Os túmulos diferentes de alguns russos famosos (FOTOS)

Estilo de vida
ALEKSANDRA GÚZEVA
Na URSS era comum erguer monumentos pomposos para os mortos. Veja como são os túmulos de personalidades lendárias como Tolstói, Lênin e Stálin.

Os russos gostam de relembrar o passado e têm especial interesse nas lápides e túmulos. Os cemitérios mais famosos da Rússia são bastante visitados e, no coração da capital, bem na Praça Vermelha, existe uma verdadeira necrópole. Além do mausoléu de Vladímir Lênin, existem muitas sepulturas próximas ao muro do Kremlin em memória a grandes oficiais, generais, cosmonautas e até de estrangeiros. Mesmo quando estão no exterior, os russos costumam visitar cemitérios antigos para ver se encontram o local de descanso de algum compatriota. A seguir, conheça uma seleção com alguns dos túmulos de russos famosos.

Aleksandr Púchkin (1799-1837)

O poeta mais famoso do país foi mortalmente ferido em um duelo com o suposto amante de sua esposa, Natalia Gontcharova, perto de São Petersburgo. A verdade é que ele foi induzido a chegar às vias de fato por intrigas na corte. A morte do principal poeta do país chocou muitas pessoas, que culpavam as autoridades e sua comitiva. Milhares de pessoas expressaram sua indignação com a tragédia quando foram se despedir do artista.

Para evitar possíveis tumultos, o imperador Nicolau 1º ordenou que se fizesse um funeral reservado. O caixão foi levado secretamente durante noite para a província de Pskov (600 km de Moscou) por gendarmes e o poeta foi enterrado no mosteiro Sviatogorski, não muito longe da propriedade da família de Púchkin em Mikháilovskoe.

Nikolai Gógol (1809-1852)

A morte do mais místico dos escritores russos é cheia de mistérios e lendas. De acordo com o que contavam alguns de seus contemporâneos, Gógol tinha muito medo de cair em um sono letárgico e ser enterrado vivo (há até uma lenda de que foi exatamente isso o que aconteceu com ele). Ele morreu aos 43 anos em circunstâncias misteriosas, provavelmente vítima de um grave colapso nervoso. Nove dias antes de sua morte, por razões desconhecidas, ele queimou o segundo volume de ‘Almas Mortas’, sua principal obra e que estava quase concluída. Isso deixou o próprio autor em uma espécie de choque. Gógol foi enterrado no cemitério do mosteiro Danílovski, em Moscou, e seu túmulo foi decorado com uma cruz de bronze em uma pedra elevada de "gólgota" e uma laje de mármore preto.

Em 1930, as autoridades soviéticas fecharam o mosteiro e destruíram a necrópole, então os restos mortais do escritor foram transferidos para o cemitério Novodévitchie, em Moscou. Houve boatos de que durante a exumação, o crânio de Gógol havia sido roubado do túmulo e outros diziam que o crânio havia sido encontrado virado de lado, como se confirmasse os receios de Gógol de ser enterrado vivo. A aparência moderna do túmulo, no cemitério Novodévitchie, é uma réplica do original.

Lev Tolstói (1828-1910)

Um dos escritores russos mais prolíficos, Tolstói passou por uma reviravolta espiritual nos últimos anos de sua vida. Ele ponderou muito sobre a fé e a Igreja oficial, esta última muito criticada em seus tratados. Ele escreveu, entre outras coisas, que o papel do sacerdote como mediador da comunicação entre o homem e Deus, era simplesmente supérfluo. Os tratados teológicos de Tolstói e seu último romance, 'Ressurreição', foram até proibidos pela censura secular e da igreja. Como resultado, o escritor foi excomungado da Igreja Ortodoxa Russa.

Por conta de sua inquietude com relação aos temas espirituais, ele começou a simpatizar com os chamados velhos crentes, passou a levar uma vida muito simples e quase desistiu de todas as propriedades privadas, mas teve problemas com sua esposa (algo bem previsível, já que as propriedades eram a principal fonte de renda para eles e seus muitos filhos). Isso resultou em um conflito familiar que fez o escritor fugir de casa aos 82 anos em direção ao Sul. Ele adoeceu no caminho e morreu na pequena estação de Astapovo, que agora tem o nome de 'Lev Tolstói'.

Por já ter sido expulso, o escritor foi enterrado sem nenhum serviço fúnebre ou cerimônia na igreja (embora houvesse rumores de um enterro secreto). Seu túmulo está situado na floresta, em sua propriedade Iásnaia Poliana. Em respeito a sua própria vontade, não há cruz ou lápide no túmulo, apenas um monte de grama.

