Os 20 maiores filmes do estúdio Lenfilm, que completa 110 anos nesta terça (5)

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Em mais de um século de existência, estúdio lançou mais de 1.500 longas-metragens, incluindo filmes icônicos como ‘As Aventuras de Sherlock Holmes e Dr. Watson’, ‘O Sol Branco do Deserto’ e ‘Coração de Cão’.

Esta terça-feira (5) marca o 110º aniversário do Lenfilm, o estúdio cinematográfico mais antigo da Rússia.

Em 1914, o Comitê Skobelev de caridade, sob o comando do Estado-Maior, estabeleceu um departamento cinematográfico em São Petersburgo, que detinha o monopólio dos documentários da Primeira Guerra Mundial. Com base nele, foi inaugurado o ‘Comitê de Cinema de Petrogrado’, hoje conhecido como 'Lenfilm' (nome dado em 1934).

Por mais de um século de existência, o estúdio produziu diversos filmes icônicos como ‘As Aventuras de Sherlock Holmes e Dr. Watson’, ‘O Sol Branco do Deserto’ e ‘Coração de Cão’.

1. ‘A Tomada do Palácio de Inverno’(dir. Konstantin Derjávin, 1920)

Este filme foi feito para o aniversário da Revolução de Outubro de 1917 e contou com uma produção teatral de ‘A Tomada do Palácio de Inverno’, encenada pelo diretor Nikolai Evreinov. Imagens do filme eram exibidas com tanta frequência que começaram a ser percebidas como um documentário.

2. ‘Tchapáiev’ (dir. Gueórgui & Serguêi Vassiliev, 1934)

Este filme agora cult sobre a Guerra Civil ganhou o prêmio principal no Primeiro Festival de Cinema de Moscou, em 1935. Os protagonistas são o comandante do Exército Vermelho, Vassíli Tchapáiev, seu capataz Petka e Anka, a metralhadora. Todos se tornaram heróis populares e centenas de anedotas foram escritas sobre eles. Este era também um dos filmes favoritos de Stálin — ao qual, segundo rumores, ele teria assistido umas 30 vezes.

3. ‘Cinderela’ (dir. Nadejda Kochevérova, Mikhail Chapiro, 1947)

O roteiro deste filme de conto de fadas foi escrito pelo famoso dramaturgo Evguêni Chvarts, que lançou nova luz sobre a boa e velha história de Charles Perrault sobre uma garota que perde um dos sapatos no baile real. O povo soviético se identificou com a história de uma jovem trabalhadora e oprimida por sua madrasta (interpretada por Faina Ranévskaia). Naquela época, o país devastado pela guerra precisava de um conto de fadas – com final feliz.

4. ‘A Viagem dos Felinos’ (dir. Vladímir Fetin, 1961)

Esta comédia excêntrica se tornou um sucesso de bilheteria em 1961, atingindo 45,8 milhões de espectadores no ano de lançamento. Segundo a trama, um cozinheiro chamado Chuleikin consegue um emprego a bordo de um navio soviético que irá partir do porto de um país exótico fictício. Uma dúzia de tigres e leões também estão a bordo, caçados ilegalmente para serem entregues a zoológicos na URSS. Para voltar para casa, ele finge ser um domador de animais selvagens, que de repente surgem fora de suas jaulas...

5. ‘O Homem Anfíbio’ (dir. Vladímir Tchebotarev e Guennádi Kazánski, 1961)

A adaptação para o cinema do romance fantástico de Aleksandr Beliáev tornou-se um sucesso de bilheteria soviético em 1962 (com 65 milhões de espectadores) e lembra o filme vencedor do Oscar de 2018 ‘A Forma da Água’. Um jovem, interpretado pelo carismático Vladímir Korenev, foi transplantado com guelras de um tubarão. Ele vive na água e faz amizade com golfinhos. No entanto, um dia, ele se apaixona por uma garota que estava se afogando. A partir de então, ele quer se tornar um ser humano para ficar com ela. O problema, porém, é que ele não consegue viver fora d’água por muito tempo.

