“A Itália realmente demorou para agir”, dizem virologistas russos em Bergamo

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NIKOLAI LITÔVKIN
Especialistas relatam condições observadas na cidade mais atingida pela covid-19 na Itália.

Oito equipes de virologistas russos, com cerca de 100 pessoas no total, estão atualmente trabalhando em Bergamo, a cidade mais afetada pela epidemia do novo coronavírus na Itália.

“Nossos especialistas, sob orientação dos principais epidemiologistas russos, estão realizando procedimentos de desinfecção – processamento de pacientes na ‘zona vermelha’ de coronavírus [na Itália]”, declarou ao jornal “Kommersant” o vice-diretor do centro de pesquisa para epidemiologia e microbiologia Paster de São Petersburgo, Aleksandr Semenov.

“Um esforço sério e centralizado não foi observado aqui. De onde viemos, isso seria considerado ultrajante, enquanto aqui parece ser a norma.”

Segundo Semenov, os militares russos fazem rondas diárias desinfetando prédios do governo, três por dia, usando uma equipe diferente para cada sessão.

Além disso, muitas instituições italianas estão sendo reapropriadas para uso como centros de tratamento, incluindo salas de exposições. O investimento para tal vem não apenas do governo, mas também da comunidade local e dos ex-militares.

De acordo com os médicos locais, a propagação da infecção é exponencial desde março. “Nessas situações, o sistema de saúde fica sob pressão, e agora entrou em estado de colapso. Vocês nem podem imaginar a emoção do médico-chefe quando descobriu que trouxemos algumas dezenas de ventiladores, que nós mesmos planejamos operar”, acrescentou Semenov.

Muitos médicos na Itália vêm sofrendo de fadiga devido ao trabalho intermitente e a um número cada vez maior de casos. “Um médico italiano tem um a dois ventiladores e de três a cinco pacientes com problemas respiratórios agudos, o que significa que a pessoa praticamente não está respirando. É loucura ter que enfrentar a escolha de quem deixar respirar. A ética médica nessas situações não é mais algo teórico, mas uma escolha impossível para um médico”, contou.

Segundo o médico russo, a Itália demorou cerca de três semanas para começar a agir. “Eles realmente demoraram na Itália. Ontem, nossos especialistas trabalharam em uma causa de repouso nos arredores de Bergamo. Um total de 50 de 120 residentes morreram, com mais 60 infectados. Esse foi o preço para parentes que não quiseram ficar em casa e resolveram visitar seus avôs e avós.”

Pelas estatísticas, Semenov acredita que a situação é “melhor que ontem”, mas ainda é cedo para fazer previsões promissoras de vitória sobre o vírus.

Para não repetir cenário na Rússia

“Os especialistas enviados pela Rússia para a Itália são conhecidos por seu trabalho na África em 2014, onde combateram a epidemia de Ebola”, disse ao Russia Beyondo analista militar do “Izvêstia” Dmítri Safonov.

Além dele, diversos especialistas – incluindo Semenov – foram enviados pelo Ministério da Defesa russo para uma missão na China, onde supervisionaram o tratamento local de casos de coronavírus. “Mas essas foram viagens curtas – não com o mesmo formato de uma missão de pleno direito, como é o caso da Itália.”

Segundo o analista, as informações fornecidas pelos médicos no país europeu servem também como suporte para a realização de novas medidas contra a disseminação do coronavírus na Rússia. “Eles passam instruções diretas sobre o que não fazer se o país não quiser repetir o cenário italiano”, acrescentou.

Safonov acredita que os médicos russos ficarão pelo menos dois meses na Itália.

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