O mistério do herdeiro do trono dos Romanov

Matilda era uma mulher muito ambiciosa, que sabia o que queria e sempre usava suas conexões com sabedoria, diz historiador.

Matilda era uma mulher muito ambiciosa, que sabia o que queria e sempre usava suas conexões com sabedoria, diz historiador.

Wikipedia
Mais de cem anos depois, caso de Nicolau II e bailarina ainda é controverso.

A primeira paixão de Nicolau II, a bailarina Matilda Kchesínskaia, permanece tema de acalorados debates. Afinal, Matilda teve um filho com o imperador, como algumas pessoas acreditam? A resposta é: provavelmente não.

Um único encontro deu origem à história que continua a causar controvérsia 120 anos depois. O caso aconteceu na primavera de 1890, quando a família real russa participou de um baile da aclamada Escola de Balé Imperial de São Petersburgo.

Foi o imperador Alexandre III quem apresentou pessoalmente uma das bailarinas da escola, Matilda Kchesínskaia, a seu filho, cuja abdicação do trono mais tarde colocaria um fim ao domínio da dinastia Romanov.

Alexandre III pode ter apresentado o filho à bailarina para alegrá-lo.

“Havia uma prática entre a família real que permitia que um herdeiro solteiro e seus irmãos se relacionassem com atrizes e dançarinas antes do casamento para obterem experiência na vida sexual”, explica o pesquisador-sênior do Instituto de História da Rússia, Vladisláv Aksiônov.

Nicolau ficou muito impressionado com Matilda, e sua admiração só cresceu depois que ele foi enviado para o leste por um ano.

Pequena K

Dois longos anos após o encontro, o herdeiro do trono tentou apressar as coisas com a bailarina. Ele enviou um mensageiro até a dançarina, pedindo uma foto da moça. Ela ficou feliz de saber que Nicolau não a havia esquecido após tanto tempo, e se deu conta de que tinha certa influência sobre o futuro imperador.

Nicolau II exigiu que Matilda se mudasse da casa dos pais para uma mansão.

“Não consigo descrever o que aconteceu comigo após chegar em casa. Não conseguia comer e corri para meu quarto; estava chorando e meu coração doía. Pela primeira vez senti que não era uma simples atração, como acreditava antes, mas que amava o príncipe loucamente e nunca poderia esquecê-lo”, escreveu Matilda em seu diário, depois que os dois finalmente se reencontraram em um teatro em janeiro de 1892.

Os pensamentos do príncipe também estavam ocupados pela bailarina. Seus diários de 1892 e 1893 estão repletos de relatos breves, porém intensos, de seus encontros frequentes, onde Nicolau se refere afetuosamente à dançarina como “Pequena K”.

Matilda era conhecida por ser ambiciosa, dizem historiadores.

Logo Nicolau exigiu que Matilda se mudasse da casa de seus pais para uma mansão comprada especialmente para ela. O pai da bailarina protestou no início, mas depois cedeu ao desejo da filha e ela se mudou para a casa onde poderia encontrar o príncipe sem obstáculos.

Filho ilegítimo

“25 de janeiro de 1893. Segunda-feira. Fui à minha M.K. e passei a melhor noite com ela até agora. Estou impressionado – uma caneta treme em minha mão”, escreveu Nicolau após um encontro.

Este trecho do diário depois serviria para especular sobre a existência de um filho ilegítimo que, se fosse real, seria o único descendente do último imperador russo a sobreviver à revolução.

De fato, uma criança surgiu na família de Matilda, mas muito depois, em 1911, e era de seu irmão, Joseph Kshesinsky.

Batizada de Celina, ela ficou na Rússia após a revolução e deu à luz a um garoto que mais tarde se tornaria um político de sucesso, concorrendo ao cargo de prefeito em São Petersburgo.

O neto de Celina, Konstantin Sevenard, atualmente empreende uma campanha para convencer a opinião pública russa de que ele é o herdeiro direto do último imperador russo.

Sevenard acredita que Celina era filha de Nicolau e Matilda, mas foi adotada pelo irmão da bailarina para esconder o segredo da família, pois naquela época o imperador já era casado.

“Se Matilda tivesse dado à luz a um filho de Nicolau II, o imperador e a corte ficariam sabendo. Matilda era uma mulher muito ambiciosa, que sabia o que queria e sempre usava suas conexões com sabedoria. Se ela tivesse uma carta tão boa na manga como um filho do imperador, ela sem dúvida a teria usado, com todas as consequências imagináveis”, diz Aksiônov, que não acredita nos rumores sobre o suposto filho ilegítimo.

A maior parte dos historiadores russos acredita que Nicolau II era um homem de família exemplar, como mostram seus diários.

Exceto por este parágrafo: “Um fenômeno muito estranho que notei: nunca pensei que dois sentimentos idênticos, dois amores ao mesmo tempo, podem ser compatíveis com uma única alma”.

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