Por que os russos podem parecer tão estranhos?

Konstantin Tchalabov/Sputnik
Esta questão provoca amplos debates em algumas páginas da internet. Descobrimos que existem razões para algumas dessas ‘estranhezas’ que se pode encontrar.
  1. Distâncias e clima

“Os russos são estranhos porque enquanto a gente reclama de um voo de três horas que não tinha opção de comida vegana, eles já viajaram de e para a Sibéria por uma semana, em um trem de ida e volta, com nada além de uma camiseta, uma muda de roupa íntima, um maço de cigarros e alguns pacotes de macarrão instantâneo”, escreve Thomas Hulber, que mora na Rússia e afirma no Quora ter “visto algumas coisas”.

E isso não é exagero. A Rússia é grande – as viagens, também. Meus amigos em Tiumên (mais de 2.000 km a leste de Moscou) consideravam rotina voar para ver os pais em um fim de semana. “Eu namorei uma garota russa. Ela cresceu perto de Moscou. Mas esse ‘perto’ fica a cerca de 160 km a leste. Onde eu cresci, se você viaja 150 km em qualquer direção, já cruza uma fronteira estadual ou nacional”, escreve Murphy Barrett.

Quais qualidades implicam grandes distâncias? Em primeiro lugar, paciência. Desde a infância, os russos aprendem que a espera será longa. Portanto, eles acabam tendo um entendimento ligeiramente diferente do tempo.

  1. Horário

Em um comentário no Tripadvisor, um usuário dá uma dica sobre um dos principais hábitos dos russos: “Nunca chegue na hora”. “Meu namorado americano só aprendeu a lição quando meus pais russos o repreenderam por chegar na hora certa para o jantar. Eles não estavam nem perto de estar prontos”, comenta outra usuária, de Denver, nos EUA. Mais uma vez, um bom argumento. Os russos não gostam de deixar as pessoas constrangidas quando aparecem e os anfitriões apenas começaram a colocar os pratos na mesa.

Entre outras coisas tradicionais russas, o Buzzfeed menciona brindes, anedotas engraçadas (não, não são piadas; as histórias que levam dez minutos para serem contadas são chamadas de “anedotas” na Rússia) e conversas longas. Tudo isso acontece em volta de uma mesa festiva. E não, não queremos fazer nenhum jogo de bebida. O tio viajou de Samara (cerca de 1.000 km de Moscou), o pai acabou de chegar do trabalho porque tem turnos longos, o irmão e sua esposa estão tendo um fim de semana estranho porque seus horários de trabalho não coincidem, e é a primeira vez desde 2015 que toda a família está à mesa. Nós vamos ficar aqui até as 4 da manhã, temos muito a contar um para o outro... Ei, se você quer dormir, tome um café, são apenas 11 da noite, pelo amor de Deus!

  1. Língua

Se você não está aprendendo russo ou não sabe falar a língua, isso pode não ser tão óbvio para você, mas há muitas coisas estranhas que os russos podem fazer com seu idioma. Existem milhares de entonações possíveis e uma sutil ironia na forma como as palavras são pronunciadas ou na ordem das frases. Como se sabe, o russo permite muitos trocadilhos.

“Os russos têm essa coisa ‘estranha’, segundo a qual podem fazer um diminutivo de quase qualquer substantivo. Por exemplo, DShK torna-se Duchka, que significa ‘metralhadora pesada’. Eles nomearam seu primeiro lançador de foguetes Katiucha, que é algo como Katarininha (diminutivo de Ekaterina). Eu acho isso muito charmoso e muito engraçado.”

“Eles também podem fazer essa coisa ‘estranha’ com linguajar chulo, no qual podem, por meio da união de raízes, transformar quase todas as palavras de uma frase em um palavrão”, escreve Murphy Barrett. Entre os russos, isso se chama “dizer tacos de três camadas”, quando você não só usa palavrões, mas cria alguns a partir de termos usuais.

  1. País multiétnico

O russo não é a única língua falada no país, e a Rússia é muito diversificada etnicamente.

“Os russos são estranhos. Todas as culturas têm suas próprias idiossincrasias, mas os russos levam na moral. É difícil combinar vikings, eslavos, mongóis e muitos outros grupos étnicos e não obter algo fora do comum”, escreve Stephen Powers. E tudo o que fizeram foi chegar um pouco mais perto das raízes dos russos. Lembre-se que a Rússia é um lugar verdadeiramente multicultural, onde vivem cerca de 200 grupos étnicos diferentes.

Independentemente disso, todas essas pessoas se autodenominam russas: podem ser asiáticas, indígenas ou pertencer ao grupo étnico siberiano tchuktchi.

É óbvio que com tanta diversidade étnica, os povos russos possuem diferentes crenças, tradições e, sim, superstições indígenas. Todos adoram esses pequenos rituais.

  1. Tradições e superstições

Sentar-se antes de fazer uma longa viagem é apenas uma das superstições russas. A maioria é muito antiga e está ligada a crenças pagãs e pré-cristãs. Na realidade, as superstições são o que conecta os russos com seus ancestrais, que acreditavam que era errado apertar as mãos sobre o umbral, pois é uma fronteira entre dois mundos; viam o lado esquerdo como a cova do diabo e cuspiam sobre o ombro esquerdo, e assim por diante.

Algumas superstições, no entanto, têm uma origem racional. Acredita-se que derrubar sal possa causar uma discussão, pois até o século 19 o sal era muito caro e conservante natural que ajudava a conservar os alimentos durante os longos invernos. O hábito de colocar garrafas vazias embaixo da mesa é porque antes, em hotéis e bares, a quantidade de garrafas vazias na mesa indicava o consumo e usava-se como referência para fazer a conta.

Sendo assim, a maioria das coisas estranhas sobre os russos tem sua própria explicação. Afinal, os russos são estranhos?

P.S. Os russos NÃO são estranhos.

“Os russos não são estranhos. Talvez você não tenha sido exposto a nenhuma cultura ou ambiente diferente do seu. Seguindo essa lógica, os russos poderiam se fazer as mesmas perguntas sobre seu país”, argumenta Sydney Rankin.

“A única razão pela qual a Rússia é tão estranha é porque é diferente da sua própria experiência. Isso vale também para o seu país, em relação ao país de origem de alguém que tem pouca ou nenhuma experiência nesse sentido. Para um russo, a Rússia é perfeitamente normal, e outros lugares são estranhos, o que inclui qualquer país. Meu conselho: saia pelo mundo, viaje para lugares ‘estranhos’, abrace a ‘estranheza’ e valorize-a”, escreve o professor de inglês como língua estrangeira Leo Moran – e não há conselho melhor.

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