O estilo Império de Stálin na arquitetura russa

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
O ditador soviético pôs fim à influência construtivista e art déco e criou um novo estilo que absorveu todos os elementos mais pomposos da história da arquitetura. Projetados para inspirar admiração nos cidadãos diante da grandeza do país, os edifícios desse gênero dominam o centro de Moscou e de muitas outras cidades russas até hoje.

Durante o governo de Ióssif Stálin, as primeiras experiências soviéticas em arquitetura, pautadas pelo construtivismo e art déco, foram substituídas pelo neoclassicismo estrito. Depois da Segunda Guerra Mundial, na segunda metade da década de 1940, esse estilo evoluiu para o hiper monumentalismo, conhecido hoje em dia como “Império de Stálin”. O país que derrotou o nazismo estava repensando as regras arquitetônicas clássicas e glorificava o passado não apenas na arquitetura, mas também no design de interiores, no mobiliário e na decoração. O novo estilo deveria demonstrar a grandeza e o poder do país.

Nos tempos soviéticos, essa tendência era chamada simplesmente de "arquitetura soviética", e só mais tarde recebeu o nome de "arquitetura stalinista". Por muito tempo, o termo "Império de Stálin" foi usado apenas entre especialistas em arquitetura, tornando-se oficial apenas quando o historiador de arte Selim Khan-Magomedov o adotou em seus trabalhos.

O Império de Stálin absorveu elementos de muitos estilos arquitetônicos. Tem características renascentistas e do classicismo com colunas infinitas, pórticos, esculturas e simetria perfeita. Espirais e excessos do Rococó e Barroco, além de numerosos detalhes em bronze do Império. A influência dos arranha-céus Art Déco americanos também é evidente. Os elementos decorativos mais frequentes são o brasão da URSS e a estrela de cinco pontas.

Inspirador ideológico da maioria dos edifícios neste estilo, Stálin teria, inclusive, aprovado pessoalmente quase todos os projetos das construções. Lev Rudnev, Arkádi Mordvinov, Modest Chepilévski, Vladímir Schuko foram alguns dos principais arquitetos que seguiram esta linha.

Todos os edifícios do parque chamado Exposição dos Êxitos da Economia Nacional (VDNKh, na sigla em russo) foram construídos no estilo Império de Stálin. Nesse parque temático, cada república soviética tinha o seu próprio pavilhão, que combinava motivos nacionais com a arquitetura stalinista, além de enormes fontes. Um exemplo é a Fonte "Amizade dos Povos". Remetendo às fontes da residência dos imperadores russo em Peterhof, ela reúne 16 esculturas de jovens mulheres vestidas com os trajes nacionais das diferentes repúblicas soviéticas e é considerada o principal símbolo do VDNKh.

As entradas para o Parque Górki, um dos principais da capital russa, também foram construídas no estilo Império de Stálin.

O edifício da Estação Fluvial Norte é outro monumento do mesmo gênero. Ele tem um significado simbólico especial, pois foi construído para a abertura do Canal Moscou-Volga, um dos mais importantes projetos stalinistas.

Os sete arranha-céus de Moscou, conhecidos em português como "Sete Irmãs", se tornaram os principais símbolos do estilo Império de Stálin. Cada projeto foi aprovado pessoalmente pelo ditador.

Essas construções monumentais compostas por torres se tornaram verdadeiros monumentos da época, após o governo ter gasto milhões de rublos para a sua construção e decoração.

Nestes projetos, os arquitetos soviéticos usaram detalhes de decoração do estilo do Império da Europa Ocidental, que tinha raízes na França napoleônica. Eles tentaram evitar uma decoração excessivamente barroca, mas, ainda assim, ouro, molduras, esculturas em madeira e baixos-relevos podiam ser encontrados tanto fora como dentro das "Sete Irmãs".

Além dos arranha-céus, todo o centro de Moscou foi reconstruído com edifícios residenciais chamados “stálinka”, onde viviam os altos funcionários públicos soviéticos. Suas fachadas também foram decoradas com colunas, janelas salientes e cornijas moldadas. O edifício residencial construído na segunda metade da década de 1940 para funcionários do Ministério de Segurança do Estado da URSS, por exemplo, foi reconhecido como uma obra-prima do estilo do Império de Stálin. O arquiteto Evguêni Ríbitski, inclusive, recebeu o Prêmio Stálin por esse projeto.

Dois edifícios semicirculares na Praça Gagarin, construídos em 1950, se tornaram a entrada principal para o centro da capital russa.

Muitas estações de metrô de Moscou, hoje chamadas de palácios subterrâneos, foram construídas nesse estilo. Suas características distintivas são colunas, baixos-relevos, mosaicos e enormes lustres ornamentados.

O estilo do Império de Stálin se espalhou para além de Moscou, que era considerada sua principal vitrine. Edifícios residenciais “stálinka” foram construídos em muitas cidades e centros regionais.

Em Stalingrado (atual Volgogrado), a cidade da glória militar, onde as tropas soviéticas alcançaram uma das vitórias mais importantes da Segunda Guerra Mundial, no centro da cidade, a Praça dos Combatentes Caídos e os edifícios ao seu redor foram construídos inteiramente no Império de Stálin: um hotel, um correio, um teatro e um edifício de estação ferroviária.

O ditador preferiu esse estilo até mesmo para sua residência. Os interiores de seus escritórios e datchas (casas de campo) têm todas as características desse gênero pomposo: cortinas de veludo com franjas, mosaicos de madeira e lâmpadas grandes.

O estilo dos “vencedores”, porém, existiu só até meados da década de 1950 e desapareceu quase imediatamente após a morte do ditador. Em 1955, foi emitido o decreto "Sobre a eliminação de excessos nos projetos da construção", que acabou com a arquitetura nesse modelo. O governo começou a criticar os “excessos” arquitetônicos e proclamou a nova moda arquitetônica: simplicidade e severidade. Assim, o classicismo monumental foi substituído pelos edifícios com um mínimo de decoração. Esses prédios massivos e padronizados feitos de painéis de concreto receberam o nome "panelka" em russo.

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