Embora as agências regulatórias europeias e norte-americanas se recusem a aprovar a vacina russa Sputnik V, as encomendas do imunizante russo crescem para diversos países em desenvolvimento. Atualmente, a Sputnik V já foi aprovada para uso emergencial em cerca de 70 países, e mais da metade assinou contratos de fornecimento com a Rússia.
Pouco divulgados pela imprensa internacional, os dados sobre as exportações da vacina russa podem ser obtidos junto ao Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, o fundo soberano da Rússia), que financiou o desenvolvimento do Sputnik V e é responsável por sua comercialização no exterior. O Russia Beyond teve acesso a relatórios sobre contratos de fornecimento do Sputnik V para 46 países, com quantidades variando de dezenas de milhares a dezenas de milhões de doses. Aqui estão os maiores compradores da Sputnik V:
Até o momento, a maioria dos Estados com os quais foram assinados contratos recebeu apenas uma fração dos valores planejados. O maior número de doses foi fornecido à Argentina, que recebeu pelo menos 33% da encomenda total, em 15 parcelas: a primeira foi despachada ainda no final de dezembro, e a última, em 30 de junho.
A expectativa do RDIF é fornecer 896 milhões de doses do Sputnik V no exterior este ano. No entanto, de acordo com cálculos recentes da mídia e empresas de pesquisa, a Rússia forneceu até o momento cerca de 17 milhões de doses da vacina para outros países, o que representa apenas 1,8% do montante previsto.
Alguns países já reclamaram do atraso nas entregas. Por exemplo, em 30 de junho, a Guatemala exigiu que a Rússia devolvesse o dinheiro que havia recebido pelo imunizante: o país latino-americano desembolsou US$ 79 milhões em pagamento adiantado de 50% pela encomenda de 16 milhões de doses da Sputnik V. Até então, a Guatemala havia recebido somente 150 mil doses da vacina russa, isto é, 1,87% do lote prometido. “Estamos pedindo (...) reembolso. Se, em algum momento, eles tiverem a oportunidade de vender [a vacina], pagaremos no momento da entrega”, disse a ministra da Saúde local, Maria Amelia Flores.
O Fundo russo garante, no entanto, que todas as remessas estão sendo entregues conforme o planejado e que todos os contratos serão cumpridos. Segundo o RDIF, espera-se um aumento nas entregas de exportação uma vez que a Rússia atender a demanda interna e liberar sua capacidade de produção. Até que isso ocorra, o mercado interno continua sendo prioridade. “Os centros [de produção] russos também começarão a focar nos suprimentos para exportação, mas somente quando a vacinação em massa na Rússia for concluída”, declarou recentemente o CEO do Fundo, Kirill Dmitriev.
Até esta quinta-feira (22), mais de 55 milhões de doses da vacina contra covid-19 foram administradas em todo o território russo. Cerca de 21,8 milhões de pessoas já receberam as duas doses no país, o que representa 15,1% da população nacional.
Como a Rússia não conseguirá atender à demanda de exportação da Sputnik V concentrando toda a produção no país, outros 15 Estados, incluindo o Brasil, receberam licença para produção do imunizante russo.
“Dessa forma, [a Rússia] não terá que investir na construção de fábricas e em logística”, explica Nikolai Bespalov, diretor de desenvolvimento da empresa de pesquisa RNC-Pharma.
O maior fabricante estrangeiro da vacina russa será a Índia. Espera-se que o país asiático responda por cerca de 60% da produção estrangeira total da Sputnik V. Paralelamente, o Irã deve se tornar um centro regional de produção da vacina russa no Oriente Médio.
Não se sabe exatamente quanto a Rússia ganhará com a exportação do Sputnik V, uma vez que os detalhes dos contratos não foram divulgados oficialmente e dependem de país para país. Recentemente, o governo da Eslováquia publicou seu contrato para recebimento da vacina russa, uma dose custava US$ 9,90 e duas, US$ 19,90. Já no Brasil, de acordo com o veículo The Intercept, o governo federal poderá pagar dois dólares mais caro, 20% mais, que governos estaduais pela vacina russa; enquanto a encomenda de 10 milhões de doses do Ministério da Saúde brasileiro deve exigir um pagamento de US$ 11,95 dólares por unidade, os estados do Consórcio Nordeste irão desembolsar US$ 9,95 por dose.
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