“Ele simplesmente não ia embora! Agarrou-se ao aquecedor da minha cozinha enquanto sua mulher balançava as pernas, tentando tirar e levá-lo para casa”, conta Evguênia Smolova, algo que ela jamais esquecerá.
Smolova convidou o casal do apartamento acima para uma pequena reunião. Eles comeram e beberam moderadamente – tudo corria bem até que ficou tarde demais... literalmente, tarde demais.
“Eles simplesmente não voltavam para casa”, continua Smolova. “Comecei a lavar a louça, meu marido foi para a cama, mas eles continuaram sentados à mesa. Enfim, a esposa pediu que fossem embora, mas o marido se recusou a ouvir, agarrou-se ao aquecedor com as duas mãos e não o soltava, não importava o que a mulher fizesse!”
Todos na Rússia já tiveram um vizinho que age como se fosse seu melhor amigo. Lembre-se, ele realmente acha que vocês são amigos próximos e ficará muito desapontado e profundamente magoado se você se recusar a deixá-lo fazer uma visita qualquer hora do dia ou noite para longos bate-papos.
Para evitar encontrar esse tipo de vizinho, pare de sorrir e ser amigável, não fale com ninguém e evite encontrar pessoas em seu prédio.
Elas ficam sentados por horas em bancos em frente ao seu prédio, mastigando sementes de girassol e fofocando sobre quem passa. Se acha que elas não têm nada melhor a fazer, você está terrivelmente errado. Uma típica bábuchka que vive ao lado sabe tudo sobre você enquanto fica nas penumbras.
“Minha vizinha, uma mulher idosa, não abria sua caixa de correio até eu entrar no elevador. Ela espera, de frente para as caixas de correio, de costas para mim, e não se mexe. Nem eu. Nós esperamos até que o elevador chegue; Entro no elevador e só então ela pega as chaves e abre a caixa de correio. Ela faz isso para me impedir de saber o número do apartamento dela – não há outra explicação”, diz Dmítri Ivanets, que tem a experiência em primeira mão de viver ao lado de um espião aposentado.
Eles também exigem respeito. “Uma bábuchka vive no apartamento debaixo e bate com uma vassoura se fizermos algum barulho. E não apenas música alta; você pode estar tomando uma xícara de chá e conversando tranquilamente às 19h, e ela começará a bater”, diz o irlandês Sean Walsh, que recentemente se mudou a Moscou.
Para evitar ser alvo de um dossiê detalhado dessas vovós, recomendamos algumas medidas: nunca mencione que você trabalha com tecnologia da informação (os motoristas de ônibus, por exemplo, são um tipo mais bem visto), evite roupas chamativas, case e tenha filhos. Resumindo, constitua família e fique sob o radar.
Esse tipo é tão comum que se tornou meme de internet. Trata-se da imagem coletiva da dor que os russos infligem aos vizinhos: ele prega, martela, fica movendo móveis e discute com a esposa; seus cachorros latem, e seus filhos choram.
“Eu tinha um vizinho particularmente barulhento; nunca parava de fazer reformas no apartamento, mas isso não era nada comparado ao seu ronco. Quando terminava seu martelar diário, ele ia para a cama e começava a roncar alto. Eu não conseguia dormir e tinha que usar tampões de ouvido”, conta Aleksêi Markov, de Moscou.
Para evitar esse tipo de tortura, mude para um apartamento antigo e acabado, onde ninguém tem dinheiro para grandes reformas. Fazer isso, no entanto, irá expô-lo aos aspirantes a bábuchkas da KGB.
“Você já é casada? Isso é tão estranho; você é tão bonita! Quando finalmente vamos celebrar o seu casamento, querida?” Estas são frases típicas que você poderá ouvir de um vizinho do tipo casamenteiro. Eles costumam ser gentis, e você não consegue pensar em uma boa razão para repreender sua conversa fiada sem parecer grosseiro.
“Esse tipo de vizinho é particularmente irritante. ‘Não casou ainda? Já passou da hora – essas palavras são terríveis de se ouvir”, diz a moscovita Larissa Kuznetsova.
Para evitar entrar no radar do casamenteiro, afaste os avanços indesejados com suas próprias perguntas. E não pare de fazer elogios, senão ele vai aproveitar o momento.
“Quando meus vizinhos viajam para a datcha [casa de campo] no fim de semana, seu filho promove raves infernais: ele convida vários amigos que ficam cantando rap em microfones”, diz Olga Popova, também de Moscou.
Surpreendentemente, os festeiros costumam ser adolescentes quietos que, por outro lado, são muito tímidos para reconhecer seus vizinhos. Eles evitam contato visual e resmungam um discreto “oi”. “Quando o vejo no elevador, ele parece ser pura inocência; diz oi e sorri”, continua Popova.
Esse tipo de vizinho reclama de tudo: carros estacionados perto do prédio, cães de ruas, alta nos preços de serviços públicos, jovens em espaços comuns. A maioria dos russos prefere sofrer em silêncio, mas esta raça briga sem hesitação. Lutam avidamente contra injustiças, mas se tornam uma fonte de exaustão para os vizinhos.
“No meu primeiro dia em Moscou, minha vizinha bateu na minha porta. Eu pensei que ela ia me dar boas-vindas e uns biscoitos, mas em vez disso ela apenas disse: ‘Eu não confio em vocês jovens. É melhor eu não ouvir nenhum barulho’, e depois saiu. Nunca mais a vi”, relembra Walsh. É exatamente isso que um justiceiro faria com alguém que acabou de se mudar: emite um aviso sem se prolongar demais.
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