Foi Ivan Chíchkin quem pintou “Manhã em uma floresta de pinheiros”?

Cultura
ANNA POPOVA
Ao olhar de perto, além da de Chíchkin, percebe-se outra assinatura na pintura: K. Savítski. Então, quem é o autor desta obra-prima?

Ivan Chíchkin e Konstantin Savítski eram amigos — e ambos eram membros da Sociedade de Exposições Itinerantes de Obras de Artistas Russos, mais conhecida como os Itinerantes. Os dois também se ajudavam: segundo as lembranças da segunda esposa de Savítski, Valeria Dumoulin, seu marido “sempre pintava figuras” nas pinturas de Chíchkin, por exemplo, as carruagens puxadas por cavalos em “Chuva na floresta de carvalhos”.

Os dois companheiros compartilharam não apenas sucessos, mas também tristezas. Konstantin era padrinho de um dos filhos do amigo. Quando a criança de três anos morreu, os dois desabaram. Com o tempo, cuidaram um do outro ao perderam entes queridos — em 1874, a primeira esposa de Chíchkin morreu de tuberculose; um ano depois, foi a vez da primeira esposa de Savítski, Ekaterina Vasilievna, que se suicidou.

Os dois também compartilharam ideias criativas. Dumoulin lembrou como nasceu a ideia de trabalharem juntos no quadro “Manhã em uma floresta de pinheiros”. Savítski estava trabalhando em “Partindo para a guerra” quando uma nova ideia lhe veio à cabeça. Durante a noite, ele fez o desenho “Ursos na Floresta”. Chíchkin, ao ver o esboço, ficou encantado e Savítski propôs continuarem trabalhando juntos nele: “Você conhece a floresta melhor do que eu”. E assim foi. Chíchkin pintou uma floresta de pinheiros ao amanhecer, e o amigo pintou os ursos subindo em uma árvore caída.

“Matamos o urso e dividimos a pele!”

“Certa vez concebi uma pintura com ursos na floresta, eu me apaixonei por ela. Chíchkin ficou encarregado de fazer a paisagem. A pintura foi um sucesso e apareceu um comprador, Tretiakov. Assim matamos o urso e partilhamos a pele. Mas a partilha ocorreu com alguns incidentes curiosos.” Foi assim que Savítski descreveu a situação da pintura aos seus parentes.

A pintura foi apresentada ao público na 17ª exposição dos Itinerantes. O famoso colecionador Pável Tretiakov ofereceu-lhe uma quantia bastante elevada — 4.000 rublos, dos quais Savítski recebeu apenas um quarto.

Nos catálogos, apenas Chíchkin foi listado como autor da pintura. Existem diferentes explicações para este fato. Talvez tenha havido um mal-entendido entre os artistas e Savítski apagou seu sobrenome. Também é possível que, inicialmente, ambos os autores tenham assinado a pintura e que o sobrenome de Savítski tenha sido pessoalmente “apagado” por Tretiakov.

O mecenas mantinha uma relação difícil com o artista por causa de sua pintura “Chegada de um ícone”. Após comprá-la, Tretiakov começou a notar que a camada de tinta estava rachando. Savítski prometeu ao fundador da galeria corrigir o defeito, mas decidiu fazê-lo em sua ausência. Além disso, escolheu o tom errado de tinta, o que fez com que as nuvens parecessem muito rosadas e berrantes contra o fundo cinza frio. Tretiakov ordenou que a cor original fosse devolvida imediatamente, ainda que apresentasse rachaduras. Dizem que a pintura recuperou a aparência inicial, porém o incidente teria deixado um gosto amargo na boca de Tretiakov.

Portanto, segundo uma versão, ao ver o sobrenome de Savítski na tela “Manhã em uma floresta de pinheiros”, o colecionador, que não tolerava mudanças nas pinturas comprados, apagou a sua assinatura.

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