram mortas pelos Brancos, apesar das estimativas de outros pesquisadores serem mais modestas.

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