Vitáli Petróv, o homem que fez história como primeiro piloto de F1 da Rússia

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Petróv entrou para a história do automobilismo como o primeiro russo na Fórmula 1. Mas sua carreira no topo terminou prematuramente.

Maio de 2011. Grande Prêmio de Mônaco. Um carro da equipe Force India raspa na barreira, fazendo com que Lewis Hamilton e Jamie Alguersuari freiem bem na frente de Vitáli Petróv. A colisão é inevitável e Petróv joga o carro para a cerca.

“Sentei e não sentia minhas pernas. Não doía, mas eu não sentia as pernas. Pensei: ‘****, acho que quebrei as pernas’", conta.

Petróv ganhou fama como o primeiro russo na Fórmula 1. Mas uma série de acidentes e conflitos com a equipe encerrou sua carreira no auge das corridas. Hoje ele corre em outro tipo de competição, mas não consegue esquecer a experiência na F1.

O primeiro

Em 31 de janeiro de 2010, a equipe Renault anunciou Vitáli Petróv como seu novo piloto. No mesmo dia, o russo, aos 26 anos de idade, nascido em Viborg, próximo à fronteira russo-finlandesa, voou para Valência para se unir a todas as equipas da F1 durante oito dias de corridas de testes.

Ele estabeleceu rápido sua autoridade diante da equipe internacional. “Não foi simples. Com alguns eu me dava muito bem, mas com outros tive até que bater boca”, diz Petrov sobre seus ex-companheiros de equipe.

Petrov (esquerda) e Kubica. Valencia. 2010

A primeira corrida no Bahrein jogou lenha na fogueira. Petróv largou da 17° posição e estava fazendo um bom progresso quando detectou problemas. Um parafuso quebrado derrubou a suspensão, forçando Petróv a sair da pista.

"Eu estava frustrado. Eu competia com Rubens Barrichello pelo 10º lugar, e ia mais rápido que ele. Eu ia ultrapassá-lo, não fosse a falha mecânica", diz Petróv.

Tragédia e triunfo

Ao mesmo tempo, Petróv entrava em conflito com seu companheiro de equipe Robert Kubica. O primeiro e único piloto de F1 da Polônia relutava em dar espaço a um russo menos experiente. Petróv, por sua vez, estava pronto a fazer grandes esforços para provar sua superioridade e conseguir um lugar na equipe no ano seguinte.

Robert Kubica com o companheiro de equipe Vitáli Petrov.

“Kubica, meu companheiro de equipe, foi também meu principal adversário. A gente tinha carros quase idênticos. Eu tinha que provar que eu era melhor que ele e merecia lugar no ano seguinte”, diz Petróv.

A inimizade entre os parceiros foi interrompida por um trágico acidente. Em fevereiro de 2011, ao dirigir um Skoda Fabia no rally de Ronde di Andora, Kubica voou para fora da pista e bateu na barreira. Ele sofreu múltiplas fraturas, perdeu muito sangue e feriu gravemente o braço direito.

O parceiro e principal rival de Petróv não estava em condições de retomar a carreira na Fórmula 1. Por uma ironia do destino, a abertura da nova temporada de 2011 acabou sendo a mais bem-sucedida para o russo.

 “Tinha se passado um ano. Eu estava mais experiente. Mas não sabíamos a velocidade do carro em relação aos outros”, lembra Petróv.

No início de cada temporada, os pilotos de Fórmula 1 testam seus novos carros, incrementados, e também avaliam o quanto seus oponentes avançaram tecnologicamente. Mas na corrida de abertura de 2011, o Grande Prêmio da Austrália, Petróv não teve oportunidade de comparar a velocidade de seu carro em relação aos outros.

Já durante a qualificação, ficou claro que os engenheiros da Rússia e da Renault haviam aumentado a velocidade. Como resultado, Petróv largou da sexta posição – o recorde de melhor largada da carreira dele.

