Russos convivem com vulcões ativos e terremotos em Kamtchatka

Estilo de vida
ANNA SORÔKINA
Viver em um vulcão não é um modo de dizer para as pessoas que vivem nesta região do Extremo Oriente da Rússia, mas uma realidade. 

“Um forte terremoto ocorreu na costa de Kamtchatka”, “Um vulcão de Kamtchatka lançou cinzas a uma altura de 4 quilômetros”, “Cinzas caem em uma vila de Kamtchatka” – essas manchetes são uma ocorrência comum na imprensa do Extremo Oriente. A maioria dos terremotos e erupções vulcânicas na Rússia acontecem ali. Mas não é tão assustador assim.

Vulcões de casa

Kamtchatka tem uma grande “densidade vulcânica”: existem aproximadamente 300 vulcões inativos e 30 ativos em uma península de 1.200 quilômetros de comprimento e 440 quilômetros de largura; todos os anos, um ou vários deles acordam de uma vez só.

Petropavlovsk-Kamtchatski, a capital do território de Kamtchatka, é cercada por três vulcões – Avatchinski, Koriakski e Kozelski (os dois primeiros estão ativos). Eles ficam a apenas algumas dezenas de quilômetros da cidade, por isso os locais os chamam carinhosamente de “vulcões de casa” e os visitam com mais frequência do que outros.

Outro ponto popular da região fica a 70 quilômetros da cidade – onde está o vulcão inativo Viliutchinski com uma moderna base de esqui em sua encosta. Em julho de 2021, houve até um casamento realizado nele.

Os vulcões Chivelutch e Kliutchevskoi, que entraram em erupção na segunda metade de 2022 (o Chivelutch ainda está cuspindo cinzas e lava), estão situados na parte norte da península; a aldeia de Kliutchi (600 quilômetros de Petropavlovsk-Kamtchatski) aos seus pés fica regularmente coberta de cinzas.

A estação vulcanológica mais antiga da Rússia, fundada em 1935, está localizada ali. Além dos vulcanólogos postarem regularmente os cliques momentos da atividade dos vulcões, a estação ainda conta com um centro turístico para quem deseja ver mais e informações.

“As pessoas vêm para observar a atividade vulcânica em toda a sua beleza, bem como os fenômenos naturais pós-vulcânicos, para ouvir o barulho das fumarolas, tomar banho em fontes termais”, diz Alisa, de Petropavlovsk-Kamtchatski. “Temos o vulcão Chivelutch em erupção agora, literalmente largamos tudo o que estávamos fazendo e fomos mais península adentro para ver como a lava derretida está fluindo com nossos próprios olhos, é um acontecimento único! Montamos uma barraca a uma distância segura e curtimos a vista.”

Turismo “quente”

“Férias ativas me levaram a Kamtchatka. Queria surfar, ver os vulcões e o Oceano Pacífico”, diz Aleksêi, de Nadum (Península de Iamal).

“Agora, venho com tanta frequência que às vezes pensam que sou local. No verão, íamos aos vulcões de moto. No inverno – em motos para neve. Também tentei heliskiing (quando os esquiadores são deixados no topo de montanhas inacessíveis de helicóptero). Semanas atrás, vi um vulcão em erupção”, conta Aleksêi, que viajou com amigos para a parte norte da península para ver a erupção do Chivelutch e ficou em um centro turístico em Kliutchi.

“Não vi cinzas, mas vi a lava muito brilhante”, continua. “O Ministério para Situações de Emergência não recomenda aproximar-se de um vulcão em erupção a menos de 15 quilômetros, mas alguns viajantes até sobem nas encostas para realizar seu sonho.” Normalmente, as pessoas recebem alertas por mensagem de texto sobre as erupções vulcânicas, para que ninguém se aproxime dos vulcões.

Quanto aos locais, segundo Aleksêi, não se percebe nenhuma ansiedade especial entre eles por viverem tão perto de vulcões.

Terremotos do dia a dia

“Nasci e cresci em Kamtchatka, portanto, terremotos são algo comum para mim desde a infância”, diz Alisa. “Quando eu era adolescente, lembro-me de um longo período em que havia terremotos quase todos os dias e parecia que estávamos tão acostumados que nada mais nos surpreendia. Mas, certa vez, um forte terremoto começou quando eu estava em uma loja e, pela primeira vez, vi as pessoas realmente entrarem em pânico, lotando a saída.”

Cerca de 20% do território russo pertence a áreas sismicamente ativas, mas apenas 5% delas têm possibilidade de fortes terremotos que atinjam de 8 a 10 pontos na escala Richter. A área mais propícia para terremotos é a costa do Oceano Pacífico da Rússia (Kamtchatka, Sacalina e as Ilhas Curilas), onde fica a fronteira entre as placas litosféricas. Cerca de 300 terremotos são registrados ali por ano; a maioria se passa sem quaisquer consequências.

“Às vezes parece que está tudo balançando um pouco. Quando não tenho certeza, checo as notícias, sites, redes sociais por curiosidade e encontro informações para confirmar ou refutar as minhas percepções. Mas, depois de um forte terremoto, todo mundo fica ligado”, afirma Alisa. Um dos últimos terremotos fortes ocorreu em 2006 no distrito de Oliutorski, no norte da península. Na ocasião, 1.200 pessoas tiveram que ser evacuadas da aldeia; só não houve vítimas porque tudo aconteceu durante o dia e os moradores conseguiram deixar rapidamente suas casas. Uma das aldeias, porém, foi totalmente destruída e desapareceu do mapa de Kamtchatka. Agora, todos os edifícios são reforçados para evitar fatalidades. As casas de painéis soviéticos parecem especialmente atmosféricas – há “costelas” adicionais, reforçadas com cabos de aço, para que o prédio não desmorone devido ao tremor.

Segundo Alisa, há pessoas com tanto medo de terremotos que até se mudam de Kamtchatka, mas a maioria já se habitou a instabilidades. “Fico encantada com a grandeza da natureza, fico emocionada ao perceber que neste momento sinto as forças geológicas e tectônicas globais da Terra sobre mim, que vivo em um lugar tão único!”

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