De Tolstói a Dostoiévski, gênios da literatura russa foram consumidos por vícios

Vadim Nekrasov, Wikipedia, Viktor Gritsuk, Karl Bulla
Entre jogos de azar e drogas, adultério e bebedeira, grandes escritores russos experimentavam de tudo.

Ninguém é perfeito, claro, e até os maiores representantes da classe intelectual têm suas recaídas. Os maiores escritores e poetas russos não eram diferentes, e viver ao lado deles podia ser uma enorme dor. O Russia Beyond compilou uma lista dos vícios que acometiam os gigantes da literatura e como eles conseguiram encontrar a cura.

  1. Fiódor Dostoiévski, viciado em jogo

Famoso por seus profundos romances psicológicos, que refletem as facetas mais obscuras da alma humana, Dostoiévski (1821–1881) teve uma vida difícil - e um dos monstros que ele teve que combater era o vício no jogo. Em 1862, de férias na Alemanha, o escritor experimentou o jogo na roleta e foi consumido pela paixão.

Durante uma década, Dostoiévski jogou como se não houvesse amanhã, tentando ganhar todas – e só perdendo tudo. A mulher do escritor, Anna, lembrava-se: “Ele costumava voltar para casa pálido e exausto, pedindo dinheiro e voltando ao cassino ... E assim ia, até perder tudo o que tínhamos. Ele costumava chorar, ajoelhando-se diante de mim, pedindo perdão ...”.

O escritor percebeu sua fraqueza. “Minha natureza é vil e apaixonada demais”, escreveu a um amigo ao lhe pedir dinheiro depois de perder tudo na roleta. Mas ele foi forte o suficiente para superar o vício.

Depois de 1871, quando nasceu o primeiro filho, ele nunca mais jogou. Anteriormente, em 1866, Dostoiévski escreveu um romance refletindo o próprio vício, “O jogador”.

  1. Lev Tolstói, viciado em sexo

Nobre e humanista, Lev Tolstói (1828–1910) lutou toda a vida contra o desejo obsessivo por mulheres. “Tenho que dormir com mulheres. Caso contrário, o desejo não me dá um único minuto livre”, escreveu em seu diário em 1853.

Ele mantinha relações sexuais fora do casamento com muitas mulheres, de nobres a camponesas, e teve que ser tratado de doenças venéreas pelo menos duas vezes.

Isto, junto aos altos padrões morais (que Tolstói impôs a si próprio, mas nos quais constantemente falhava), levou a um sentimento permanente de culpa.

Seus diários estão cheios de notas arrependidas: "Sou nojento". Depois de se casar com Sofia em 1862, ele parou e, em 1890, chegou a escrever “A Sonata a Kreutzer”, romance curto em que criticava toda a noção de relações sexuais e clamava pela castidade.

  1. Serguêi Iessênin (e muitos, muitos outros), alcoólatra

Poeta que louvava a vida rural e a natureza russa, Serguêi Iessênin (1895-1925) foi vítima do alcoolismo e se suicidou após sofrer uma profunda depressão causada pelo excesso de bebida.

Como lembravam seus amigos, no início ele passava uma imagem pública de bon vivant, que desfrutava da vida e de uma bebida após a outra, mas depois o vício tomou o poeta.

"Envenenei-me com este veneno amargo... olhos azuis molhados de vodca", escreveu Iessênin sobre si próprio um ano antes do suicídio.

Seu amigo Vladímir Tcherniavski reproduziu uma frase desesperada de Iessênin posteriormente: "Como você não entende? Eu não posso senão beber... Se eu não bebesse, como sobreviveria a isso?"

Iessênin está longe de ser o único escritor russo que teve problemas com a bebida. O mesmo aconteceu com Aleksander Fadéiev, que liderou a União dos Escritores Soviéticos, o escritor dissidente Venedikt Eroféiev e Serguêi Dovlátov, escritor que deixou Leningrado para trás em busca de refazer a vida em Nova York.

Fadéiev deu um tiro em si mesmo e os outros dois morreram relativamente jovens. Parece que, para os escritores russos, a bebedeira obsessiva nunca acaba bem. E não só para eles.

  1. Mikhaíl Bulgákov, viciado em morfina

Famoso por seu místico romance “O mestre e Margarida” e também por muitas outras grandes obras, Bulgákov (1891-1940) não escolheu a vida de viciado. Ele se viciou em morfina por acidente ao servir como médico na Rússia provincial, em 1917.

Depois de se infectar acidentalmente, ele teve que tomar grandes doses de morfina para aguentar a dor, e a droga acabou tomando conta dele.

“Todos os dias ele acorda e me diz: ‘Vá à farmácia, traga-me morfina’”, relembrou sua primeira mulher, Tatiana Lappa. "Eu tinha que percorrer toda a cidade para arranjar alguma coisa e ele estava esperando por mim, sombrio e assustador, mas sempre me implorando para não colocá-lo no hospital." Sem morfina, o escritor podia ficar perigoso: certa vez ele jogou uma luminária na mulher e, de outra monta, quase atirou nela (mas não o fez, ele não era William S. Burroughs, no final das contas).

Lappa ajudou Bulgákov a se recuperar reduzindo lentamente a dose. Depois, Bulgákov escreveu “Morfina”, romance em que retrata o vício. Diferentemente dele, porém, o protagonista comete suicídio sem ter ninguém a seu lado. Lappa impediu tal final infeliz para Bulgákov, mas isso não o impediu de deixá-la depois.

Confira as últimas palavras murmuradas por escritores russos e descubra quem disse, no leito de morte,“É você, idiota?”.

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