Musical “O Mestre e Margarida” estreou recentemente nos palcos de Moscou Foto: Ievgénia Novojenina / RIA Nóvosti
“Fausto” e mitologia escandinava
Woland, o príncipe das trevas de Bulgákov, teve vários protótipos. Seu nome foi inspirado em um dos apelidos de Mefistófeles – nome que o personagem da tragédia “Fausto”, de Goethe, usou referindo-se a si próprio na cena do festival pagão Walpurgisnacht. Neste trecho ele diz: “O nobre Voland está chegando!”. No entanto, a pronúncia desse nome em alemão é “Faland”, o que teria um efeito cômico no idioma russo, pois seria fatalmente associado ao termo “fal” – isto é, o nome do cabo utilizado para içar ou baixar velas em barcos. Por isso, foi preciso alterá-lo um pouco, substituindo o V pelo W.
A bengala com cabeça de Poodle – o companheiro de Fausto aparecia assumindo a forma desse cão – também insinua uma relação com Mefistófeles, bem como a parte na qual, ao ser questionado sobre a sua nacionalidade, Woland reconhece: “pode-se dizer que sou alemão”. Segundo literatos, a aparência de Woland, alto e de pele morena, também lembra o famoso místico e aventureiro conde Cagliostro. Já o corvo no ombro e os quatro cavalos negros tempestuosos são atributos do Deus escandinavo Odin – também chamado de Wotan, variante que tem a pronúncia mais próxima do nome do protagonista de Bulgákov).
Margarida e o casamento sangrento
“A bruxa com um olho levemente estrábico” é em vários aspectos parecida com a última esposa do escritor, Elena. Mas as raízes francesas da heroína e seu parentesco com uma das rainhas também são destacadas no romance. A chave para o enigma histórico é o episódio a caminho do baile, no qual um bêbado, tendo reconhecido em Margarida a reencarnação da personalidade de sangue azul, chama-a de “brilhante Rainha Margot” e fica balbuciando “disparates sobre o casamento sangrento de seu amigo Gessar em Paris”.
François Gessar foi filólogo e editor da correspondência de Marguerite de Valois – justamente a jovem rainha cujo casamento se transformou na sangrenta Noite de São Bartolomeu e cujas aventuras Alexandre Dumas descreveu de maneira tão vívida. Bulgákov admitiu certa imprecisão histórica ao incluir Gessar, nascido no século 19, entre os participantes do famoso massacre, mas, de qualquer forma, a alusão é perfeitamente compreensível.
Romance amaldiçoado
No meio criativo, o livro é considerado um azarão. Acidentes, doenças ou mortes de muitos atores famosos são associados à participação em adaptações para teatro ou cinema. Aleksandr Abdulov (que morreu em 2008), Vladislav Galkin (encontrado morto em 2010) e Kirill Lavrov (falecido em 2007) estão entre as perdas da mais bem sucedida adaptação para as telas – a série filmada pelo diretor Vladímir Bortko, em 2005. O próprio Bortko expressou abertamente o seu ceticismo em relação à “maldição de Bulgákov”.
Outras adaptações cinematográficas também sofreram reveses por razões diversas. Por exemplo, um filme baseado na obra e dirigido por Iúri Kara ficou 17 anos aguardando lançamento por causa de problemas com os herdeiros de Bulgákov.
Símbolos maçônicos
Ao longo de todo o romance há vários índices de que tanto o próprio Woland como outros personagens pertencem à ordem dos maçons: a cigarreira de ouro de Woland com um triângulo de diamante, o manto de luto, forrado com um tecido cor de fogo, e a espada com um punho dourado.
A história da cabeça cortada de Berlioz remete à lenda sobre o crânio do último grão-mestre dos Templários, Jacques de Molay, queimado em 1314. O crânio de Molay teria sido preservado e, no século 19, enviado para a América, onde foi utilizado em rituais maçônicos. Foi retratado com frequência, adornado com pedras preciosas e exposto sobre um suporte de ouro – da mesma forma que a cabeça do pobre Berlioz, transformada em uma taça festiva.
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