Tragédia em Kemerovo: o que se sabe até agora

Estilo de vida
OLEG EGOROV
Enquanto russos prestam condolências a vítimas de incêndio, circulam nas redes rumores sobre o verdadeiro número de mortes. No entanto, número oficial de vítimas permanece inalterado à medida que a investigação prossegue.

Igor Vostrikov, de Kemerovo (a 3.600 km de Moscou), tornou-se um símbolo da tragédia que acometeu a sua cidade no último domingo (25) – ele perdeu a mulher, três filhos e sua irmã no fogo que se alastrou pelo shopping center local “Zimnyaa Vishnya”. Durante o ocorrido, os familiares de Vostrikov ficaram encurralados atrás das portas fechadas de uma sala de cinema e não tiveram como escapar com vida.

“Eu não tenho nada a perder. Minha vida acabou”, disse Vostrikov. Segundo os dados oficiais, 64 pessoas morreram, incluindo 41 crianças. Agora, Kemerovo e a Rússia toda estão procurando uma maneira de lidar com a dor – e identificar os culpados.

Luto nacional 

Embora tenha sido decretado luto nacional nesta quarta-feira (28), os atos de solidariedade em relação à população de Kemerovo começaram mais cedo em todo o país. Na terça (27), pessoas se reuniram em mais de 30 cidades, de Kaliningrado a Vladivostok, para homenagear as vítimas. Calcula-se que em torno de 12 mil pessoas tenham se unido em silêncio na cerimônia realizada na Praça Púchkin, em Moscou.

“Eu não podia simplesmente ficar em casa e não fazer nada – vi imagens de crianças caindo das janelas do shopping. Foi horrível”, disse um jovem chamado Alexander. 

“É claro que não se pode mudar nada. É claro que ninguém aqui entende um centésimo do sofrimento daqueles que perderam seus filhos. Mas todos nós estamos com medo também. Acho que estou aqui para ajudá-los a carregar esse fardo e ver que não estou sozinha”, disse Iana, professora em São Petersburgo, à imprensa local.

Investigação aponta para negligência

O presidente russo Vladimir Putin chegou a Kemerovo na terça (27) junto com os diretores do Comitê de Investigação (CI) e do Ministério para Situações de Emergência da Rússia. Segundo relatórios preliminares, o incêndio teria sido causado por um curto-circuito. No entanto, na manhã desta quarta-feira (28), a agência de notícias TASS informou que o fogo poderia ter de fato iniciado na área de recreação para crianças, onde havia uma piscina seca cheia de cubos de espuma.

O chefe do CI, Aleksandr Bastrikin, também destacou que o sistema de alarme no shopping center não funcionava desde o último dia 19 de março – e ninguém havia tomado providência a respeito disso. Além do mais, depois que o fogo começou, o guarda responsável, que já foi detido pelos investigadores, não acionou o sistema de alarme. “Não entendemos por que – um homem não qualificado”, disse Bastrikin.

Outro fator que tem intrigado a perícia é o fato de as saídas de emergência terem sido bloqueadas para que as pessoas não escapassem. “O centro comercial foi reconstruído [há anos] com muitas violações, incluindo estruturais”, acrescentou o chefe do CI.

Em conversa com os cidadãos de Kemerovo, Putin garantiu que uma “investigação abrangente” está sendo conduzida e que “todos os culpados serão punidos”.

Ainda nesta quarta, o vice-governador de Kemerovo e o diretor do departamento de política interna da região foram exonerados. 

Brincadeira fora de hora

Enquanto isso, correm na internet boatos de que a quantidade real de mortos é muito maior do que os números oficiais – até 335 corpos estariam sido secretamente mantidos em necrotérios. A informação, porém, foi refutada após vistoria na região.

O veículo de comunicação Village também verificou quantos ingressos foram vendidos para o cinema no shopping (grande parte das vítimas morreu em uma das salas) e confirmou a provável veracidade dos números oficiais.

Mais tarde, soube-se que os rumores teriam se espalhado após um trote feito a um necrotério, no qual o interlocutor pergunta se havia espaço suficiente para 300 corpos. O ucraniano Evguêni Volnov assumiu ter sido o responsável pela ligação, alegando que queria “mostrar aos russos no que eles transformaram seu Estado”.

“O ódio contra os ucranianos [na Rússia] existe e se espalha por causa de aberrações como ele”, escreveu o jornalista ucraniano Anatôli Shary em seu Twitter.

A informação oficial sobre o número de vítimas continua a mesma: 64 mortos, dentre eles 41 crianças. O Ministério para Situações de Emergência informou nesta quarta que todos os corpos foram encontrados, e os primeiros funerais já foram realizados.

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