Como os moscovitas vão trabalhar?

Estilo de vida
GUEÓRGUI MANÁEV
Com mais de 12 milhões de habitantes, a capital russa é considerada a maior cidade da Europa. Ali, ir para o trabalho é considerado uma baita aventura - nem sempre agradável.

Quanto tempo você gasta no trânsito diariamente para ir ao trabalho? Para alguns moscovitas, a regra são quatro horas por dia. Isso para quem vive dentro de Moscou, porque para quem vive nos arredores pode ser muito, muito mais.

Nem um minuto a menos

Eu mesmo, o autor deste texto, normalmente, saio para trabalhar às oito horas da manhã. Meu trajeto, geralmente, é o seguinte: uma caminhada de 7 minutos até o ponto de ônibus, de 5 a 10 minutos de ônibus até o metrô, cerca de meia hora no metrô com uma baldeação, seguida por um minuto de caminhada e eu estou a porta do escritório.

Eu moro em Izmailovo, na fronteira de Moscou – um atrativo para a classe média, já que os preços mais baixos atraem a alugar e comprar apartamentos ali.

Isto tornou o bairro um inferno para os motoristas. Para ir de carro de Izmailovo ao centro é preciso pelo menos 2 horas - e o trânsito é um verdadeiro pesadelo. Assim, para quem tem que chegar ao escritório às 9 da manhã - como a maioria dos moscovitas – a melhor opção é o metrô.

O metrô, porém, é ao estilo “lata de sardinha” no horário de pico! Moscou tem mais de 12 milhões de pessoas e 7 milhões dessas são economicamente ativas. Além disso, segundo a Escola Superior de Economia, entre 0,9 e 1,2 milhão de pessoas viajam diariamente de e para Moscou. E as pessoas que têm entre 22 e 30 anos fazem as rotas mais longas.

De acordo com os autores do estudo, Moscou atrai pessoas para trabalhar vindas de até 50 quilômetros de distância diariamente. Assim, cerca de 9 milhões de pessoas usam o metrô de Moscou todos os dias.

É por isso que este meio de transporte precisa que funcionar como um verdadeiro relógio. Calcula-se que até mesmo um atraso de 10 segundos de um trem do metrô cause um efeito dominó que leva a um atraso de 5 minutos na chegada do trem ao fim da linha.

Aprenda línguas... dirigindo!

Daria Fiôdorova, de 24 anos, vive em Domodêdovo, cidade nos arredores de Moscou. Ela leva mais de 4 horas por dia para ir e voltar do trabalho de carro. Se pegasse o transporte público, porém, gastaria mais ou menos o mesmo tempo.

A diferença é que, no transporte público, pode-se, ao menos, ler ou ouvir podcasts. Daria, porém, ainda consegue se maquiar e estudar espanhol enquanto dirige. Muitas vezes, é este o tipo de distração que leva a pequenos acidentes de trânsito - que agravam ainda mais os engarrafamentos.

Há alguns anos, Dmítri, que morava no bairro de Butovo, no sul de Moscou, e dirigia um Hyundai Santa Fé, ganhou fama como o “Papai Noel de Butovo”. Isso porque, todas as manhãs, ele bloqueava com seu carro o acesso à faixa de ônibus para impedir os motoristas desobedientes de ocupá-la. Isto transformou Dmítri em uma espécie de herói, já que ajudou muita gente a chegar no trabalho mais rápido.

Já Elena, de 35 anos, vive na cidade de Litkarino, nos subúrbios de Moscou, e escolheu trabalhar em casa. Ela é roteirista e mãe solteira, e diz que é uma façanha ir ao trabalho diariamente em Moscou.

“Não há estações de trem suburbanas. O que existe é uma estrada de 5 quilômetros pela floresta que tem só duas pistas e engarrafamentos constantes nas manhãs de segunda a sexta-feira. A estrada, que normalmente consumiria 20 minutos, leva 2 horas!”, diz.

“Quando se chega à rodovia que leva à cidade, então, você pode levar mais duas horas para percorrê-la, se houver um acidente de trânsito ou obras na estrada. Construíram recentemente uma nova estrada que encurta a viagem. Mas é verão, a estação das [casas de campo] dátchas, e fica difícil voltar a Litkarino em uma sexta-feira à noite, por exemplo, quando as pessoas saem da cidade rumo às dátchas”, completa Elena.

Outra causa importante dos engarrafamentos de Moscou são os pais levando os filhos para a escola de carro. Nos tempos soviéticos, isto era inimaginável.

“Na minha época, ninguém levava ou buscava os filhos da escola. A gente sabia que existia gente má, mas Moscou ainda era considerada muito segura. Por isso, as crianças normalmente só precisavam combinar de ir à escola em grupos. Eu pegava o ônibus, descia no ponto seguinte e depois caminhava por um quilômetro para chegar à escola. Mas, quando tive filhos, nossos bairros ficaram mais perigosos e, nos anos 1980 e 1990, a gente passou a levar as crianças à escola”, conta Tatiana, de 61 anos.

A pé de novo?

No final dos anos 2000, Moscou tinha problemas de transporte que precisavam ser resolvidos imediatamente. A partir de 2010, o metrô da capital foi significativamente ampliado, ganhando mais de 60 novas estações.

Além disso, uma nova linha circundando a cidade – outra paralela a esta já existia - foi inaugurada em 2016. Até 2023, as autoridades prometem inaugurar mais 55 estações de metrô em Moscou.

Em geral, o transporte público da cidade avançou muito. Mas, ainda assim, é difícil locomover-se para o trabalho na capital russa.

No último inverno, diversas linhas do metrô de Moscou passaram por manutenção. Por dias a fio, os trens foram substituídos por ônibus, o que causou um caos por todas as linhas em manutenção.

Mas, afinal, tudo isto fez valer a pena vender o carro e andar a pé - e de transporte público!

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