Mas a principal surpresa o aguardava na linha de chegada: o jovem e pouco experiente russo ultrapassou Fernando Alonso, um dos melhores pilotos da história da Fórmula 1, e deixou o veterano Mark Webber para trás.

Petróv cruzou a linha de chegada em terceiro lugar, atrás de Vettel e Hamilton, conquistando seu primeiro (mas não último) pódio.

Hoje em dia, Petróv não vê um grande significado nesse resultado. Mas, no início de 2011, quando o seu futuro na Fórmula 1 estava se resolvendo, sua entrada no pódio veio como uma lufada de ar fresco para a Renault e rendeu nova vida a Petróv na equipe.

Acidente na Malásia

Em 10 de abril de 2011, a pista na Malásia acabou com o triunfo australiano de Petrov, destruiu seu carro e transformou-o em um meme on-line.

 “Quando entrei à direita, senti um pedaço de borracha sob a roda dianteira esquerda. O acoplamento com as rodas dianteiras caiu e o carro puxar para fora”, explica Petrov.

Saindo da pista, Petróv não freou, pelo contrário, apertou o acelerador para tentar voltar ao circuito o mais rápido possível, mas a tentativa não deu certo: devido à chuva sobre a grama, formou-se lama e a bólide do russo voou no ar como um carro de rali.

O pouso foi tão difícil que o veículo pulou diversas vezes da terra e o volante partiu e ficou nas mãos de Petrov, como um peso morto.

Até a linha de chegada de Petróv faltavam algumas voltas. Ele largou em oitavo, junto com Hamilton, mas a corrida para ele tinha acabado.

Seu voo foi tão épico que virou meme na internet.

Os replays não mostram os pedaços de borracha que Petróv culpou pelo acidente.

Em meio a sua desgraça, o novo companheiro de equipe que havia substituído Kubica na equipe Lotus Renault foi, Nick Heidfeld, que ficou em terceiro lugar no pódio.

Quebra com a Fórmula 1

"Não me lembro em que terminou meu adeus à Fórmula 1. Eu não fiquei deprimido. Tento não pensar sobre isso. Sempre cometo erros, relato-os em um caderninho especial, analiso e discuto com a equipe, mas depois tento esquecer o mais rápido possível”, diz Petróv sobre acidente na Malásia.

Ao que tudo indica, o piloto russo não chegou a uma conclusão unificada com sua equipe. Em uma entrevista que deu o que falar em 2011, Petróv criticou abertamente a Renault por erros táticos, técnicos e nos pit-stop.

"Ainda não posso falar sobre isso, mas também não posso ficar em silêncio. Aconteceu coisa o suficiente, não posso guardar tudo dentro de mim", disse Petróv na época.

Pouco depois, ele se transferiu para a equipe malásia Caterham. Em 2013, nenhuma equipe ofereceu contrato a Petróv, e o primeiro piloto de Fórmula 1 da Rússia pôs fim a sua carreira.

Triste por terminar cedo?

 “Claro, que eu me arrependo. Eu estava no auge da minha jogada”, ele diz hoje.

“A Lotus Renault começou a ganhar corridas com Kimi Raikkonen, e se eu tivesse ficado com Kimi na mesma equipe, teria sido legal. Íamos colocar todos os pingos nos ‘is’”, diz o piloto, que continua sendo um ícone esportivo para muitos russos.

A arquibancada do Autódromo de Sôtchi, que hospeda o Grande Prêmio da Rússia, leva seu nome.

Após sua saída, Petrov passou três anos procurando patrocinadores para retornar à Fórmula 1, até que desistiu. A ex-estrela da Fórmula 1 agora pilota para a equipe russa SMP Racing no automobilismo de resistência.

Mas mesmo ao volante do seu carro novo, ele não consegue esquecer uma sensação: “Dirigir um carro de Fórmula 1. Não dá para explicar isso a ninguém. Ainda mais com palavras”.

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