A empresa de energia atômica russa Rosatom declarou que a primeira usina nuclear flutuante, apelidada pelas organizações ambientais internacionais de "Tchernóbil flutuante" ou "Tchernóbil sobre o gelo” está pronta para ser inaugurada.
A usina foi batizada pela empresa como “Akademik Lomonosov” (em português, “Acadêmico Lomonóssov”) e fornecerá energia para a região de Tchukótka, no Extremo Oriente da Rússia. Ali, ela auxiliará na exploração de jazidas em regiões remotas e servirá de publicidade de usinas flutuantes semelhantes para possíveis clientes da Rosatom no exterior.
Quem é cético quanto ao projeto afirma que usinas no mar representam ameaças não apenas de uma nova catástrofe nuclear, mas também afetam o clima mundial ao fornecer energia para as minas de carvão localizadas na região.
Mais de uma década de trabalho
A “Akademik Lomonosov” foi encomendada pela Agência Estatal de Energia Atômica Rosenergoatom no programa de desenvolvimento da Rota Marítima do Norte em 2007.
Neste ano, a usina, passou, finalmente, portodos os testes e, no início de julho, foi entregue à Rosenergoatom, que tem licença estatal para operar o reator até 2029. A agência pretende rebocar a usina para o porto de Pevek, na região de Tchukótka, em agosto. O reator da usina começará a produzir a eletricidade já em dezembro de 2019.
A plataforma de 144 metros de comprimento com dois reatores nucleares KLT-40 pode produzir até 70 megawatts de eletricidade e 50 Gcal/h de energia térmica - o suficiente para 100 mil pessoas.
A região de Tchukótka não é densamente povoada, com apenas 50 mil pessoas, mas a usina também fornecerá energia para empresas petrolíferas de gás que trabalham na região.
Hoje, a “Akademik Lomonosov” é a única usina nuclear flutuante do mundo. Mas a maior petrolífera da Rússia, a Rosatom, já está desenvolvendo a segunda geração de usinas nucleares flutuantes, que serão menores e terão dois reatores nucleares RITM-200W, com capacidade de 50 MW cada. Segundo a Rosatom, as usinas poderão ser vendidas ao Oriente Médio, Norte da África e Sudeste Asiático.
Nova Tchernóbil?
Os críticos do porjeto afirmam que a usina flutuante em si já é uma má ideia: ela é vulnerável a tsunamis e terroristas, e armazenará lixo radioativo e combustível - o que é muito perigoso, por exemplo, no caso de uma colisão com outro navio. Segundo o Greenpeace, é mais barato investir no desenvolvimento de energia renovável, principalmente eólica, que manter uma usina flutuante.
Outros especialistas afirmam que o reator nuclear flutuante não é tão perigoso, já que reatores semelhantes estão em submarinos há décadas e a ideia em si não é nova: um navio de guerra atômico dos Estados Unidos da época da Segunda Guerra Mundial era conectado à rede de eletricidade do Panamá e fornecia energia para uso civil e militar até 1976.
Segundo declaração do ex-chefe da Comissão Reguladora Nuclear do presidente dos EUA George W. Bush, Dale Klein, ao portal online de notícias “The Verge”, é incorreto comparar as usinas flutuantes a Tchernóbil. “Isto é só para fazer as pessoas pensarem em algum tipo de acidente. [A comparação] não tem base científica, o objetivo das declarações é apenas assustar as pessoas”, disse.
Os engenheiros russos responsáveis pelo projeto também afirmam que tal comparação é injustificável, acrescentando que a usina foi construída para resistir a um impacto equiparável a nove tsunamis simultâneos.
"Essas alegações são infundadas, os reatores operam de forma diversa", disse o engenheiro-chefe de proteção ambiental da usina flutuante, Vladímir Iriminku, à rede de TV norte-americana CNN. "É claro que o que ocorreu em Tchernóbil não deve acontecer novamente. A usina estará nas águas do Ártico e vai esfriar constantemente, não faltará água fria ali", disse.
Solução para regiões remotas
Quanto à sugestão de investimento em energia eólica, os especialistas russos dizem que ela tem suas desvantagens. "Os geradores de energia eólica são eficazes para alimentar casas particulares, mas não podem fornecer eletricidade para toda a região em escala industrial", afirma o analista-chefe da corretora TeleTrade, Piotr Puchkariov.
“Os especialistas europeus estão discutindo o aspecto ambiental dos geradores de energia eólica: suas vibrações afetam a flora e a fauna locais, prejudicando o ecossistema. Isso poderia ser ainda mais perceptível no Ártico. Além disso, a instalação dos geradores é mais cara e mais difícil no Ártico”, disse Puchkariov.
“A principal vantagem da nova usina flutuante é sua mobilidade e capacidade de funcionamento por 15 anos sem intervalos. Além disso, não haverá resíduos radioativos, após sua exploração”, diz o especialista do Centro Internacional Financeiro, Gaidar Gassanov.
“A usina instalada em um mar frio tem menos riscos do que qualquer usina em terra firme. Ondas, correntes de água e até tsunamis oceânicos não podem gerar problemas ao bloco”, diz Puchkariov.
Segundo ele, a ameaça de qualquer tipo de destruição é minimizada, justamente o contrário do que acontece se, por exemplo, um reator enfrenta um terremoto em terra.
“Isso não acontecerá no oceano se a 'Lomonosov' for projetada corretamente. Não é coincidência que a frota russa de quebra-gelos nucleares funcione sem falhas no Ártico desde os tempos soviéticos. Na verdade, o ‘Akademik Lomonossov’ é um barco que não pode ser afundado, com o mesmo ‘coração’ atômico que têm os quebra-gelos nucleares”, completou.
LEIA TAMBÉM: Instituto Kurtchátov, o berço da energia nuclear russa
Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: