Em novembro de 2019, diversos meios de comunicação publicaram reportagens sobre formigas que escaparam de um bunker abandonado da era soviética na Polônia, supostamente usado para armazenar armas nucleares, depois de terem sobrevivido por anos como canibais. A história se tornou tema recorrente de interesse on-line.
“Formigas radioativas escampam de bunker soviético radioativo e encontram seu caminho de volta para o mundo exterior” – não soa como boa notícia, sobretudo com o calamitoso ano de 2020 ainda em curso. Mas é motivo de preocupação?
Não é preciso entrar em pânico...ainda.
Aqui está o ponto crucial dessa história estranha.
Uma equipe de cientistas poloneses liderada por Wojciech Czechowski descobriu formigas presas em um antigo bunker nuclear abandonado da era soviética em 2013, enquanto conduzia uma pesquisa sobre (ATENÇÃO!) morcegos.
No meio da busca, os cientistas encontraram uma colônia de formigas que haviam ficado presas no bunker. Os insetos caíram por um tubo de ventilação e não foram capazes de encontrar o caminho de volta ao formigueiro original.
Tratava-se apenas de formigas operárias, que não podiam se reproduzir. Além disso, não havia nenhuma fonte de alimento no bunker nem de calor ou luz.
Os cientistas deixaram as formigas no local de descoberta apenas para voltar em 2016 e ver como estavam. Eles ficaram surpresos ao ver que a colônia só havia aumentado, e os cadáveres das formigas mortas possuíam marcas de mordida na área do abdômen.
“A sobrevivência e o crescimento da ‘colônia’ do bunker ao longo dos anos, sem gerar prole, foi possível devido ao fornecimento contínuo de novas operárias do formigueiro superior e ao acúmulo de cadáveres de companheiros do formigueiro”, concluiu a equipe no artigo de pesquisa subsequente. “Os cadáveres serviram como fonte inesgotável de alimento, o que permitiu a sobrevivência das formigas presas em condições que de outra forma seriam extremamente desfavoráveis.”
Para fins experimentais, os cientistas instalaram então um pedaço de madeira para fornecer às formigas um escape que levava de volta superfície.
Em um ano, a colônia de formigas presas havia sumido do bunker; presumivelmente, elas retornaram voltaram ao formigueiro original.
Mas, afinal, a humanidade deveria se preocupar com uma súbita incursão de formigas radioativas? Segundo a comunidade científica, não.
Ao contrário de outras histórias desencadeadas em 2020, esta é provavelmente inofensiva e inspiradora: se os relatos provam alguma coisa, é “o potencial monumental de auto-organização que as formigas têm que manter mesmo em condições que vão muito além dos limites da sobrevivência da espécie”.
Os soviéticos construíram abrigos nucleares na Polônia no final dos anos 1960. No total, três bunkers foram abandonados no início de 1990, quando a União Soviética entrou em colapso, e o contingente soviético se retirou da Polônia. Cientistas poloneses acreditam que os abrigos soviéticos foram projetados para armazenar armas nucleares, mas não há evidências claras de que havia realmente armas ali, já que o nível de radiação nos bunkers não excede os parâmetros normais.
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