6. ‘Hamlet’ (dir. Grigóri Kozintsev, 1964)

A tragédia de Shakespeare sempre fascinou cineastas de todo o mundo e os russos não são exceção. O papel de Hamlet foi interpretado por Innokénti Smoktunôvski, considerado um dos atores soviéticos de maior destaque e que era chamado de o primeiro ator intelectual do cinema soviético. Sua atuação como príncipe da Dinamarca é vista como grandiosa ainda hoje. O filme recebeu diversas indicações em importantes premiações internacionais e garantiu o prêmio máximo no Festival de Cinema de Veneza.

7. ‘O Sol Branco do Deserto’ (dir. Vladímir Motil, 1969)

Sul da Rússia, Mar Cáspio. A Guerra Civil acaba de terminar. O soldado do Exército Vermelho Fiódor Sukhov está caminhando para casa pelo deserto, em direção à esposa amada. De repente, ele se depara com alguns bandidos...

Este é considerado o primeiro “eastern” soviético. Inicialmente, as autoridades se recusaram a lançá-lo nos cinemas, exigindo que fosse refeito ou que certas cenas fossem cortadas. Mas acredita-se que o líder soviético Leonid Brejnev, um grande fã do gênero, deu permissão para o lançamento.

8. ‘Provação nas Estradas’ (dir. Aleksêi Guerman, 1971)

Aleksêi Guerman era um representante da escola de diretores de Leningrado formada no estúdio ‘Lenfilm’. Eles rejeitavam o realismo socialista e lutavam por máxima autenticidade. Era frequente que retratassem o tema da Segunda Guerra Mundial, repensando seu significado e a tragédia em si. Os experimentos de Guerman foram longe: neste filme ele retrata um ex-colaborador que se rende voluntariamente aos guerrilheiros. Na época, a censura proibiu a distribuição do longa, e Guerman foi acusado de distorcer a imagem heróica do povo soviético. Somente em 1986 que ‘Provação nas Estradas’ enfim chegou ao grande público.

9. ‘Os pica-paus não têm dor de cabeça’ (em tradução livre; dir. Dinara Assánova, 1974)

Um estudante soviético apelidado de ‘Fly’ sonha em tocar bateria em uma banda de jazz. Mas, até o momento, ele é um adolescente fraco e triste, que sofre muito bullying. Até mesmo seu irmão mais velho, um jogador de basquete, muitas vezes não dá moleza. Paralelamente, Fly se apaixona por sua colega de classe Ira (que só o vê como amigo) e parece que esse pesadelo adolescente jamais terá fim. O longa-metragem de estreia da diretora Dinara Assánova é uma das primeiras tentativas soviéticas de compreender o tema da “adolescência”, a psicologia complexa das crianças em crescimento. É também um filme bastante atmosférico sobre o primeiro amor.

10. ‘Vinte Dias Sem Guerra’ (dir. Aleksêi Guerman, 1977)

Outro filme comovente de Guerman sobre a Segunda Guerra Mundial. Um correspondente de guerra sai em missão editorial na retaguarda para dar consultoria em um filme baseado sobre seus ensaios. Lá ele se apaixona e, durante 20 dias, esquece de tudo, até da guerra. O roteiro foi escrito por Konstantin Símonov, correspondente de guerra, escritor e poeta da vida real (autor do icônico poema “Espere por mim e eu voltarei”).

11. ‘A Voz Solitária do Homem’ (dir. Aleksandr Sokurov, 1987)

Após regressar da Guerra Civil, um soldado do Exército Vermelho não consegue fugir dos horrores do conflito e regressar à vida normal. Ele se apaixona pela estudante Liuba e põe todas as suas energias para cuidar dela. Este drama psicológico (e o primeiro trabalho completo de Aleksandr Sokurov) também foi arquivado por bastante tempo, sendo lançado em 1987.

12. ‘As Aventuras de Sherlock Holmes e Dr. Watson’ (dir. Ígor Maslennikov, 1979-1986)

Este seriado soviético sobre o mais famoso detetive literário fez tanto sucesso que o ator Vassíli Livanov (que encarna Sherlock Holmes) foi até premiado com a Ordem do Império Britânico. As cidades soviéticas de Leningrado, Tallinn e Riga serviram de cenário “londrino”, enquanto o apartamento na Baker Street foi criado em um dos pavilhões do estúdio Lenfilm.

