A história da URSS com Israel: da amizade ao confronto

História
OLEG EGOROV
Stálin apoiou a criação de Israel, mas boa relação entre governos não durou.

 Em 1947, a situação no Oriente Médio era muito tensa, com confrontos violentos a cada semana. O Reino Unido, que administrava a Palestina desde 1920, queria terminar o mandato e liberar a ex-colônia, mas temia que a independência levaria a um novo banho de sangue.

As tensões entre árabes palestinos (1,2 milhões de pessoas, ou 65% da população da região) e judeus (608 mil pessoas, ou 35% da população) estavam aumentando. Os árabes não queriam um Estado judeu na Palestina, enquanto os judeus, que tinham acabado de sofrer os horrores do Holocausto, estavam prontos para lutar pela sua pátria.

Os judeus precisavam de ajuda diplomática e econômica. Stálin queria expandir a zona de influência soviética após a vitória na Segunda Guerra Mundial e decidiu oferecer seu apoio.

Um objetivo comum

Stálin, porém, não estava interessado em promover os interesses judaicos na Palestina e já tinha lançado vários projetos de autonomia nacional para os judeus soviéticos nas fronteiras da URSS que não foram bem-sucedidos. Além disso, Stálin não permitia que cidadãos judeus soviéticos emigrassem para Israel.

Segundo o historiador e jornalista russo Leonid Mlétchin disse em entrevista à rádio Ekho Moskvi, a criação de um Estado judaico na Palestina permitiria que Stálin diminuísse a presença do Reino Unido no Oriente Médio. “Além disso, uma vez que a maioria dos regimes árabes apoiaram a política do Reino Unido, Stálin preferiu trabalhar com os sionistas.

Aliado soviético na Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido tornou-se um rival geopolítico da URSS e era também odiado por colonos judeus. Em 1946, militantes sionistas bombardearam o hotel King David de Jerusalém, onde ficava alojada a administração britânica, matando 91 pessoas. Afastar os britânicos da região foi um dos principais objetivos dos sionistas e da URSS, embora por diferentes motivos.

Guerras diplomáticas

Quando o mandato do Reino Unido foi encerrado, a questão palestina passou para as Nações Unidas, que teve que encontrar uma solução. Enquanto o Reino Unido não apoiava a ideia de criar um Estado judeu independente, os dois principais poderes na ordem pós-guerra, a URSS e os Estados Unidos, optaram por uma solução de dois Estados, que, por sua vez, foi fortemente negada pelos Estados árabes. Em novembro de 1947, a questão foi votada durante a Assembleia Geral da ONU.

Em seu discurso, o embaixador soviético na ONU, Andrei Gromiko, disse que "o povo judeu foi conectado com a Palestina durante um longo período histórico", ideia contrária ao ponto de vista árabe, que excluía a criação de Israel. A URSS foi o primeiro país a reconhecer Israel oficialmente, em maio de 1948.

Armas socialistas para sionistas

Os EUA, que também apoiaram a criação de Israel, proibiram oficialmente o fornecimento de armas para o Oriente Médio. Ao contrário dos americanos, Moscou enviava armamentos aos sionistas, embora não oficialmente e através de outros países, como a Tchecoslováquia. Israel recebeu fuzis, morteiros e até aviões de combate Messerschmitt da Tchecoslováquia, obviamente com permissão e consentimento dos soviéticos. Mas esta não foi a única fonte de armas para o Estado judeu.

Fim da lua de mel

O apoio de Stálin a Israel não durou muito. Segundo o historiador russo-israelense Julius Kosharovsky, as relações bilaterais se deterioraram logo depois que Golda Meir, enviado de Israel à Rússia, levantou a questão da proibição da emigração dos judeus soviéticos para Israel.

O governo soviético negou estritamente a possibilidade de permitir a emigração. A posição soviética oficial era que todos os judeus soviéticos, como todos os soviéticos em geral, eram extremamente felizes e não precisavam de nenhuma Terra Prometida. Os políticos israelenses não podiam aceitar isso, e estreitaram os contatos com os EUA, que se tornou seu principal aliado.

Assim, a partir do início da década de 1950 e até o fim da Guerra Fria, a URSS passou a apoiar os árabes no conflito com Israel.

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