Como as joias dos Romanov foram parar nos EUA?

História
ANNA SORÔKINA
Colares de esmeralda de valor inestimável e broches com enormes safiras que outrora adornaram os vestidos das tsarinas russas encontraram novos proprietários: socialites americanas e mulheres de magnatas do petróleo.

Após a Revolução de 1917, os bolcheviques venderam os tesouros Romanov no exterior, mantendo apenas os itens mais valiosos na Rússia. Mas as luxuosas joias agradavam não apenas aos monarcas europeus, como também a socialites e às joalherias famosas norte-americanas.

Esmeraldas de Maria Pávlovna

A grã-duquesa Maria Pávlovna (1854-1920), mulher de Vladímir Aleksandrovitch (filho do imperador Aleksandr 2°), foi uma das poucas Romanov que conseguiu levar suas joias para o exterior após a Revolução.

Ela tinha uma grande coleção de joias que, após a morte do marido, legou aos filhos. Esta imagem de enormes esmeraldas tornou-se famosa graças às fotografias de um baile à fantasia de Romanov em 1903.

Maria Pávlovna posa com o traje de boiarinia, mulher nobre na Rússia antiga, e seu toucado e vestido são adornados com um diadema e broches de esmeralda.

As pedras pertenceram a Catarina, a Grande. Muitos diademas da época eram adaptáveis ​​e podiam ser usados ​​como colares, broches ou brincos. Este não era exceção. A joia foi o presente de casamento que ela ganhou de Aleksandr 2° em 1874.

Seu filho Borís herdou as esmeraldas e, inicialmente, sua mulher Zinaída Ratchevskaia os usava, mas ele logo as vendeu à joalheria Cartier. Borís comprou um castelo não muito longe de Paris com a venda das joias.

Já a Cartier usou as esmeraldas históricas para fazer novas joias e revendê-las a outros donos. Por exemplo, algumas das pedras foram usadas em um sautoir (como são chamados os colares com pingentes), feitos sob encomenda para Edith Rockefeller, filha do fundador da Standard Oil John Rockefeller. Após sua morte, as joias foram novamente compradas pela Cartier para serem retrabalhadas.

Uma das tiaras mais famosas incrustadas com essas pedras pertenceu à socialite Barbara Hutton, herdeira do império varejista de Woolworth, que no fim da vida esbanjou toda a sua fortuna.

Após a morte de Hutton, a tiara foi desmontada e algumas das pedras foram restauradas em um parure de esmeraldas pela Bulgari para a atriz Elizabeth Taylor — elas também foram vendidas em leilão.

A maior esmeralda foi posteriormente cortada em forma de gota pela joalheria Cartier, perdendo no processo um terço de seu peso, e reinstalada em um colar de diamantes. Em 2019, ele foi vendido em leilão por mais de 4,8 milhões de dólares.

A Coroa Nupcial dos Romanov

Esta pequena coroa cravejada de grandes diamantes foi feita em 1884 para o casamento de Elizaveta Fiódorovna e Serguêi Aleksandrovitch, filho do imperador Aleksandr 2°. Até a Revolução, todos os membros que se seguiram da família Romanov usaram esta tiara em seu casamento.

Os bolcheviques, no entanto, não viram nenhum valor artístico particular nela, por isso decidiram vendê-lo em leilão. Ela mudou de proprietário várias vezes (a coroa chegou até a adornar a cabeça da vencedora do concurso de Miss Universo na Califórnia em 1952!) até que, em 1966, foi comprada por Marjorie Post, mulher do ex-embaixador dos EUA na URSS.

Grande admiradora da arte russa, ela fundou o Hillwood Estate, Museum and Garden, próximo a Washington, e a coroa se tornou sua peça de exposição mais valiosa.

Colar de pérolas de Catarina, a Grande

O colar da Imperatriz Catarina, a Grande (1729-1796) tinha inicialmente 389 pérolas naturais de rio. Pérolas artificiais não existiam até aqueles tempos e esta era uma joia muito rara e cara, que poucas pessoas podiam pagar. Depois da Revolução, o colar também acabou na joalheria Cartier, que o vendeu para o magnata americano dos automóveis Horace Dodge.

Em 1920, ele comprou o colar para sua mulher, Anna Thompson Dodge, por 820 mil dólares, uma quantia incrível de dinheiro na época. A herança das joias foi compartilhada pelos cinco netos de Anna e Horace, que receberam um colar de pérolas cada.

Em 2018, três cordões de pérolas, mantidos juntos por um broche de diamante da Cartier, foram vendidos em leilão em Nova York por 1,1 milhão de dólares.

Safira de Maria Fiódorovna

A imperatriz Maria Fiódorovna (1847-1928), consorte de Aleksandr 3° e mãe de Nikolai 2°, o último imperador russo, conseguiu fugir para a Grã-Bretanha após a Revolução (sua irmã Alexandra era consorte do rei Eduardo 7°) e depois para a Dinamarca, onde ela vivia antes do casamento.

Após sua morte, suas joias passaram para sua filha Ksênia, as vendeu. A imperatriz tinha uma queda por safiras e sua coleção tinha algumas pedras muito grandes e raras (algumas das quais são usadas na Grã-Bretanha hoje).

A maior safira acabou em 1928 na joalheria de Nova York da Cartier, que posteriormente a vendeu para a cantora de ópera americana Ganna Walska (que nasceu em Brest, na atual Bielorrússia). Em 1971 a diva decidiu vender suas joias e, após uma série de donos, a safira voltou para a Cartier novamente.

Em 2015, seus joalheiros criaram a pulseira Romanov com a safira refacetada de 197,8 quilates de Maria Fiódorovna. A identidade do novo proprietário não foi revelada.

As joias dos últimos Romanovs

Uma coleção de joias Fabergé (incluindo vários ovos de Páscoa famosos); ícones antigos da Igreja Ortodoxa Russa; pendentes com cruz que pertenceram às filhas do último tsar russo, Nikolai 2°; talheres de porcelana refinados e muitos outros pertences pessoais dos Romanov foram retirados da URSS pelo empresário americano Armand Hammer, bisavô do ator de Hollywood Armie Hammer.

O pai de Armand Hammer foi um dos mais famosos comunistas americanos, e chegou a batizar seu filho em homenagem ao emblema do "braço e martelo" (“Arm and hammer”) do Partido Socialista da América. Hammer colaborou com os bolcheviques por anos a fio e esteve envolvido em missões de inteligência militar soviética.

Naquela época, ele conseguiu reunir uma coleção bastante grande de arte russa, que permitiram que ele levasse embora na década de 1930. Não se sabe o número exato de itens que acabaram nas mãos do empreendedor americano.

Alguns historiadores acreditam que muitos dos objetos não tinham valor artístico e que alguns deles eram falsificações completas, mas em 1932 Hammer realizou uma verdadeira venda de tesouros tsaristas em um antiquário de Nova York. Entre eles, havia ovos de Páscoa Fabergé, uma cigarreira Fabergé, ícones pessoais de Nikolai 2°, cadernos de Maria Fiódorovna e muito mais. Algumas das joias dos Romanov foram vendidas como "Pedras dos Urais", por isso é muito difícil saber o que aconteceu com elas posteriormente. Outras joias surgem até hoje em leilões vintage.

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