13. ‘Três homens e uma canoa: sem esquecer o cachorro’ (dir. Naum Birman, 1979)

O público soviético teve uma imagem um tanto caricaturada dos cavalheiros vitorianos nesta leve comédia musical baseada no romance de Jerome K. Jerome: um pouco estranhos, bem-humorados e românticos, vestindo trajes de banho listrados e chapéus engraçados. Um dos papéis principais foi interpretado pelo ator cult e símbolo sexual da geração, Andrei Mironov.

14. ‘A loira virando a esquina’ (em tradução livre, dir. Vladímir Bortko, 1984)

Nadezhda é uma verdadeira empreendedora. Ela sabe onde conseguir coisas em falta, é bem relacionada e meio VIP — já que trabalha em uma mercearia, o que, na URSS, era quase como ser chefe de fábrica.

Apaixonada por um astrofísico sonhador, Nadezhda tenta transformá-lo, mas ele só consegue pensar em civilizações extraterrestres. Esta é uma das últimas comédias soviéticas e sucesso de bilheteria na época.

15. ‘Meu Amigo Ivan Lapshin’ (dir. Aleksêi Guerman, 1984)

Um dos filmes mais importantes sobre a perestroika foi baseado no romance do pai de Guerman. No filme, o diretor procurou transmitir a atmosfera da década de 1930 e apresentar um retrato agreste do cotidiano daquela época.

A trama acompanha o chefe da polícia criminal de uma pequena cidade, que mora em um apertado apartamento comunitário, pega uma gangue, se apaixona sem ser correspondido por uma atriz e se vê preso em um triângulo amoroso com um velho amigo.

16. ‘Cereja de Inverno’ (em tradução livre, dir. Ígor Maslennikov, 1985)

Este melodrama realista sobre o amor não realizado e a solidão foi tão apreciado pelo público soviético que o diretor Ígor Maslennikov, autor da série de TV ‘Sherlock Holmes’ (mencionada acima), fez mais duas sequências e chegou a anunciar uma quarta, mas o projeto foi congelado. Este foi um dos primeiros filmes da perestroika soviética a conter uma cena erótica.

17. ‘Coração de Cão’ (dir. Vladímir Bortko, 1988)

O romance homônimo de Mikhail Bulgákov foi banido por muito tempo na URSS por ser demasiadamente satírico à ordem social soviética. Mas, durante a perestroika, foi enfim publicado e teve um efeito tão ensurdecedor junto ao público que logo foi adaptado para as telonas. Estrelado por Evguêni Ievstigneev, este filme cult é uma fonte inesgotável de memes e bordões.

18. ‘Peculiaridades da Caça Nacional’ (dir. Aleksandr Rogôjkin, 1995)

Um jovem finlandês convence o seu amigo russo a levá-lo em uma verdadeira caçada russa. Sem pensar muito, ele leva o estrangeiro até um grupo de caçadores. Mas para surpresa do finlandês, os russos começam a beber muito e, ao que parece, até se esqueceram da caça...Esta comédia hilária levou o ator finlandês Ville Haapasalo a se tornar um astro na Rússia após o seu lançamento. De tão popular, este filme acabou rendendo várias sequências.

19. ‘Moloch’ (dir. Aleksandr Sokurov, 1999)

Interessado em desvendar a natureza do poder, Sokurov dedicou cinco filmes ao tema. ‘Moloch’, o primeiro desta série, mostra um dia na vida privada de Adolf Hitler. O Führer está de férias com Eva Braun em sua casa de campo nos Alpes, onde é visitado por Joseph Goebbels, com sua esposa Magda, e Martin Bormann. Coproduzido com França, Alemanha, Itália e Japão, este filme foi rodado na Alemanha e ganhou vários prêmios internacionais.

20. ‘É Difícil Ser Um Deus’ (dir. Aleksêi Guerman, 2013)

Guerman pensou em fazer uma adaptação cinematográfica do romance de ficção científica dos irmãos Strugatsky (de 1963) ainda no final dos anos 1960, mas só conseguiu concretizar sua ideia no início dos anos 2000. Este longa se tornou o seu último trabalho. Seu filho, o diretor Aleksêi Guerman Jr., teve que concluir a produção e a estreia foi realizada após a morte do pai. A ação se passa em outro planeta, em um futuro distante, mas a ordem social dos humanoides lembra mais a Idade Média terrestre. Um grupo de cientistas da Terra observa os monges de uma Ordem tomarem o poder.

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