Por que Catarina, a Grande, convidou tantos estrangeiros para a Rússia?

História
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV
Os torcedores estrangeiros com ingressos para os jogos não precisaram se preocupar com vistos para a Copa do Mundo na Rússia, mas esta não é a primeira vez que as leis de migração do país foram atenuadas. Mais de dois séculos atrás, Catarina convidou uma leva de europeus para o país como parte de um manifesto especial.

A Rússia acolheu estrangeiros muito antes do manifesto da imperatriz Catarina, o Grande, em 22 de julho de 1763. Ivan 3º, o primeiro governante do Estado russo centralizado, usou avidamente os serviços de especialistas não russos que o ajudaram a reconstruir o Kremlin e organizar a produção de canhões no final do século 15.

Cinquenta anos depois, o tsar com o nome assustador – Ivan, o Terrível – também recorreu à ajuda de estrangeiros quando decidiu montar sua própria frota no Mar Báltico. Além disso, Pedro 1º, o fundador do Império Russo no início do século 18, foi duramente criticado por seus compatriotas que o consideravam excessivamente dependente de especialistas europeus em relação à sua política.

Por que a imperatriz convidou os estrangeiros?

O convite de Catarina 2º aos colonos da Europa foi um passo sem precedentes na Rússia. Devido à escala da iniciativa, ela conseguiu atrair dezenas de milhares de colonos estrangeiros. Mas por quê? Voltemos ao manifesto para obter a resposta.

No documento, a imperatriz destacou que o governo “vê muitos lugares adequados ainda desabitados, enquanto muitos deles escondem em suas profundezas a infinidade de diferentes metais, bem como florestas, rios, lagos e mares (…) e têm grande potencial para aumentar um número de fábricas e outras indústrias.”

Durante o reinado de Catarina, vastos territórios no sul e sudeste foram incorporados ao Império. E, mesmo sem as novas conquistas, havia regiões enormes pouco povoadas. Levar pessoas para esses territórios e torná-los uma parte mais significativa da economia nacional era o objetivo da imperatriz.

Como o governo russo atraiu colonos?

O manifesto foi traduzido para vários idiomas europeus e distribuído por meio de agentes diplomáticos russos nesses países, além de publicado em jornais locais.

Para atrair pessoas para a oferta, o Estado russo forneceu benefícios. Os colonos receberam um lote decente de terra (além de alguns lotes adicionais para seus descendentes). Também obtiveram isenção de impostos por vários anos (até 30 anos se escolhessem permanecer no campo) e foram liberados do serviço militar.

Eles receberam ainda o direito de autonomia – a administração imperial não podia interferir nos assuntos internos de suas comunidades, dinheiro para realocação e alguns empréstimos e benefícios para os itens que produziam e vendiam. Pode-se dizer que os russos locais nunca desfrutaram de tal status.

Mas, provavelmente, uma das razões mais importantes pelas quais os estrangeiros decidiram se estabelecer no país foi porque eram livres para orar e construir suas próprias igrejas. Este foi, por exemplo, um fator-chave para muitos protestantes alemães que se sentiam insatisfeitos vivendo em territórios dominados por católicos.

Desse modo, os protestantes, especialmente menonitas, compunham grande parte do número total de pessoas que aceitaram a oferta da imperatriz.

Quantos estrangeiros se mudaram?

Na primeira década após o manifesto, cerca de 30 mil pessoas se transferiram para a Rússia. Eram principalmente alemães que escolheram a pouco povoada região do Volga. Em 1765, havia apenas 12 colônias, mas, apenas quatro anos depois, o número já havia crescido para 105. A principal ocupação dos colonos alemães era a agricultura e alguns ramos da indústria que estavam intimamente ligados a ela.

Não foi surpresa alguma, uma vez que Catarina deu, conscientemente, “maior ênfase à agricultura (…) É por isso que a principal força de trabalho que deveria ser trazida para a Rússia [segundo a imperatriz] eram camponeses falidos como resultado da Guerra dos Sete Anos”, como destaca a historiadora russa Irina Tcherkozianova.

Outra região popular onde os estrangeiros se estabeleceram foi o território que atualmente pertence à Ucrânia – na época, acabara de ser conquistado das vastas terras da Turquia que se estendiam ao longo da costa do mar Negro. Foi nessa área chamada Novorossia (Nova Rússia) onde muitos cristãos (sérvios, gregos, armênios) que fugiram da Turquia para a Rússia escolheram viver. No total, durante o governo de Catarina, cerca de 100 mil estrangeiros se mudaram para a Rússia.

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