Gatos, o símbolo de São Petersburgo e do Museu Hermitage

Luchka, os sonhos do gato.

Luchka, os sonhos do gato.

Kira Lissítskaia (Foto: Legion Media; Anna Sorôkina)
Os moradores de São Petersburgo comemoram o "Dia do Gato" por dois dias seguidos. Em primeiro lugar, são celebrados os gatos do Hermitage, que vivem no porão do icônico museu, “guardando” as preciosas relíquias ali de ratos. Depois, celebração segue para as ruas para homenagear todos os gatos da cidade...

“Tudo bem, entre, já que você está aqui”, parece me dizer um gato preto de smoking e “luvas” brancas, pronto para me dar um passeio por seu domínio, feito de corredores incrivelmente longos no porão, cheios de tubos quentes e pequenas janelas para o mundo exterior. Esse gato, chamado Luchka, e seus muitos colegas “guardam” o Museu Hermitage. A tarefa deles é direta e reta: nunca deixar ratos ou camundongos entrarem no Palácio de Inverno ou em qualquer lugar perto das valiosas peças de exposição do museu.

Uma vez por ano, o Hermitage abre seus porões e convida os visitantes a conhecer os gatos que vivem lá. Isso ocorre durante o “Dia do Gato no Hermitage”, entre o final de maio e o início de junho.

De onde vieram os gatos do Hermitage?

Luchka, o gato, em seu local de trabalho.

Os gatos estão em serviço oficial ali desde os tempos da imperatriz Isabel. Em 1745, ela decretou que São Petersburgo receberia “37 gatos grandes e temíveis” de Kazan. Os gatos guardaram os porões durante a guerra com Napoleão e continuariam a fazê-lo durante a Revolução Russa, mais tarde. A certo ponto, os ratos eram atacados com venenos, mas só esses caçadores natos conseguiram bons resultados.

Durante o cerco de Leningrado, os gatos desapareceram completamente da cidade e os ratos infestavam prédios antigos. Não só as obras de arte do Hermitage estavam em perigo, mas a vida das pessoas: os ratos são notórios portadores de doenças.

Gato no Hermitage.

O governo apelou às populações de regiões não afetadas pela guerra para ajudar Leningrado a se reabastecer de gatos. Os maiores centros de coleta de animais foram Iaroslavl e Tiumen, e como resultado cinco mil gatos siberianos chegaram a Leningrado em 1943.

Existe até um monumento no centro de Tiumen dedicado ao acontecimento. Provavelmente haja descendentes desses caçadoresz siberianos no Hermitage até hoje. A equipe do museu diz nunca ter visto um único rato: há uma boa chance de que eles simplesmente se assustem com o próprio cheiro dos gatos.

Porões do Hermitage.

Reconhecidos pela carinha

“Conhecemos todos os nossos gatos de cara”, dizem os funcionários. “Alguns têm até nome.” Um grande gato preto e branco, Mavrik, rapidamente interrompe o bate-papo na escada com a manchada Charlotka ("torta de maçã") e Makar, um gato branco como a neve, assim que ouve seu nome. “Que gatinho bom é você! Não é, Mavrik?”, diz uma funcionária, acariciando o animal.

Além do tourpelos porões, há também um concurso de pintura. As melhores obras de arte são exibidas ali.

Existem porões em todo o perímetro do Palácio de Inverno, onde os gatos circulam livremente sem vigilância. Apenas uma pequena parte deles é ocupada por um centro especial de cuidados com gatos até que recobrem a saúde. “Temos aqui a Genebra, que precisa de comida especial e, para evitar que ela pegue comida de outros gatinhos, a mantemos aqui.”

Casa do Gato, um centro de cuidados sob o Palácio de Inverno.

Antes de acabar no porão, a chique Geneva morava com Vária, de cor semelhante, na casa de um funcionário do Hermitage. No entanto, o proprietário morreu e ninguém da família quis ficar com os bichanos. Normalmente, a equipe tenta encontrar um novo lar para esses gatos o mais rápido possível, pois eles já estão acostumados a ter uma família humana.

Sharlotka, a gata, faz uma pequena pausa.

Antes de os gatos serem colocados para adoção, eles são vacinados, e se eles tiverem mais de sete meses, são esterilizados. Alguns gatos que não conseguem encontrar um novo lar acabam no café "Respúblika Kochek" ("República dos Gatos"), em São Petersburgo, fundado pela veterinária do Hermitage Anna Kondratieva, em 2011. Ela agora é a feliz “mãe” de Aquiles.

Aquiles e Anna.

Símbolo vivo de São Petersburgo

O “Respúblika Kochek” tem seu próprio “dia do gato”, celebrado logo após o do Hermitage. Por um dia, a rua Bulevar Konnogvardeiski (em português, "guarda montada") é rebatizada de “Kotogvardeiski” (algo como "guarda dos gatos") e cercado por muitos gatos de raças diferentes: as pessoas trazem seus gatos para a festa, e os voluntários também vêm ajudar os gatos necessitados a encontrar um novo lar.

Café República dos Gatos.

O gato Dimok (em português, “Fumacento”) parece um simples vira-latas cinza. Mas ele também encontrou uma nova casa com a artista Anna e sua amiga e agora passeia calmamente com uma coleira e até sai de férias com as novas donas. “Ele adora viajar e gosta de novas experiências. Assim como as pessoas, tem quem goste de socializar, enquanto outros gostam de sentar na frente do sofá e assistir TV ”, dizem elas.

O gato chamado General.

Aqui também passeia no ombro de sua humana Elizaveta o gato Lucky, da raça “bobtail das Curilas”, enquanto o gato-de-bengala Simba busca a grama mais deliciosa. Ele parece bastante assustador à primeira vista, mas, na verdade, está sempre atrás de sua humana.

O gato Dimok com seu humano.

“A ideia do evento surgiu em 2005, com o artista Dmítri Chagin, do coletivo de arte ‘Mitki’”, conta a porta-voz do café dos gatos, Olga Titovitch. “Os gatos simbolizam aconchego e bondade – e são listrados, como o ‘Mitki’ – por isso, as pessoas vêm de ‘telniajki’ [camisas de marinheiro] para o evento. Quando o 'Respúblika Kochek' abriu, adotamos a tradição e começamos a realizar uma grande celebração anual dos gatos. Acreditamos que os gatos unam atletas, empreendedores, pessoas do mundo das artes... todo mundo que você possa imaginar!”

Lucky e Elizaveta.

O café não entrega seus gatos para adoção no próprio evento. Em vez disso, sugere que os possíveis proprietários abordem a questão da adoção de maneira muito consciente.

Simba procurando a grama mais saborosa.

“Gatos precisam de humanos e humanos precisam de gatos. E somos uma espécie de agência de correspondência romântica”, diz Olga. “Porque, quando você resgata um gato, nem sempre fica claro quem você está ajudando mais: o gato ou você mesmo!”

VEJA TAMBÉM: 25 obras-primas imperdíveis do museu Hermitage

Caros leitores e leitoras,

Nosso site e nossas contas nas redes sociais estão sob ameaça de restrição ou banimento, devido às atuais circunstâncias. Portanto, para acompanhar o nosso conteúdo mais recente, basta fazer o seguinte:
Inscreva-se em nosso canal no Telegram t.me/russiabeyond_br

Assine a nossa newsletter semanal

Ative as notificações push, quando solicitado(a), em nosso site

Instale um provedor de VPN em seu computador e/ou smartphone para ter acesso ao nosso site, caso esteja bloqueado em seu país.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies