7 filhos bastardos de imperadores russos que foram reconhecidos oficialmente

Esc.: Retrato de Aleksêi Bôbrinski (aos 7 anos, em 1769), por Carl-Ludwig Christinek; dir.: filhos de Alexandre 2º e Ekaterina Dolgorúkova: Geórgui, Olga e Ekaterina, por Konstantin Makóvski.

Esc.: Retrato de Aleksêi Bôbrinski (aos 7 anos, em 1769), por Carl-Ludwig Christinek; dir.: filhos de Alexandre 2º e Ekaterina Dolgorúkova: Geórgui, Olga e Ekaterina, por Konstantin Makóvski.

Hermitage/Domínio público; Konstantin Makóvski/Coleção privada/Domínio público
Na história do Império Russo houve dezenas de supostos herdeiros, impostores e fraudadores que alegaram hereditariedade aos imperadores da dinastia Romanov. No entanto, apenas sete filhos bastardos de governantes russos acabaram sendo reconhecidos pelos monarcas e comprovados pelos historiadores.

O primeiro imperador russo Pedro, o Grande, (1672-1725) teve várias amantes e certamente teve filhos fora do casamento. Sabe-se que sua amante Maria Hamilton fez dois abortos; outra amante, Maria Kantemir, supostamente teve um filho natimorto de Pedro.

Assim, Pedro não teve filhos bastardos oficialmente reconhecidos, embora a sociedade acreditasse que o notável comandante de guerra, conde Piotr Rumiántsev, fosse filho de Pedro, uma vez que Maria Rumiántseva, a mãe do conde, também era conhecida como amante do imperador.

O primeiro filho bastardo reconhecido oficialmente da história imperial russa nasceu de Catarina 2ª, a Grande, mas isso ocorreu antes de ela se tornar imperatriz; na época, ela ainda era grã-duquesa.

Anna Petrovna

Esc.: retrato de Catarina 2ª, por Richard Brompton, 1782. Dir.: retrato de Stanisław Poniatowski, por Marcello Bacciarelli, 1786.

“Só Deus sabe como a minha esposa engravidou, não sei se este é realmente o meu bebê e se devo levar isso para o lado pessoal”, disse o grão-príncipe Piotr Fiôdorovitch, futuro imperador Pedro 3º, quando soube da gravidez de sua esposa. Ele disse tal frase publicamente, segundo as memórias de Catarina 2ª.

A menina Anna nasceu em São Petersburgo em 9 de dezembro de 1757. Quando a bebê foi batizada na igreja do palácio, não houve recepção oficial para os enviados estrangeiros. A então imperatriz Isabel, no entanto, veio extraoficialmente à igreja para se consagrar madrinha de Anna.

O marido da futura imperatriz, o grão-príncipe Piotr Fiôdorovitch, reconheceu Anna como sua filha. No entanto, havia inúmeros rumores de que o pai era o amante de Catarina, Stanisław Poniatowski, o futuro rei da Polônia. Anna Petrovna morreu em março de 1759, aos dois anos de idade.

Aleksêi Bôbrinski

Esc.: retrato de Catarina 2ª, por Antoine Pesne, 1745. Dir.: retrato de Grigóri Orlov, por Fiódor Rókotov, 1762.

Aleksêi Bôbrinski nasceu em segredo em 11 de abril de 1762. Ele era filho da futura imperatriz Catarina 2ª, a Grande, e de seu amante Grigóri Orlov e, desta vez, Catarina conseguiu esconder sua gravidez de seu marido, o imperador Pedro 3º. Ela teve que usar espartilho e fazer reverências na corte com uma criança no ventre.

Entre muitas de suas excentricidades, Pedro 3º era um piromaníaco. Sempre que havia um incêndio em São Petersburgo, Pedro corria para o local junto com seus cortesãos e observava as chamas consumirem os edifícios. Então, quando chegou a hora de Catarina dar à luz, seu devotado criado Vassíli Chkúrin, incendiou sua casa, e o imperador imediatamente partiu do palácio para ver o incêndio. Enquanto isso, Catarina deu à luz ao pequeno Aleksêi. Foi seu segundo filho depois de Pável, filho de Catarina e Pedro, que mais tarde se tornaria o imperador Paulo 1º da Rússia (1754-1801).

Retrato de Aleksêi Bôbrinski (aos 7 anos, em 1769), por Carl-Ludwig Christinek.

Quando Aleksêi nasceu, ele estava muito fraco e doente e foi imediatamente entregue a Vassíli Chkúrin, o criado doméstico de Catarina. Na família de Chkúrin, Aleksêi foi criado até aos 12 anos, depois foi enviado para o Primeiro Corpo de Cadetes e, depois de completar com distinção a sua educação militar, começou uma longa viagem pela Rússia e pela Europa, onde se tornou um mulherengo, rufião e cientista.

