Tradicional “copo americano” russo completa 81 anos nesta quarta (11)

Legion Media
Em 11 de setembro de 1943, o famoso copo facetado foi produzido pela primeira vez na fábrica de vidro mais antiga do país. Desde então, passou a ocupar seu espaço em qualquer mesa na Rússia.

A forma mais comum do “copo americano” russo, bastante semelhante ao que se encontra no Brasil, tem 16 facetas e um volume de 200 mililitros (0,2 litros). Muito durável, devido à sua espessura, já resistia perfeitamente a centenas de lavagens em máquinas de lavar louça industriais quando criado.

Há uma lenda popular de que este formato ideal foi desenvolvido pela escultora soviética Vera Múkhina, que também esteve por trás da icônica estátua “Operário e Mulher Kolkosiana”. Mas não há nenhuma evidência real desse fato. Há também relatos de que um tipo de vidro facetado era conhecido há tempos e até mesmo Pedro, o Grande, havia utilizado-o. 

Seja como for, o vidro facetado é hoje um dos símbolos da era soviética e ainda pode ser encontrado nos trens de viagem e cantinas pelo país. 

A lenda soviética

Nos tempos soviéticos, os copos de vidro facetados estavam presentes por todo canto – em cantinas, restaurantes, cafés, hospitais, escolas e máquinas de venda automática com refrigerante.

Com o passar do tempo, tornou-se um dos símbolos daquela época. Mas, aparentemente, esse formato surgiu muito antes de os soviéticos o tornarem mainstream.

A escultora soviética Vera Múkhina, creditada com a autoria por ser a chefe da Oficina de Vidro Artístico de Leningrado na época, projetou o copo de vidro em setembro de 1943.

No entanto, os copos de vidro são uma tradição muito mais antiga para os russos. Embora os produzidos antes de 1943 diferissem da versão soviética, tinham semelhanças evidentes.

Um deles é retratado na pintura do artista Kuzma Petrov-Vodkin “Natureza morta matutina”, de 1918. O copo de vidro presente na tela tem facetas comparativamente largas e não possui borda arredondada achatada. Copos semelhantes eram comuns na Rússia pré-Revolução.

Kuzma Petrov-Vodkin. Natureza morta matutina. 1918

O fabricante de vidro russo Iefim Smolin, que viveu no final do século 17 e início do século 18, é considerado o inventor da versão pré-revolucionária do copo de vidro facetado.

Reza a lenda que o inventor apresentou seu primeiro copo de vidro ao tsar Pedro, o Grande, alegando ser inquebrável. O tsar gostou e supostamente disse: “Que o copo exista!” (Stakánu bit!). Ele teria jogado o objeto contra o chão para testar sua rigidez – mas o vidro estilhaçou. Ainda assim, o tsar não só não puniu o vidraceiro, mas permitiu a produção em massa dos copos.

Acredita-se, porém, que as pessoas presentes nesse episódio interpretaram errado as palavras do tsar. Eles assumiram que Pedro havia exclamado: “Quebrem os copos!” (Stakáni bit!). A partir dessa interpretação errônea surgiu uma tradição de quebrar copos lançando-os contra o chão após brindes especialmente importantes.

Design robusto

É inegável que os soviéticos levaram a popularidade do copo facetado a um novo patamar. Um grupo de especialistas em vidro, designers e escultores foi convocado por uma ordem do governo soviético. 

A missão deles era diferente de qualquer outra:

“Eles foram encarregados de desenvolver esboços de utensílios de mesa que poderiam ser usados ​​em estabelecimentos de alimentação. Naquela época, as máquinas de lavar louça já estavam surgindo, e os copos tendiam a quebrar; além disso, precisava-se muito deles. Os especialistas receberam a tarefa de desenvolver um vidro que fosse durável, bonito, fácil de usar e de lavar. Em suas memórias, Uspenski [artista e membro do grupo de trabalho] escreve que muitas amostras de diferentes utensílios foram desenvolvidos, incluindo um copo facetado, que mais tarde começou a ser produzido na fábrica de cristais Gusevskoi”, contou Alla Tchukunova, curadora da coleção de vidro no Museu do Cristal de Maltsev.

Objetos expostos no Museu de História da Vodca, no interior da muralha do Kremlin Izmailovski

Os resultados do grupo de trabalho superaram as expectativas do governo soviético. Os copos facetados provaram ser muito duráveis ​​e fáceis de lavar em máquinas de lavar e à mão, graças à sua forma distinta.

Aos poucos, esse tipo de vidro se espalhou por toda a União Soviética, sendo usado praticamente em todos os estabelecimentos: de cantinas a hospitais, de resorts a máquinas de venda automática.

Samovar no vagão-restaurante de trem turístico em Sochi.

Para uso em trens, os copos facetados foram complementados por outra invenção peculiar: porta-copos metálicos que se tornaram uma característica essencial e romântica das viagens de trem pela Rússia.

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