Desde a semana passada, quando a extravagante celebridade televisiva Ksênia Sobtchák anunciou sua candidatura à presidência em 2018, outras duas mulheres rapidamente seguiram seu exemplo.
“Vamos reunir uma grande quantidade de pessoas que podem não concordar entre si ou comigo, mas que não querem viver sob o sistema atual”, disse Sobtchák quando de sua candidatura.
Sobtchak, que no passado teve contatos com a oposição e apresentou um programa em um canal de TV liberal, o Dojd, é graduanda da prestigiosa academia diplomática russa MGIMO e filha de um ex-prefeito de São Petersburgo, Anatóli Sobtchak, o primeiro mentor político de Putin, que foi seu vice.
Sua candidatura foi seguida pela de outra jornalista, a ex-moradora de Nova York Ekaterina Gordon. Menos conhecida que seu marido, o sarcástico apresentador Aleksandr Gordon, ela é, porém, talentosa: é apresentadora de rádio, diretora de cinema e escreve romances. Sua plataforma política defende os direitos das mulheres e das crianças.
A terceira a chegar foi a – também – apresentadora de TV Anfissa Tchékhova, que escolheu seu nome artístico em homenagem ao escritor russo Antón Tchékhov. Mas, enquanto o escritor buscava a alma russa, o trabalho de Anfissa mais famoso é o programa “Sexo com Anfissa Tchékhova”.
E, enquanto alguns russos louvam a coragem dessas três mulheres, outros acreditam que elas estejam transformando a campanha presidencial em um circo.
“A tentativa de buscar por uma cara feminina para a campanha presidencial está se tornando um casting, um concurso de beleza ou algo parecido com o programa de TV soviético ‘Vem, garota’”, lê-se em um editorial no portal Gazeta.ru.
Algumas análises preveem que a campanha será previsível se Pútin decidir concorrer – o que ele ainda não confirmou. Outras afirmam que a experiência será boa para essas jovens e instigará o debate nacional.
Conseguir tempo gratuito na TV e a chance de falar sobre os problemas do país diante de milhões de pessoas é uma boa oportunidade para qualquer futuro líder político.
O ex-estrategista de campanha Konstantin Kalatchev, porém, acredita que o trio seja uma profanação política.
“Os eleitores verão dessa maneira. Claro, se eles não forem feminazis prontos a votar em qualquer mulher”, diz Kalatchev.
Mas não para por aí. É bem possível que outra mulher também anuncie sua candidatura: a membra sênior do partido que apoiado pelo empresariado Partia Rosta (Partido do Crescimento) Oksana Dmítrieva. Ela declarou à imprensa recentemente que seu partido pode considerar lançar sua candidatura.
Dmítrieva poderá ser uma opção séria. Economista talentosa cujos pontos de vista estão próximos da esquerda democrática, ela já foi ministra do Trabalho em meados da década de 1990.
Histórico feminino
A presidência já foi cotada por mulheres antes na Rússia. No ano 2000, Ella Pamfílova, hoje chefe da Comissão Eleitoral Russa, tornou-se a primeira mulher a concorrer ao cargo no país. Política experiente de tendências liberais, Pamfílova conseguiu apenas 1% dos votos.
Em 2004, seguiu seu exemplo a carismática mestiça de japoneses e russos Irina Khakamada, política experiente de língua afiada e intelecto poderoso. Sua performance foi muito melhor que a de Pamfílova, mas longe da maioria dos votos: Khakamada conquistou quase 4% do eleitorado.
Sociólogos dizem que os humores na Rússia, em geral, não são ainda favoráveis a candidatas mulheres. Uma pesquisa de março de 2017 do Centro Levada revelou que apenas 33% dos russos se dizem prontos a votar em uma candidata mulher.
Mas os humores estão mudando, e de acordo com uma pesquisa mais recente do VTsIOM, 54% dos russos dizem que o gênero do candidato não importa.
O codiretor da agência de “branding” Depot WPF, Aleksêi Andrêiev, diz que uma candidata mulher tem apenas duas estratégias possíveis para tentar arrebatar os corações e mentes do público. A primeira independe do gênero.
“A candidata declara sua prontidão a responder aos desafios externos e satisfazer todos os requerimentos internos. Ela deve prometer fazer isso melhor que os outros candidatos”, diz Andrêiev.
A outra estratégia foi no nicho. “A candidata fala da resolução de problemas femininos, de idosos ou cachorros. Esta missão não cobertura nacional, mas devido à atração social pode recrutar eleitores incipientes.”
Ele acrescenta não acreditar que nenhuma dessas estratégias possa funcionar na Rússia atualmente.
Exemplo?
Talvez as novas candidatas devessem, portanto, olhar para a mulher que alcançou maior nível de poder no país: Catarina, a Grande.
Apesar de não ter sido eleita oficialmente, ela é considerada uma das maiores líderes do país – mesmo tendo nascido como uma princesa alemã de baixa categorização.
Catarina, a Grande conseguiu realizar importantes reformas econômicas e foi patrona das artes e da ciência, criando, além disso, um exército poderoso.
De acordo com uma pesquisa conduzida pelo VTsIOM, Catarina, a Grande é considerada uma das mulheres mais inteligentes da história russa.