6 símbolos incontestáveis da perestroika quase extintos

História
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV
Os anos da perestroika, a “reconstrução” soviética, que há três décadas conduziram a reformas pioneiras no sistema comunista de governo são vistos hoje como toda uma era na história da Rússia.

Apesar de ter durado menos de uma década, a perestroika teve seus próprios símbolos, que desapareceram completamente, marcando o fim de uma era:

1. Destilados caseiros

Uma das ações mais controversas tomadas pelas autoridades durante os anos de perestroika foi a campanha de proibição do álcool.

Ela começou dois meses após a chegada de Gorbatchov ao poder, em 1985 e durou dois anos.

O alcoolismo tomou o país nos anos finais da URSS, mas as medidas tomadas pelas autoridades pareciam ser drásticas demais: um grande aumento dos preços, fechamento das lojas de bebidas, limitação dos horários de venda de álcool, e a instrução de que as  pessoas deixassem de beber em festividades como casamentos, além da tentativa de erradicar videiras em diversas regiões da URSS.

Junto às dificuldades econômicas e à escassez de produtos nas lojas, as pessoas ficavam cada vez mais descontentes. Além disso, as medidas também prejudicaram as arrecadações fiscais do governo.

As políticas também impulsionaram o contrabando. O próprio Gorbatchov admitiu mais tarde que a campanha impulsionou a produção caseira de bebidas alcoólicas.

O álcool caseiro era produzido a todo vapor com o uso de máquinas como a da foto. Mas os resultados da campanha foram visíveis: a expectativa de vida aumentou consideravelmente e as taxas de mortalidade caíram na União Soviética então.

2. Jornal de tiragem em massa caseiros

A perestroika foi o tempo da glásnost ou “transparência”, noção que deixava implícita a liberdade de imprensa. As informações, até então altamente censuradas e controladas, começaram a fluir livremente para o público.

Isto levou a uma situação em que a tiragem de determinados jornais aumentou estrondosamente. Foi o caso do jornal semanal “Argumenti i fakti” (em português, “Argumentos e fatos”), cuja tiragem chegou aos 33,5 milhões em 1990 – até hoje, o maior jornal em circulação da história.

A demanda do público por conteúdo que não fosse censurado era tanta que o jornal era lido por 100 milhões de pessoas.

Algo parecido ocorreu naquele tempo com as revistas literárias mensais soviéticas. A glásnost levou a uma corrida às bancas de jornais atrás das últimas edições de revistas que republicavam romances antes proibidos na URSS.

A revista literária mais famosa foi a Nôvi Mir (em português, “Mundo Novo”). Sua tiragem em 1991 chegou a um recorde de 2,7 milhões de cópias. Hoje ela vende apenas 7.200 cópias.

3. Computadores pessoais soviéticos

A indústria soviética dos computadores esteve entre as líderes mundiais após a Segunda Guerra Mundial, mas, na década de 1970, começou a perder posição durante o período de estagnação econômica do país.

Mesmo assim, após o surgimento do primeiro PC saído de uma linha de produção ocidental no final dos anos 1970, a URSS lançou seus próprios computadores domésticos.

O processo foi impulsionado durante a perestroika, já que muitas empresas foram forçadas a adotar a “conversão”, diminuindo a produção de armamentos e migrando para a produção de computadores.

As escolas também começaram a dar aulas de programação de computadores, contribuindo para a proliferação do mercado de PCs soviéticos.

O primeiro computador soviético compatível com IBM Assistant-128 foi produzido juntamente com o Elektronika BK (um dos PCs soviéticos mais difundidos na época) e o Korvet, usado em aulas escolares.

Havia também o Vektor, o Vesta, o Sura e diversos clones de equipamentos ocidentais. Estes modelos foram produzidos até o início dos anos 1990, quando o colapso econômico que se seguiu à queda da União Soviética varreu de repente todas essas marcas para debaixo do tapete da história.

4. Videocassetes

A perestroika foi uma época em que videocassetes e fitas invadiram a URSS. Eram poucos os que podiam pagar por um videocassete e o equipamento também eram difícil de se obter, por isso, no final dos anos 1980, os salões de vídeo se multiplicaram.

Eles eram pequenos locais públicos que geralmente exibiam filmes em um simples videocassete. Não custavam muito e eram extremamente populares entre os jovens.

Lá era possível assistir a filmes de Hollywood que antes eram inimagináveis, como “Rambo” e “’Rocky”, que se tornaram uma parte integrante da vida de qualquer adolescente soviético comum então.

5. Jeans lavados com ácido

A perestroika mudou não apenas a maneira como as pessoas bebiam, liam e assistiam, mas também a maneira como elas se vestiam. Quase todo mundo entrou na moda dos jeans lavados com ácido.

O jeans não era tão difundido na URSS como no Ocidente, apesar de a demanda ser altíssima.

Quando as fronteiras se abriram, durante a perestroika, um novo tipo de “comerciante ambulante” encontrou este nicho de mercado, e o jeans polonês “Mawin” pipocou país afora.

Os jeans lavados com ácido também eram produzidos dentro do país por outra classe empresarial nova - gente que trabalhava em cooperativas, um novo formato econômico endossado por Gorbatchov e que tinha maior liberdade econômica.

Os cidadãos soviéticos que quisessem experimentar seu espírito empreendedor produziam jeans lavados com ácido em casa com água sanitária e depois os vendiam.

Assim, um número enorme de cidadãos soviéticos passou a usar esses jeans.

6. Cupons

Os cupons foram provavelmente os itens mais memoráveis - e onipresentes - da época da perestroika.

As reformas econômicas de Gorbatchov foram um fracasso, e a economia do país estava mergulhando em uma crise profunda. Um dos sinais mais visíveis disto foi o rápido crescimento do déficit de produtos e bens no final dos anos 1980.

O pico disto ocorreu entre 1988 e 1992. Em seguida, muitos produtos e bens passaram a ser distribuídos em troca de cupons: carne, manteiga, açúcar, sabonetes, produtos de limpeza etc.

Cada região tinham suas próprias cotas. Normalmente, uma cesta para um mês incluía um quilograma de açúcar e um quilo de farinha, 15 maços de cigarro e dois quilos de carne por pessoa.

Mas tudo se foi em 1992, quando os preços foram liberalizados e o déficit terminou.

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