Como o Ano Novo Budista é comemorado na Sibéria (FOTOS)

Estilo de vida
ANNA SORÔKINA
Juntamente com os moradores de Irkutsk, assistimos ao serviço religioso noturno em um datsan (mosteiro budista), vimos buriates partindo ossos com as próprias mãos e dançamos no grande ‘yokhor’.

As pessoas estavam reunidas em uma das praças centrais de Irkutsk. Por todo lado brilhavam vestes buriates e chapéus altos de pele fofa, e cumprimentos vinham de todos os cantos: “Sagaan haraar! Sagaalganaar! Feliz Mês Branco!”

Em seguida, centenas de pessoas fizeram uma dança circular chamada ‘yokhor’. Acredita-se que quanto mais pessoas participarem da dança, mais próspero será o ano.

Por que o ‘Mês Branco’ é a celebração mais importante do ano?

Os povos que praticam o budismo celebram não apenas o Ano Novo “oficial”, em 1º de janeiro, mas também o seu próprio, cuja data é calculada de acordo com o calendário lunar. Em diferentes regiões, é chamado à sua maneira — ‘Sagaalgan’ (buriates e mongóis), ‘Shagaa’ (tuvanos), ‘Tsagan-Sar’ (calmucos) e ‘Chaga Bairam’ (altaicos). Este ano, o “Mês Branco” caiu em 10 de fevereiro (e coincidiu com o Ano Novo Chinês, o que raramente acontece) para os buriates, tuvanos e calmucos. Já em Altai, o ‘Mês Branco’ deste ano caiu em 17 de fevereiro. O símbolo foi o Dragão da Madeira Verde.

A celebração marca o início da primeira lua nova da primavera. Esta é a época em que o inverno termina — e a natureza desperta.

Até ao século 14, o “Mês Branco” era celebrado no outono, durante a preparação de alimentos para o inverno, quando havia laticínios em abundância (os buriates chamam-lhe “Sagaan Edeen”). Mas, por influência da astrologia chinesa, foi transferido para o final do inverno. A celebração de ‘Sagaalgan’ também foi influenciada pela difusão do budismo. Os ensinamentos budistas chegaram à Sibéria vindos da Mongólia no início do século 17 e se espalharam pela Transbaicália, Tuvá, Altai e Buriátia.

Um grande número de buriates também vive na região de Irkutsk (onde está localizado o distrito de Ust-Ordin Buriat) e ali é possível admirar os tradicionais templos-datsans curtir, os vários cafés locais e se familiarizar com as tradições desse povo siberiano.

‘Sagaalgan’, que significa literalmente ‘Mês Branco’, é um dos dois feriados mais importantes da cultura buriate, junto com o ‘Surkharbaan’ (escrevemos sobre ele aqui) no verão.

Um mês todo de celebrações 

Aqui pode-se presenciar a natureza revivendo lentamente após o inverno. Normalmente, fevereiro em Irkutsk é um mês frio, com temperaturas médias em torno de 20ºC negativos. Mas, quando chegamos para as celebrações do “Mês Branco”, o sol brilhante da primavera apareceu repentinamente e a temperatura, para a nossa surpresa, se manteve em torno de 5ºC durante dias. 

‘Sagaalgan’, assim como o Ano Novo “oficial”, é considerado um feriado de família na Rússia. Por 30 dias, deve-se visitar parentes e amigos, organizar festas de chá com os bolinhos tipo ‘boovi’ ou‘pozy’ (buuz)bem como trocar pequenos presentes (geralmente, lenços de seda chamados 'khadaks').

Mas, hoje em dia, não é comemorado apenas em casa. Em Irkutsk, já se tornou um feriado municipal, que pode ser frequentado por qualquer pessoa. É organizado pelo Centro de Cultura dos Povos Indígenas da Região do Baikal com o apoio do Ministério da Cultura da Região de Irkutsk. “O principal é vir com pensamentos puros e alma aberta e então o ano trará boa sorte”, dizem.

Primeiramente, os lamas do ‘datsan’ de Irkutsk dirigiram-se aos convidados com votos de prosperidade e leram orações. Essas mensagens foram repetidas pelos cantores folclóricos buriates de Irkutsk por meio de canções e danças.

Em seguida, os buriates apresentaram a todos os seus jogos tradicionais com ossos, conhecidos como ‘Shagai Naadan’, e demonstraram a habilidade de partir um osso da coluna vertebral de um animal usando as próprias mãos (também presenciamos esses esportes folclóricos no verão em ‘Surkharbaan’).

O ponto culminante do feriado é a dança circular gigante ‘yokhor’. Imagine só: centenas de pessoas de mãos dadas se movem em círculo, pulando para cima e para baixo, alterando o ritmo enquanto cantam: “Yokhor, yokhor!”

Esta antiga dança buriate está associada ao movimento do Sol. Acredita-se que existam oito tipos principais de ‘yokhor’, que são dançados em diferentes áreas onde vivem esses povos. Nesses festivais urbanos, os anfitriões costumam ensinar os diferentes tipos — que diferem em melodias e saltos. 

“Nosso ‘yokhor’ reuniu o maior número de pessoas nos três anos desde a pandemia. Foram cinco voltas!”, disse ao Russia Beyond Olesia Polunina, ministra da Cultura da região de Irkutsk. “Eu dancei e senti um prazer colossal! Senti que estava descarregando muita energia e recebendo o dobro.”

Hora de prosperidade

Os buriates, como nos disseram no ‘datsan’ de Irkutsk, combinam o budismo com o xamanismo e os rituais folclóricos. Hoje, a chegada do feriado popular ‘Sagaalgan’ é inseparável da parte religiosa.

É necessário prestar atenção especial à limpeza e não se trata apenas de limpar a casa, mas também da pureza de pensamentos e do carma. No ‘datsan’ de Irkutsk, na noite de 8 para 9 de fevereiro, houve um rito de purificação chamado ‘Dugzhuub’. Todas as coisas negativas foram queimadas em fogueiras em forma de pirâmide conhecidas como ‘Sor’ (às vezes grafado como ‘Soor’) sob orações.

Poucos dias antes do “Mês Branco”, os lamas do datsan realizam serviços especiais (“khurals”). Visitamos o principal deles, que começou às 22h de 9 de fevereiro e durou até as 6h do dia seguinte.

O serviço religioso foi dedicado à deusa Baldan Lhamo, considerada a protetora das pessoas e uma divindade que cura doenças. Ao amanhecer, ela circunda a Terra, abençoando os seres vivos — e o Ano Novo começa.

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