As mulheres da Tchuváchia que eram reconhecidas por seu som (FOTOS)

Maksim Bogodvid/Sputnik
Eram tantos os enfeites feitos com moedas de prata na Tchuváchia que toda região tilintava! Mas por que essa tradição?

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Ao visitar os moradores da Tchuváchia hoje em dia, ficamos maravilhados com os adornos das mulheres ali: elas usam elmos inteiramente cobertos de moedas soviéticas e da Rússia pré-revolução. Mas isso é pouco: os enfeites tradicionais das mulheres da Tchuváchia podem pesar de 15 a 16 quilos, de tantas moedas anexadas a eles!

Chapéu de prata

Mulher casada da Tchuváchia em trajes festivos.

Muitos povos originais da Rússia usavam moedas como adorno, como os moradores de Udmúrtia, Tartaristão, Mari El e Bachquíria. O “monisto”, um colar feito de moedas, tomou na Tchuváchia proporções imensas.

Mas o principal enfeite de moedas ali eram os adornos de cabeça. Aquele feito para as mulheres solteiras se chamava “tukhia” e parecia o elmo de um guerreiro. O das mulheres casadas se chamava “huchpu”, era aberto na parte superior e tinha uma longa “cauda” – ela era pesada e, assim, ajudava a manter as costas retas.

Adereço de cabeça antigo do Museu do Bordado da Tchuváchia.

Esses adereços de cabeça eram generosamente adornados com pesadas moedas de prata. Mas, se por algum motivo não houvesse moedas suficientes, usavam-se “fichas”, ou seja, imitações de moedas.

As melhores moedas eram colocadas perto do rosto e produziam o tilintar mais límpido quando a mulher caminhava. Aliás, só se usavam moedas que estavam fora de circulação.

Em museus e em fotos antigas, é possível ver claramente as moedas estrangeiras que tinham ido parar na Tchuváchia — muito provavelmente, através do rio Volga, a principal rota comercial russa no passado.

Além de moedas, miçangas e pequenas conchas também eram adicionadas nos adereços de cabeça. Elas também foram um sinal de riqueza em algum momento.

“As meninas passavam a usar a ‘tukhia’ ao entrar na idade reprodutiva, mostrando assim que estavam prontas para o casamento e para a procriação”, explica a chefe do Museu do Bordado da Tchuváchia em Tcheboksari, Nadêjda Selverstrova.

A “tukhia” era usada o tempo todo e colares feitos de moedas (chamados de “tchaptchuchki”), além de brincos (chamados de “alga”) também podiam acompanhá-la.

No casamento, a noiva vestia um “huchpu” e passava sua “tukhia” para suas irmãs mais novas. “O ‘huchpu’ era usado nos feriados”, explica Nadêjda. “Quando uma mulher crescia, ela passava seu ‘huchpu’ para a filha mais velha, e usava apenas um lenço ‘surpana’ na cabeça. Se a mulher usasse um ‘huchpu’ com bastante som, era como se ela estivesse dizendo que ainda era capaz de ter filhos.”

Monisto dos povos túrquicos da Rússia.

Além dos adereços de cabeça, as mulheres da Tchuváchia usavam colares “chulgueme”. Visualmente, eles pareciam uma bolsa ou um tabuleiro feito inteiramente de moedas e com uma encadernação decorativa no meio (muitas vezes, havia um sinal patrimonial ali). Os brincos “alga” também eram feitos de moedas — eles também eram pesados ​​e tilintavam.

Proteção e investimento

Esses enfeites eram feitos para proteger das forças das trevas, segundo Nadêjda. “Normalmente, as mulheres se casavam em terras distantes para evitar casamentos entre parentes. Ao chegar a um lugar novo, a mulher precisava mostrar seu status e se proteger de espíritos novos e desconhecidos”, diz.

Na fé da Tchuváchia tradicional, tudo o que era vivo tinha seu próprio espírito, fosse uma queda d’água ou uma floresta.

As moedas não tinham nenhuma qualidade protetora sozinhas, mas a prata da qual eram feitas sim. Hoje, está comprovado cientificamente que esse metal é capaz de eliminar bactérias. Quase não existiam moedas e fichas de ouro nos adornos da Tchuváchia.

No entanto, existe também uma lenda fantástica sobre a origem do “elmo” de moedas: as ancestrais das mulheres da Tchuváchia eram amazonas famosas por seus méritos militares.

Acredita-se que as últimas delas se estabeleceram em Povoljie (nos arredores do rio Volga) e sua cota se tornou o traje nacional do povo da Tchuváchia. Aliás, o traje que os homens da Tchuváchia usam não leva moedas.

Por que as moedas deixaram de ser usadas?

Os trajes folclóricos parecem coisa do passado, mas, na realidade, as pessoas comuns nos rincões da Rússia passaram a usar roupas modernas somente algumas décadas atrás. Antes, tudo era costurado (ou mesmo tecido) à mão.

Garota de Tchebokssari com traje local.

Os nativos da Tchuváchia gostavam muito de seus adornos de prata, que eram passados ​​de geração em geração. Hoje, porém, eles foram quase completamente aposentados.

Isso aconteceu porque, durante a industrialização e a “deskulakização” (quando se terminou com a classe dos “kulaks”, ou seja, camponeses abastados) nos primeiros anos soviéticos e durante a Grande Guerra Patriótica, os habitantes da Tchuváchia tiveram que dar suas moedas ao governo.

Os fundos arrecadados com essas moedas foram usados para a compra de maquinário – que ia de tratores a tanques. Durante os anos de fome, as moedas também eram trocadas por comida.

Membros do kolkhoz de atividades artísticas amadoras

Talvez os últimos desses enfeites originais estejam em aldeias da Tchuváchia muito remotas ou em museus etnográficos. “As pessoas nos trazem seus adornos familiares, para que possam ser mantidos em segurança”, conta Nadêjda.

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