Logo após o lançamento do gasoduto “Sila Sibiri” (do russo, “Força da Sibéria”) no final de dezembro de 2019, chefes de Estado da Rússia, Turquia, Sérvia, e Bulgária inauguraram oficialmente o novo gasoduto Turkish Stream, em 8 de janeiro de 2020. O esperado projeto de infraestrutura possibilitará o fornecimento de gás russo diretamente ao sul e sudeste da Europa através do território da Turquia.
Mas a cerimônia de inauguração em Istambul não foi acompanhada pelo início do fornecimento de gás, que ocorreu mais cedo: a Bulgária recebeu o primeiro lote em 1° de janeiro, enquanto a Grécia e a Macedônia do Norte, em 5 de janeiro.
O interesse no Turkish Stream aumentou principalmente devido à possibilidade de aumento do custo de trânsito através da Ucrânia. Além disso, o gasoduto já provocou ameaças de novas sanções por parte dos Estados Unidos.
Caraterísticas técnicas
O gasoduto Turkish Stream tem por principal objetivo principal o transporte de gás ao sudoeste europeu sem passar por território ucraniano, e sua estrutura é, em grande parte, subaquática.
Ele tem mais de 930 quilômetros de extensão e consiste em dois tubos, cada um com capacidade para transportar 15,75 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. O primeiro tubo fornecerá gás para a Turquia, enquanto o segundo conduzirá aos países do sul e sudeste da Europa.
A Bulgária, a Grécia e a Macedônia do Norte já estão ligadas ao sistema de fornecimento, e a Sérvia deverá receber acesso em meados de 2020, enquanto a Hungria e a Eslováquia, em 2021 e 2022, respectivamente.
Segundo Aleksêi Miller, diretor da maior empresa de gás russa, a Gazprom, as reservas de gás russas são suficientes para abastecer os parceiros do Turkish Stream durante, pelo menos, 110 anos.
Melhores preços, menos riscos?
"O fornecimento de gás russo através do Turkish Stream será, sem dúvida, de grande importância não só para a economia turca e para a região do Mar Negro, mas também terá um impacto positivo sobre o desenvolvimento de muitos países do sul da Europa e ajudará a melhorar a segurança energética da Europa", declarou o presidente russo Vladimir Putin na cerimônia de inauguração.
Segundo Anton Bikov, analista do Centro de Análise e Tecnologias Financeiras, a demanda global por gás natural continuará a crescer nas próximas décadas, e o gás dos novos dutos será mais barato para o sul da Europa do que o que passará pelo território da Ucrânia.
"[Os países europeus] receberão combustível mais barato, o que, teoricamente, lhes trará mais competitividade e aumentará sua produtividade econômica, além do lucro com o trânsito", explicou Bikov.
A Bulgária e a Sérvia já calcularam seu lucro com o novo gasoduto. O presidente sérvio Aleksandar Vucic declarou que o país poderá ganhar US$ 185 milhões anualmente apenas graças ao trânsito de gás através de seu território, enquanto a Bulgargaz, maior empresa de distribuição de gás natural da Bulgária, estima que a nova rota lhe permita poupar cerca de US$ 46,5 milhões por ano em custos de trânsito e reduzir o preço para os consumidores em 5%.
Além disso, devido ao Turkish Stream, os parceiros europeus também evitarão riscos de novos "conflitos de gás" entre a Rússia e a Ucrânia, diz o chefe do Departamento Analítico da Escola Superior de Gestão Financeira, Mikhail Kogan.
"Apesar da possibilidade de prolongar seu contrato com a Gazprom sobre o trânsito de gás para a Europa para os próximos cinco anos, Kiev não poderá evitar perdas relacionadas com o lançamento do Turkish Stream”, explicou Kogan.
“Com exceção da Romênia e da Moldávia, a Ucrânia já está perdendo antigos clientes, o que significa US$ 450 milhões de dólares em perdas anuais”, completou.
LEIA TAMBÉM: Da China à Europa, conheça a rota de trem de carga mais longa do mundo