Semion Velíki (o Grande)

Esc.: retrato de Paulo 1º, por Vladímir Borovikóvski, 1796. Dir.: Sofia Uchakova, por Franz Ludwig Close, 1780.

Semion nasceu em 1772 e era filho do grão-príncipe Pável Petrôvitch, futuro imperador Paulo 1º, e de uma dama de companhia, Sofia Uchakova. A historiadora Isabel de Madariaga escreve que “para ter certeza de que seria capaz de produzir um herdeiro, Pável foi forçado a se relacionar com uma dama de companhia viúva”, referindo-se a Uchakova. A imperatriz Catarina, a Grande, que sempre era muito prática e calma, queria ter certeza de que seu filho seria capaz de gerar um herdeiro.

Semion foi criado nos aposentos do palácio de Catarina, a Grande. Em 1780, aos oito anos, foi enviado para escola militar e depois se formou pelo Corpo de Cadetes Navais. Semion foi enviado para servir no navio de guerra de 66 canhões chamado "Não Me Toque". Após a batalha naval na Baía de Viborg em 22 de junho de 1790, Semion foi enviado a Catarina com um relatório. Quando chegou a São Petersburgo, Semion viu sua avó pela primeira vez em 10 anos.

Em julho de 1790, Semion foi promovido a tenente-capitão. Existem diferentes versões do que aconteceu a seguir. Segundo a uma, em 1793, Semion foi enviado a Londres para servir na Marinha britânica. Segundo a outra, Semion morreu repentinamente em Kronstadt. Os registros do Ministério Naval dizem que Semion, o Grande, morreu em 13 de agosto de 1794, durante o naufrágio do navio inglês Vanguard durante uma terrível tempestade nas águas de Antilia, perto das ilhas de Santo Eustáquio e São Tomás.

Semion recebeu o apelido de “o Grande” durante sua vida, aparentemente por causa dos rumores sobre sua origem. Quando ele morreu, Aleksandr Khrapovítski, secretário de Catarina, escreveu: “Recebemos a notícia sobre a morte de Séniuschka [diminutivo de Semion], o Grande”.

Marta Mússina-Iúrieva

O segundo filho bastardo do imperador Paulo 1º nasceu após seu assassinato. Uma semana antes da morte, o imperador convocou o seu mais alto funcionário civil, o vice-chanceler Aleksandr Kurákin e lhe disse que duas mulheres estavam grávidas de seus filhos. Se fossem meninos, se chamariam Nikita e Filaret, se fossem meninas, Evdokia e Marta. O filho de Paulo, Aleksandr, se tornaria o padrinho das crianças.

Após o assassinato de Paulo, entre maio e junho de 1801, nasceu só uma criança, uma menina chamada de Marta. Sua mãe, segundo as fontes, era Mavra Iúrieva, dama de companhia da imperatriz Maria Fiodorovna, esposa de Paulo.

De acordo com o testamento do falecido imperador, em 1º de agosto de 1801, a bebê Marta foi promovida à nobreza e dotada de várias aldeias com um total de um mil camponeses. Ela foi criada em Pávlovsk pela imperatriz, mas viveu pouco e morreu aos dois anos de idade em 17 de setembro de 1803. A renda de suas aldeias foi transferida à sua mãe.

Geórgui Aleksandrovitch Iúrievski

Geórgui Aleksandrovitch Iúrievski, 1894

O imperador Alexandre 2º e sua amante Ekaterina Dolgorúkova tinham três crianças: Geórgui, Olga e Ekaterina. As relações entre o monarca e a dama de honra da corte começaram em 1866, quando a imperatriz Maria Aleksandrovna estava fora do favor do imperador. Depois que Nicolau, o filho mais velho de Alexandre 2º morreu de meningite, a imperatriz perdeu todo o interesse pela vida. O caso de Alexandre e Dolgorúkova era óbvio para todos no palácio, mas a imperatriz permaneceu em silêncio.

“Destinada ao perdão, dia após dia, durante muitos anos, ela nunca fez uma reclamação ou acusação. Ela levou consigo o segredo de seu sofrimento e humilhação para o túmulo”, escreveu a dama de companhia da Corte Imperial, Aleksandra Tolstaia.

Geórgui nasceu em 30 de abril de 1872, no Palácio de Inverno, em São Petersburgo. Em 1874, por ordem do imperador, se tornou um príncipe. Ele e suas irmãs receberam o sobrenome Iúrievski, criado a partir de um dos nomes hereditários dos boiardos Romanov, Iúri. Em 1880, a Imperatriz Maria Aleksandrovna morreu e, dois meses depois, Alexandre 2º se casou com Ekaterina Dolgorúkova, que também recebeu o título de princesa Iúrievskaia. Em 1876, desta união nasceu outro menino, Boris, mas ele viveu apenas um mês.