Piotr Tchaikovsky (1840-1893)

Em 1893, um Tchaikovsky perfeitamente saudável bebeu água não fervida em um restaurante de São Petersburgo, desconsiderando que havia ali um surto de cólera. Ele ficou doente na manhã seguinte e, quatro dias depois, morreu em agonia após ser acometido muito gravemente pela doença.

De acordo com uma lenda que circulou entre os emigrantes russos, Tchaikovsky cometeu suicídio por medo de ser perseguido por homossexualidade: os sintomas de envenenamento por arsênico são semelhantes aos da cólera.

O imperador Alexandre 3º pagou pessoalmente pelo funeral do compositor. A cerimônia aconteceu na Catedral de Kazan, em São Petersburgo, com a participação do Coro do Teatro Imperial. Até membros da família Romanov estiveram presentes. O principal compositor da Rússia foi enterrado no cemitério Tikhvinskoie, no Mosteiro da Trindade-Aleksandr Nêvski, em São Petersburgo.

Vladímir Lênin (1870-1924)

Lênin adoeceu apenas cinco anos depois da revolução de 1917, possivelmente devido à tensão nervosa de discursos constantes, ao trabalho duro e por conta do estresse após a tentativa de assassinato de 1918. Depois de sobreviver a três derrames e perder a fala, o líder soviético morreu de hemorragia cerebral (alguns diziam que, de fato, ele teria sido vítima de sífilis.) A morte de Lênin causou uma onda dos mais incríveis rumores: que ele teria fugido para o exterior, que havia morrido há muito tempo e que seu corpo estava congelado e até mesmo de que aquele não era o corpo do morto, mas um boneco de cera.

A discussão de como exatamente Lênin deveria ser enterrado foi feita quando ele ainda estava vivo, mas já gravemente doente. Afinal, um homem que destruiu a Igreja e as cerimônias da igreja não poderia ser enterrado de acordo com o costume cristão predominante na Rússia. De acordo com a versão oficial, a ideia de “preservar” o corpo foi sugerida por Ióssif Stálin, para atender aos desejos dos trabalhadores de que o corpo do líder fosse embalsamado com os métodos da ciência moderna (muitos membros do partido relutaram de início, pois achavam que as “relíquias” de Lênin não deveriam substituir as relíquias dos santos russos, já que isso seria contrário às ideias do marxismo).

O caixão com o corpo de Lênin foi exibido no salão de colunas da Casa dos Sindicatos (que mais tarde abrigaria outros líderes soviéticos) para a cerimônia civil de despedida. Depois de cinco dias de procissão incessante do povo, o corpo embalsamado foi colocado em um mausoléu temporário de madeira na Praça Vermelha. Em 1930, um moderno mausoléu de granito substituiu o primeiro e é onde Lenin jaz até hoje, em um sarcófago transparente. A preservação do corpo é monitorada por um laboratório especial.

Ióssif Stálin (1879-1953)

Em 1º de março de 1953, aos 73 anos, Stálin foi encontrado por um guarda caído no chão: estava com o lado direito do corpo paralisado. Três dias depois, o líder soviético morreu e, como Lênin, a conclusão oficial foi que a causa da morte havia sido uma hemorragia cerebral.

O caixão também foi exposto na Câmara dos Sindicatos e durante três dias um fluxo interminável de pessoas fez fila para se despedir do líder; membros de delegações estrangeiras também vinham depositar coroas de flores. Em 9 de março, ocorreu o funeral, que ficou também marcado pelas cerca de 100 pessoas que morreram em uma correria na multidão de espectadores. Foi realizado um solene cortejo fúnebre e, ao som da artilharia e da aviação, o corpo embalsamado de Stálin foi levado para o mausoléu.

Os corpos dos dois líderes ficaram lado a lado por oito anos, mas, em 1961, como parte da revisão do culto à personalidade de Stálin, seu corpo foi retirado do mausoléu e enterrado junto ao muro do Kremlin, onde permanece até hoje.

Iuri Gagarin (1934-1968)

Sete anos após seu lendário voo espacial, Iuri Gagarin morreu em um acidente de avião enquanto treinava em um jato de combate MiG. Naquela altura, o governo soviético já havia descoberto como evitar o “estilo cristão” de sepultamento no solo: muitas personalidades famosas passaram a ser cremadas.

Foi exatamente o que foi feito com Gagarin e a urna com as cinzas do cosmonauta foi imortalizada na parede do Kremlin, onde toda uma necrópole de proeminentes estadistas, comunistas e líderes militares já existia naquele momento.

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