O cerco de Leningrado durou 900 dias e custou 1,5 milhão vidas à URSS. Desde o início, no outono de 1941, as tropas soviéticas trabalharam incansavelmente para romper as linhas nazistas em torno da cidade - mas foi somente em janeiro de 1943 que foi possível abrir uma brecha significativa. O museu 3D "A Quebra" (em tradução livre), inaugurado em São Petersburgo, faz com que o visitantes se sinta parte da história dessa vitória.
Soldados “reais”
Em um espaço de 600 metros quadrados, há partes de dois tanques soviéticos, rifles automáticos, granadas, cartuchos e até mesmo uma cópia reduzida de um avião alemão voando sobre as cabeças dos visitantes. Além disso, 12 dos 18 soldados do Exército Vermelho que atacaram posições alemãs foram recriados como manequins, respeitando inclusive seus traços do rosto.
Cabe lembrar que os restos mortais de alguns dos soldados soviéticos não foram encontrados até décadas depois, quando voluntários fizeram buscas no local.
“Eles tinham 19 e 20 anos de idade. Eles enfrentaram o perigo e a morte. Eram pessoas de um indescritível heroísmo”, diz Dmitry Pochtarenko, curador do museu e um dos voluntários que procuraram por restos mortais de soldados da Segunda Guerra.
“Corpos por todos os lados”
O ataque reconstruído no museu ocorreu no segundo dia da operação Iskra, em Nevsky Pyatachok, em 13 de janeiro de 1943. Nevsky Pyatachok (pyatachok era uma moeda que valia cinco copeques) era uma pequena aldeia na extremidade de uma ponte que foi tomada dos nazistas pelas tropas soviéticas na margem esquerda do rio Neva. O Exército Vermelho invadiu o local em setembro de 1941 e manteve a posição até furar o bloqueio, apesar dos ferozes bombardeios alemães.
O local era estrategicamente importante para o Exército Vermelho, já que era a única área às margens do rio da qual uma ofensiva poderia ser lançada, em uma tentativa de conectar as tropas soviéticas ao continente. Os alemães também sabiam disso, por isso atacaram ferozmente os soviéticos. A área pela qual lutavam era pequena - apenas 1,4 km de largura por 300 a 800 metros de profundidade - e era constantemente bombardeada pelos alemães.
Era difícil tirar os soldados feridos dali por meio do rio e trazer as armas e equipamentos necessários. Estima-se que os regimentos soviéticos perderam até 95% de suas tropas iniciais durante o conflito. Também era difícil enterrar os soldados na região.
“Quando nossa companhia desembarcou, todas as trincheiras estavam cheias de corpos. Eles estavam por toda parte em Nevsky Pyatachok. O abrigo onde eu e meus companheiros estávamos tinha vários corpos congelados como teto… Toda a área era um cemitério de corpos de soldados e oficiais desenterrados… Poucas pessoas passaram muito tempo ali. Um dia ou dois, uma semana no máximo, e, inevitavelmente, eram feridos ou mortos, e então eram substituídos por novas tropas”, lembra o soldado Iúri Poresh.
Ideia de Putin
Um dos soldados que participou dos combates em Nevsky Pyatachok foi o pai do atual presidente da Rússia, Vladimir Putin. O próprio presidente sugeriu criar uma exposição permanente em 3D em vez de uma instalação temporária dedicada ao conflito - seu pai foi ferido, no entanto, teve sorte de voltar para casa.
Putin relatou a experiência de seu pai neste artigo de 2015.
1,5 ano para cruzar 7 km
Muitos soldados perderam suas vidas ali. Há diferentes estimativas de que o número de mortes em Nevsky Pyatachok variou de 50 mil a 240 mil. Nessas condições, as tropas soviéticas não só conseguiram resistir aos alemães, mas também lançar repetidas ofensivas em uma tentativa de contatar forças aliadas estacionadas a apenas 7 km de distância.
Em abril de 1942, os alemães eventualmente capturaram o território, mas em setembro daquele ano o Exército Vermelho conseguiu recuperá-lo.
Segundo Poresh, capturar Nevsky Pyatachok era a única esperança de quebrar o cerco a Leningrado e salvar os moradores da fome. Como resultado, muitos regimentos alemães foram enviados para lutar no local - e vários foram mortos -, por isso, essa vitória foi um ponto crucial no resultado da Segunda Guerra Mundial.
Confira abaixo mais fotos do novo museu:
Leia também a história da vovó sobrevivente do Cerco de Leningrado que, após 70 anos, revisitou seu antigo apartamento.