Depois que Alexandre 2º foi assassinado em 1881, Ekaterina Iúrievskaia e todos os seus filhos deixaram a Rússia e foram para a França. Lá, Geórgui estudou na Universidade Sorbonne, mas, mais tarde, retornou à Rússia, onde começou a dar palestras no Corpo de Cadetes Navais. Embora o meio-irmão de Geórgui, imperador Alexandre 3º, não tenha permitido que ele se juntasse ao Exército Imperial Russo por puro despeito, Geórgui conseguiu obter a aprovação de seu outro meio-irmão, o grão-príncipe Aleksêi Aleksandrovitch, que lhe permitiu servir na Marinha Russa, apesar da falta de qualificação.

Ekaterina Dolgorúkova com Geórgui e Olga.

Geórgui teve uma carreira muito ruim. “Tanto em serviço como a bordo durante as viagens, ele simplesmente não quer fazer nada; nem os conselhos, nem os exemplos dos outros não têm qualquer efeito sobre ele. Devido à preguiça, desordem e a total falta de autoestima os seus camaradas só riem, enquanto os superiores estão muito insatisfeitos e não sabem o que fazer com ele”, escreveu o grão-príncipe Aleksêi à sua mãe em 1893. “Parece-me que seria melhor transferi-lo para o serviço terrestre, porque ele nunca será um bom marinheiro!"

Em 1897, Geórgui foi demitido da Marinha e enviado para servir no Regimento de Guardas Hussardos de Sua Majestade. Alexandre 3º já estava morto naquela época e seu filho e sucessor Nicolau 2º não se opôs a que seu tio servisse no Exército.

Em 1900, Geórgui se casou com a condessa Aleksandra Konstantinovna von Zarnekau e teve um filho, Aleksandr Iúrievski (1900 – 1988). Eles moravam no exterior, mas em breve Aleksandra se divorciou de Geórgui, que morreu em Marburgo, Alemanha, em 1913.

Olga Aleksandrovna Iúrievskaia

Olga Aleksandrovna Iúrievskaia

Olga Aleksandrovna nasceu da mesma união entre Alexandre 2º e Ekaterina Dolgorúkova em 1873.

A partir de 1891, ela morou com a mãe e a irmã em Nice, na França, em uma casa chamada Villa Georges em homenagem ao seu irmão Geórgui. Na França, a família tinha cerca de 20 empregados e um vagão ferroviário privado.

Em 1895, Olga se casou com o conde George-Nicholas von Merenberg (1871–1948), neto do famoso escritor russo Aleksandr Púchkin, se tornando condessa Merenberg. O último imperador russo Nicolau 2º seguiu a proibição da sua mãe e se recusou a patrocinar o casamento da sua tia.

Ela passou a maior parte da vida na Alemanha e teve três filhos, um dos quais morreu na infância. Olga Aleksandrovna Iúrievskaia morreu em 1925 em Wiesbaden.

Ekaterina Aleksandrovna Iúrievskaia

Ekaterina Aleksandrovna Iúrievskaia

A filha mais nova de Alexandre 2º e da princesa Ekaterina Dolgorúkova nasceu em 9 de setembro de 1878 na cidade de Ialta, na Crimeia, em uma das propriedades que Alexandre 2º deu à sua mãe.

Depois de 1881, Ekaterina com a mãe, o irmão e a irmã foram morar em Nice. Em 1901, ela se casou com Aleksandr Bariátinski, uma das pessoas mais ricas do Império Russo, mas também um mulherengo e gastador. Eles tiveram dois filhos, Andrêi (1902-1944) e Aleksandr (1905-1992), que herdaram uma vasta fortuna após a morte do pai de meningite em 1910.

Durante a Primeira Guerra Mundial, Ekaterina retornou à Rússia. Ela viveu um estilo de vida luxuoso e, em 1916, se casou com o príncipe Serge Obolênski (1890-1978). No entanto, este casamento também foi infeliz. Depois da revolução, Ekaterina e Serge tiveram que fugir para a Europa e mal ganharam a vida lá, Ekaterina teve que cantar em bares para ganhar um pouco de dinheiro. Depois que sua mãe morreu em 1922, a filha não recebeu quase nada, pois a mãe perdeu toda a sua fortuna para um estilo de vida luxuoso e várias instituições de caridade.

Alexandre 2º, Ekaterina Dolgorúkova e seus filhos Gueórgui e Olga.

Em 1923, Serge Obolênski se divorciou de Ekaterina, que se tornou cantora profissional, com um repertório de cerca de 200 canções em inglês, francês, russo e italiano. Ela comprou uma casa na ilha Hayling na Inglaterra e viveu lá, sustentada por uma mesada da rainha Maria, a viúva do rei Jorge 5º, mas, após a morte da rainha em março de 1953, ficou quase sem dinheiro e começou a vender suas propriedades.

Ekaterina morreu em uma casa de retiro na ilha Hayling em 22 de dezembro de 1959. Ela foi a última filha sobrevivente do imperador Alexandre 2º, bem como a última neta do imperador Nicolau 1º.

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